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 | Benett
| Foto: Benett

Hoje me peguei olhando a foto do Arturzinho na cabeceira da cama dele. Entrei no quarto pra recolher as roupas sujas que ele sempre deixa jogadas pelo chão e me deparei com aquela imagem tão singela: meu filho ainda criança, quase bebê, brincando na areia da praia. Confesso que me emocionei.

Como eram bons aqueles verões. Eu ainda jovem, recém-casada, vendo o Arturzinho crescer. Lembro que ele adorava fazer castelinhos na areia, cavar buracos imensos só pra ficar naquela poça de água que se formava. Dizia que ali era a piscina dele. Só dele. E ai de quem entrasse no seu reduto.

Mas o que o Arturzinho gostava mesmo de fazer na praia era correr na areia. E não podia ser qualquer areia, não. Tinha de ser fofa, bem fofa, pra formar pegada a cada pisada. E lá ia o Arturzinho fazer caminhos imaginários pela praia, uma hora em linha reta, outra hora em círculo, outra hora em zigue-zague.

No começo ele dizia que as pegadas serviam para encontrar o tesouro que ele mesmo enterrava na areia – no caso, algum brinquedinho que ele já não gostava tanto. Antes de esconder o "tesouro", Arturzinho fixava algum ponto de referência na praia (um banco ou uma árvore), e contava a quantos passos dali iria enterrar o brinquedo.

Um ou dois dias se passavam e lá ia ele, a partir do ponto de referência, contar os passinhos de volta pra encontrar o que havia escondido. "Vinte e cinco passos da árvore, mãe, não falei pra você?", vinha me contar todo alegre o meu pequeno pirata. Aliás, o Arturzinho também adorava pular carnaval na praia vestido de pirata.

Depois ele começou a marcar a areia com pegadas bem profundas a cada caminhada que fazíamos na praia. A cada passo parecia que ele tinha um peso de chumbo nos pés. O argumento era de que dessa forma, com aquele rastro pela areia, nós não nos perderíamos na volta pra casa. Coincidência ou não, nunca tivemos problemas no retorno.

Que coisa fofa era o pezinho do Artur. Um pezinho pequenininho, gordinho, cinco dedinhos bem delicados, como na marquinha com tinta guache na folha de papel sulfite que ele me entregou de presente em um Dia das Mães, trabalho de educação artística na pré-escola. Ficava aquela pegada certinha no papel e na areia.

Relembrando tudo isso, vendo esses pares de tênis do Arturzinho espalhados aqui pelo quarto, eu fico me perguntando: como foi que aqueles pezinhos tão bonitinhos que corriam pela areia se transformaram nesses pés gigantes, tamanho 45? A quem diabos esse menino puxou pra ter um pé deste tamanho?!

Marcos Xavier Vicente é jornalista

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