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Curta a família

Muito além de um período merecido de sossego e brisa fresca, as férias são uma oportunidade para conhecer melhor aqueles que costumam ter cada vez menos espaço no nosso dia a dia, embora estejam quase sempre por perto: os familiares. "É um tempo de recarregar afeto, de se voltar para o nosso primeiro modelo, a nossa fonte de carinho", afirma a psicóloga especialista em família Eneida Ludgero.

Para que a convivência dê certo, porém, é preciso cultivar as relações ao longo do ano, seja por meio de telefonemas, cartas ou e-mails, e não julgar ninguém com base em expectativas e pré-conceitos. "É preciso entender que as pessoas mudam, e nós temos de ir ao encontro delas sem criar expectativas de como deveriam estar, se portar, falar. É preciso ser flexível, antes de tudo."

Além disso, quem se reúne em família, especialmente as numerosas, deve aprender a dialogar e ouvir, segundo Eneida, seja na hora de escolher um passeio, decidir quando os filhos irão para a cama ou quantos quilos de carne comprar para o churrasco. "As decisões costumam ser tomadas por um ou dois, e isso não é recomendável. É preciso saber ouvir, ceder e aprender com a experiência do outro."

Para eternizar

Confira dicas da fotógrafa Rafaela Tarlé para registrar as férias da família:

- Escolha um horário entre o amanhecer e as 9 horas da manhã e entre as 16 horas e o anoitecer, quando a luz do sol apresenta uma tonalidade amarelada/avermelhada. Uma luz muito forte pode projetar sombras no rosto ou deixar as pessoas com expressões franzidas.

- Não tire fotos embaixo de guarda-sóis. Como a câmera faz a leitura de toda a cena, tende a se basear pela tonalidade da areia, que é mais clara, deixando as pessoas escuras.

- Para que pessoas próximas não entrem em uma competição com quem está sendo fotografado, use uma abertura maior do diafragma (uma espécie de olho da câmera), para desfocar o que está ao redor.

- Tire fotos espontâneas, e evite chamar a atenção da criança para a foto, a não ser que o momento exija. O ideal é que as fotografias registrem os momentos tal qual eles aconteceram.

Férias na Ilha (foto acima)

Quem também gosta de lembrar os tempos de pé na água e passeios que duravam uma tarde inteira é a aposentada Maria Margarida da Luz, de 60 anos, que frequenta a lha do Mel nas férias desde os 5 anos. Na infância, a estada nunca durava menos de um mês, pois o pai, o médico epidemiologista Ênnio Luz, trabalhava na ilha, e a mulher e os filhos aproveitavam para passear por lá. "Íamos de barco com o pessoal do serviço do meu pai. Era ótimo, minha mãe fazia frango com farofa, escondíamos o almoço entre as pedras de uma gruta e saíamos catar conchinhas em Encantadas."

Nas férias, as tardes eram enriquecidas pela convivência com os primos e as irmãs da mãe, além de pescadores locais, que entretiam os pequenos com histórias assustadoras, como a do padre que rondava a fortaleza da ilha. Na época, as crianças contavam com algo atualmente visto como artigo de luxo: a convivência em tempo integral com os mais velhos. Dona Aydé, mãe de Margarida, vivia literalmente para as crianças: cozinhava, ajudava a catar conchinhas e supervisionava de perto as brincadeiras.

Mais de meio século depois, Margarida continua a frequentar a ilha entre dezembro e janeiro na companhia dos irmãos e dos pais, que encaram firmes e fortes as caminhadas diárias à beira-mar. "Damos muito valor a esses momentos", conta ela, que nesse ano não vai fazer diferente: as caminhadas e passeios pela beira-mar já estão marcados para janeiro, na companhia dos pais, duas amigas e o namorado.

Malas x pinheirinho (foto 1 - abaixo)

Este Natal tem tudo para virar história na família do servidor público Nelson Trovo Júnior. Neste sábado, os parentes dele se reunirão em volta da mesa, no sofá e na garagem para comemorar a data. Explica-se: serão mais de 32 pessoas na casa, em Matinhos, com a presença ilustre da matriarca Dalila, de 76 anos, que veio de Campo Grande (MT).

As férias da família são agitadas. Para que todos tenham tempo de se arrumar para a praia, a fila para o banheiro começa às 5 horas da manhã. Depois, dobram os colchões – que estão espalhados até na garagem – e correm para a areia com muita comida e bebida para o dia inteiro. "Ficamos assando uma carninha na praia, conversando, aproveitando a vida. Acho que não aguento mais 50 anos vivendo assim, não", brinca Nelson, que este ano não enfeitou a casa para o Natal. "Era o pinheirinho ou as malas do pessoal. Não tinha espaço", conta a esposa de Nelson, Lurdes.

Para o almoço de Natal, a família tem tudo pronto. A carne e as bebidas são do casamento da filha de Nelson, Gabriela. Ela e Rafael se casaram na Praia Mansa sábado passado. Na festa, todos – evangélicos e católicos – farão uma oração e ficarão contando histórias das mais de quatro gerações da família Trovo. "A religião é diferente, mas o amor está acima de tudo", diz Giovana, neta de dona Dalila. Os familiares partem entre os dias 26 e 27, mas os preparativos de Nelson e Lurdes continuam. Dia 29, chegam mais 15 parentes.

Túnel do tempo (foto 2)

Quando crianças, a advogada Fabiane Langer, de 40 anos, e a professora de Educação Física Rosângela Ivanski, 38, de Curitiba, mantinham um ritual sagrado quando chegava o mês de dezembro: ainda faltavam 15 dias para que os pais entrassem de férias, mas as duas irmãs já separavam o melhor biquíni e os brinquedos para usar na praia. "Chegávamos a arrumar e desarrumar a mala várias vezes por dia, até que chegava o dia da viagem", conta Rosângela.

Das férias memoráveis restou uma certeza: esse momento, essencial para descansar, curtir a família e recarregar as energias não poderia faltar na agenda de Ângela, de 12 anos, e Aline, de 4, filhas de Rosângela, e Caroline, de 10, filha de Fabiane. "O que conta agora é a diversão delas. É um tempo para brincar com elas e ouvir o que querem nos contar", diz Rosângela. "Ficamos tanto na água que às vezes as pernas doem no fim do dia", diverte-se Caroline.

Para a nova geração, o momento é tão esperado que os planos para o futuro incluem até uma espécie de férias permanentes: as meninas dizem que pretendem prestar vestibular para a UFPR Litoral, para ficar mais perto da praia. "Já eu penso que seria bom passar em um concurso público e trabalhar por aqui. Ou então ganhar na loteria", brinca Fabiane, enquanto aproveita o merecido sossego.

Ao relento (foto 3)

Quando perguntam à taxista Luceli do Carmo Bertotti, a Cela, sobre a mais inesquecível de suas férias, vem à tona uma história "um pouco cômica, um pouco trágica": foi o dia em que uma chuva forte arrancou o telhado da casa da família, no balneário de Ipanema, em Pontal do Paraná. Já passava das 18 horas quando os parentes, entre filhos, irmãos e cunhados, ouviram um estrondo e, logo em seguida, viram o teto sair voando. "Aí, fomos atrás de lona para cobrir a parte destelhada e nos empilhamos num quarto que estava coberto. Acabou sendo engraçado e até hoje a gente lembra disso."

As férias da família costumam ser animadas: seis tios de Cela têm casa em Ipanema, e todos se reúnem em volta da churrasqueira ou na varanda de casa para colocar o papo em dia, já que, em Curitiba, o tempo é curto para visitas. "Tem parentes com quem só falo por telefone, então é muito bom poder reunir, almoçar junto, dormir na mesma casa, fazer uma oração, curtir os pais", diz ela, que estará com toda a família do réveillon até o dia 20 de janeiro – serão mais de 15 pessoas, entre os três filhos, nora, neto, irmãos, cunhados e sobrinhos. Esta será a primeira vez, nos 20 anos que frequenta Ipanema, que Cela vai passar as férias na companhia do neto Rafael, de 3 meses, ao mesmo tempo em que ficará na saudade, já que a irmã Roseli, que mora há 10 anos nos Estados Unidos, não poderá vir ao Brasil neste ano.

"Mamãe, eu não acredito!" (foto 4)

Na casa da fotógrafa Rafaela Tarlé, férias na praia com a família – mesmo que sejam apenas alguns dias no mês de janeiro, com os sogros, em Guaratuba – é uma tradição. As filhas Lívia, de 7 anos, e Bruna, de 10, são visitantes de carteirinha de praia desde que nasceram – literalmente. Bruna nasceu em janeiro e com um mês estava pegando um sol, sempre sob o olhar atento do pai, Roberto, que é médico dermatologista. Lívia, que nasceu em dezembro, seguiu os passos da irmã. A fotógrafa conta que a convivência com a família foi um dos aspectos mais marcantes daquela época. "Hoje é tudo muito corrido, é difícil a gente arranjar esse tempo para ficar junto."

Ciente da paixão das filhas por praia, Rafaela conta que se desdobra para atender aos pedidos das duas nas férias e descer a serra, até para proporcionar às crianças um sentimento que ela própria viveu na infância, quando corria atrás dos peixinhos na água cristalina de Caiobá e não era preciso disputar espaço com centenas de guarda-sóis. Um dia, até tentou repetir com elas a experiência, o que não deu muito certo. "Eu falei para elas que a mamãe conseguia ver os peixinhos através da água, quando se formavam poças na beira do mar, mas elas não acreditaram muito na minha história", diverte-se Rafaela, que já prometeu às filhas: em janeiro, os quatro têm compromisso marcado com o mar em Guaratuba.

Chamem a polícia! (foto 5)

O empresário aposentado Carlos Alves da Luz costuma dizer brincando que, quando os parentes, entre filhos, netos e cunhados, se reúnem nas férias, é preciso tomar cuidado. "Nossa família é tão unida, mas tão unida, que quando se junta é preciso chamar a polícia para separar." Há dois anos, Carlos mudou-se com a esposa, a dona de casa Neide, para o Balneário de Ipanema. Desde então, a casa, que chama a atenção da vizinhança pelos enfeites de Natal, está sempre em polvorosa.

O passatempo preferido nas férias, para atenuar o calor e fazer pirraça, é encher bexigas com águas e estourá-las nas costas de um parente mais distraído. "Somos muito unidos, inclusive na hora de festejar, que é o que mais gostamos de fazer", frisa Neide, que deve subir para Curitiba no Natal, e voltar para Ipanema logo depois da virada, para mais festa.

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