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Cerca de 50 mil pessoas foram à Avenida do Samba em Antonina para assistir com os próprios olhos os machões vestidos de mulher | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Cerca de 50 mil pessoas foram à Avenida do Samba em Antonina para assistir com os próprios olhos os machões vestidos de mulher| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Antonina - O assalto aos guarda-roupas femininos foi generalizado na noite de segunda-feira em Antonina, onde a maioria dos homens presentes na festa de carnaval estava vestida de donzela. Tudo para entrar no clima do Concurso das Escandalosas – tradicional competição que elege os marmanjos mais bem vestidos de mulher.

A bagunça imperava na Avenida do Samba, que reuniu um público de 50 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Para qualquer canto que se olhasse, era possível ver os mais insanos blocos de foliões, a exemplo de um grupo de gaiatos que passeava com um varal repleto de calcinhas, sutiãs e shortinhos.

"Aqui é assim mesmo", dizia a auxiliar administrativa antoninense Eleise Sales, 30 anos. "Meu marido, meu irmão e meu sobrinho estão todos com as minhas roupas. E ainda tive que fazer a maquiagem deles", contava Eleise.

Ao som de "I Will Survive", a competição das Escandalosas começou às 22h50, com a chegada da drag queen Linda Power, mestre de cerimônias do evento. A partir daí, cada um dos 50 marmanjos inscritos no certame foi subindo em uma passarela e desfilando seus modelitos para o público e os jurados do concurso.

A massa se partia de rir com as performances insinuantes daqueles seres barbados, transformados em noivas, tigresas e madonas. No fim, quem levou o troféu de campeão foi um grupo de quatro fadas. Ou melhor, Safadas, como eles se autoproclamaram, trajados com asinhas, chapéus e cajados de condão. "A gente saiu de fada pela primeira vez no concurso do ano passado, mas foi tudo de improviso. Nesse ano decidimos caprichar, fazendo uma produção maior", explicou o professor de Matemática antoninense Wladmir Miller, 24 anos, que estava vestido de fadinha amarela.

Segundo Linda Power, o apuro nas fantasias, a coreografia e o bom-humor das Safadas foi decisivo para que elas ficassem à frente de BionC – rapaz que se inspirou na cantora Beyoncé e que usou da artimanha de simular tropeços no palco, garantindo o segundo lugar – e de Silvana – sujeito vestido de dançarina francesa, que ficou com o terceiro lugar. "A competição na verdade é o de menos. Isso aqui é só diversão", dizia Linda. "Heteros, homossexuais ou travestis: nessa noite somos todos iguais na avenida."

Após o concurso, a banda Coração Brasil logo emendou uma porção de hits – de marchinhas como a "Cabeleira do Zezé" a hinos do axé como "Sorte Grande", de Ivete Sangalo – iniciando um baile público que só terminou por volta das 4 horas.

Tradição

O hábito de pular carnaval vestido de mulher é uma das mais antigas tradições no carnaval antoninense, segundo Rosana Ardigo, integrante da organização do carnaval de Antonina. Porém, ninguém sabe ao certo quando isso começou. "O que sabemos é que pelo menos desde o início do século 20 essa brincadeira já era comum por aqui, o que se tem comprovado por fotos da época", diz Rosana, envolvida há 20 anos com o carnaval local.

Vestidos como duas irmãs na noite de segunda-feira, os irmãos antoninenses Alex, 35 anos, e Jorleidan Veiga, 38, confirmaram como o uso de trajes femininos no carnaval vem de gerações passadas. "Nossos pais e avós já se vestiam de mulher, coisa que naturalmente acabamos incorporando", dizia Alex, que atua como funcionário público em Curitiba. "É uma tradição brincar o carnaval dessa forma. Tanto que ninguém fala mal do outro", diz Jorleidan, que trabalha como vigilante em Antonina. "Todo mundo sabe que homem que é homem põe qualquer roupa e continua sendo homem", completa ele. "Apesar de que alguns, com roupa de mulher, acabam se descobrindo", provocava Alex, às gargalhadas.

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