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Agentes da Secretaria Estadual de Saúde coletaram ontem amostras de animais em Matinhos | Marco André Lima/Gazeta do Povo
Agentes da Secretaria Estadual de Saúde coletaram ontem amostras de animais em Matinhos| Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo

Precaução

Bombeiros interditam dois pontos

A grande incidência de acidentes com águas-vivas fez o Corpo de Bombeiros sinalizar ontem como interditado, com dupla bandeira vermelha, mais um ponto do Litoral do Paraná: a região da divisa do balneário Flamingo, em Matinhos, onde apenas ontem de manhã 48 pessoas precisaram receber atendimento. A área deve permanecer interditada até que o número de casos diminua na região. No domingo, a praia central de Guaratuba também recebeu a dupla bandeira.

O maior número de casos foi registrado na cidade de Matinhos. Desde o início da temporada, foram 4.641 ocorrências envolvendo águas-vivas. Em segundo lugar aparece a cidade de Guaratuba, que registrou 1.585 banhistas atingidos.

  • As águas-vivas são animais marinhos com aspecto gelatinoso.Veja

A grande incidência de acidentes com águas-vivas no Litoral do Paraná vem surpreendendo os banhistas e as autoridades de saúde do estado, que iniciaram um trabalho de coleta e análise dos animais para tentar identificar as causas da concentração dessa espécie na costa paranaense. Em apenas cinco dias, da última sexta-feira até o fim da tarde de ontem, 5.714 casos foram registrados. O número representa 73% do total de ocorrências nesta temporada de verão: desde 16 de dezembro de 2011, foram 7.784 acidentes com águas-vivas em todo o litoral.

Na segunda-feira, uma equipe da Secretaria de Saúde do Paraná recolheu águas-vivas em alguns pontos com maior número de casos em Guaratuba e, na manhã de ontem, o mesmo procedimento foi repetido em Matinhos.

De acordo com o biólogo Emanuel Marques da Silva, da Divisão de Zoonoses da Secretaria de Estado da Saúde, ainda não é possível definir as causas deste fenômeno, já que está é a primeira vez que ocorre uma incidência tão grande de acidentes com águas-vivas no Litoral do Paraná. "Por enquanto, não temos notícia de que esta situação esteja ocorrendo também no litoral de outros estados", afirmou o biólogo.

Possíveis causas

O contato com os banhistas ocorre, segundo a bióloga e professora da Faculdade Facinter Tânia Zaleski, como uma forma de defesa do animal. A sensação de queimadura, que na realidade consiste em um envenenamento, é provocada por uma substância utilizada pelo animal para imobilizar suas presas durante a captura ou para se defender dos predadores.

A grande incidência das águas-vivas na costa paranaense pode ocorrer por diversos fatores. Uma das causas listadas pela bióloga é a pesca por redes de arrasto, que movimentam grandes quantidades de espécies marinhas. "Com a rede, os animais que estão nas áreas mais profundas, como é o caso das águas-vivas, são levados para a superfície", explica. Outro problema seria a poluição das águas do Litoral do Paraná, que pode estar matando os predadores da água-viva, como é o caso das tartarugas. "Elas podem engolir objetos e morrer por causa disso. Esse seria um quadro de desequilíbrio ambiental", analisa.

Mas não é apenas a ação do homem que pode causar o aumento de casos. O movimento das correntes marítimas também levaria os animais para perto dos banhistas, bem como a ausência, neste ano, do fenômeno climático La Niña, que causa o resfriamento da água dos oceanos e influencia também o litoral brasileiro. "As águas-vivas se proliferam em regiões mais quentes", afirma Tânia.

Na opinião do zoólogo Vidal Haddad, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), a incidência, apesar de vários fatores, ocorre o ano todo em vários lugares do Brasil e do mundo. "Na verdade é uma situação que ocorre todos os anos nas praias. Talvez a atenção ao casos, nesta temporada, esteja maior do que nos anos anteriores", avalia.

Segundo o especialista, apesar de ser uma época de reprodução dos animais e de a temperatura da água estar mais alta, o aumento do número de casos ocorre também porque existem mais pessoas na praia durante a temporada de verão. "Os casos geralmente são leves ou moderados. Não há motivos para a população ficar alarmada, mas é bom tomar cuidado e ficar atento à situação das praias", alerta.

Banho de mar exige atenção e cuidados

Embora os ferimentos provocados por águas-vivas no Litoral do Paraná tenham sido considerados leves e moderados, os banhistas devem tomar alguns cuidados para evitar o contato com esses animais. A bióloga Tânia Zaleski recomenda que os turistas não entrem na água depois de chuvas fortes, pois a movimentação do mar traz esses animais para a orla. Quando atingido, o banhista deve tomar cuidado para não tocar no local atingido. "Se ainda houver tentáculos de água-viva no corpo, é recomendável retirá-los usando luvas ou pinças", recomenda.

Sobre a região afetada, lembra a especialista, somente de­­vem ser colocados água do mar e vinagre, para aliviar a sensação de ardência. Se os sintomas forem mais graves, a orientação é procurar atendimento médico.

As reações causadas pelo contato com as águas-vivas variam de acordo com a espécie do animal e podem ser mais graves em idosos, crianças e pessoas que apresentem histórico de alergias, afirma a médica infectologista Lúcia Eneida Ro­­dri­­gues, do Hospital Regional de Paranaguá. "Quando o contato com o animal ocorre no rosto e pescoço, o sin­­toma de asfixia é mais co­­mum", diz a médica. Além da sensação de queimação por causa do envenenamento provocado pela toxina liberada pelo animal, a vítima pode ter falta de ar, cãibras, mal-estar, arritmias cardíacas e vômito.

Com o alto número de casos, os banhistas também redobraram a atenção e os cuidados quando ocorre contato com águas-vivas. A veranista de Goioerê Renata Marques Chia­­rello, 46 anos, estava na Praia Brava de Matinhos com um grupo de 15 amigos. Além dela, que foi queimada na perna, outros quatro adolescentes do grupo foram atingidos pelos animais em menos de cinco minutos. Renata e os amigos, que já tinham conhecimento de outros casos, passaram vinagre no local das queimaduras.

O Corpo de Bombeiros oferece a substância para os banhistas nos postos de atendimento na orla. Mesmo assim, segundo o soldado Antônio Souza, guarda-vidas que trabalha na Praia Brava de Matinhos, desde as 8h da manhã até o período da noite de ontem, ele atendeu a 50 casos de queimaduras, o que reduz os estoques. "Quase não temos vinagre suficiente para atender tanta demanda".

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