
Luci Cardoso Tavares transforma rimas em samba. Aimé Vieira Fortes marca o ritmo com o surdo. Carlos Miguel Alves Pinheiro entra na pele de palhaço e Hélcio Fonseca da Silva eterniza a imagem dos mestres da folia. Cada um a seu modo dá um pouco de si ao carnaval no Litoral paranaense.A primeira da lista, Luci, é compositora de sambas-enredo e viveu todos os seus 74 anos na cidade mais antiga do Paraná. Ela escreveu para todas as escolas de samba de Paranaguá, além do tema dos 350 anos da cidade, marchinhas e sambas de raiz. Luci virou uma espécie de patrimônio histórico vivo da folia parnanguara. "Paranaguá teve um carnaval bonito durante décadas. Estamos recuperando a beleza da nossa festa", diz. Caiu no samba não por amor ao carnaval, mas por necessidade. "Tenho 12 filhos. Precisava de um dinheirinho extra." Essa extra veio dos prêmios ganhos no Festival de Música Carnavalesca, na Rádio Eldorado, sem nunca ter estudado música. Daí ao primeiro convite para criar sambas para tocar na avenida foi um pulo. "Não escrevo para uma escola favorita. Escrevo para a beleza da festa", diz a dama das marchinhas, entre um cantarolar e outro de sambas próprios e de outros bambas locais.
Sambas que Aimé, 63 anos, que trabalha no porto, conhece bem. Ele é considerado o ritmista mais antigo de Paranaguá, com cerca de 45 anos de serviços prestados à folia de Momo. "Nem sei em que ano desfilei pela primeira vez. Foi na Junqueira (escola de samba fundada em 1923) e eu ainda era guri", diz. Este ano, desfila pelo Leão do Litoral e confirmou presença no baile à fantasia. "O carnaval é quando me realizo. Ao contrário de quem diz que vem brincar o carnaval, eu não brinco. Estou nele para servir, para divertir o povo."
A paixão ele nutre solitário. Os filhos não participam mais da folia. A mulher é evangélica e não brinca nos folguedos. "Nem me deixa ouvir disco de samba em casa", fala Aimé. A esposa, porém, demonstra no detalhe o respeito pelo marido. "Em dia de desfile, é ela quem passa minha fantasia, deixa tudo ajeitado em cima da cama", conta, orgulhoso.
O mesmo carinho demonstrado por Deuzita, mulher do vigilante Carlos Miguel, 55 anos. Ela costurou a roupa e fez a peruca que o marido usa todo sábado de carnaval em Antonina. Desde 1981, Carlinhos faz a alegria das crianças na festa de rua. E a palhaçada cresceu nesses 29 anos. Carlinhos hoje tem a companhia de outros 12 bufões, entre amigos, filhos e a nora. Reconhecer o precursor nessa turba é fácil: Carlinhos carrega o inseparável cãozinho de pano Futrica. "O nome é inspirado no cachorro dos Irmãos Queirolo (uruguaios de família circense que se fixaram no Paraná na década de 1940)", conta.
Querido pelo povo de Antonina, a figura criada pelo vigilante ganhou um presente em 2009: uma versão gigante, como um dos 13 personagens do Bloco dos Bonecos. O comerciante Hélcio, 37 anos, é o fundador e escultor do bloco. Há 18 anos, ele é habitué da Noite das Escandalosas ganhou o tradicional concurso de homens travestidos duas vezes. Em 1992, vestiu-se de macaco que carregava uma pessoa engaiolada. Foi a sensação do baile de rua. "Meu pai roubou o traje e disse que ele tinha feito. Ganhou até o prêmio de Melhor Fantasia", conta.Começou a criar os superbonecos, inspirados nos de Recife (PE). Hoje são 13 inspirados em personagens que fazem o carnaval na cidade: Carlinhos, a Velha, a Bailarina. Este ano, é a estreia da Freira.





