
Matinhos - O céu ainda está escuro, o relógio marca 5h30, uma brisa do mar deixa o tempo fresco. Tudo indica que os veranistas vão demorar para chegar à praia de Caiobá, em Matinhos. Copos cheios, risadas e passos cambaleantes mostram que os poucos que estão por lá ainda não dormiram e não vão aguentar ficar muito tempo na areia. Os garis recém começaram a recolher o lixo.
Por volta das 5h50, um senhor de 65 anos passa apressado pelo calçadão, vestindo camiseta, bermuda e um par de mocassins. Se ele vai trabalhar? "Não, estou fazendo uma caminhada", responde. Zildo Arantes Tomaz é um agricultor aposentado que mora em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, e passa as férias em Caiobá.
Acostumado a acordar às 4 horas, desde a época em que trabalhava no sítio, Zildo vai para a praia cedo. Nesse horário de escuridão e areias vazias, o aposentado não tem muito com que se distrair. Mas ele nem se importa. Está concentrado na reza do Terço o rosário virou item obrigatório para a caminhada: "Rezo em voz baixa, aí só Deus escuta", diz ele, que deixou a família dormindo em casa.
Outro que madrugou foi o estudante Márcio José Tissi, 17 anos, de Curitiba. Na última quarta-feira, ele acordou às 6 horas. No mesmo horário, os amigos dele tinham acabado de chegar de uma festa. Márcio José preferiu tirar fotos do nascer do sol na praia. A máquina fotográfica, aliás, virou quase que companhia oficial dos madrugadores. O fiscal Cláudio Valério de Medeiros e a sobrinha Thais Medeiros de Araújo também levaram o equipamento para registrar o nascer do sol, por volta das 6h20. Os filhos de Cláudio, que têm 15, 13 e 9 anos, ficaram em casa. Assim que chegasse em casa, o fiscal iria mostrar as fotos aos filhos, para tentar trazê-los no dia seguinte bem cedo. "Assim todo mundo se embala."
Às vezes até acontece de alguém, que não anda muito acostumado, pular da cama cedo. Este foi o caso de Mariana Daga, 8 anos, de Curitiba, que pediu para acompanhar a avó, a cozinheira aposentada Cirene Kailer, na caminhada pela areia de Caiobá. Elas saíram de casa por volta das 6h30. Marina foi caminhar com uma viseira, garrafinha de água, telefone celular, dinheiro e aquele sorriso. "Queria ver o pôr do sol. Ah, não, o nascer do sol", confunde-se.
Contemplar a alvorada não é algo novo para o estudante Yuri Malschitzky, 19 anos. Assim como o pai e o irmão, Yuri é surfista. "De manhã bem cedo o mar fica mais liso e tem menos gente na água para disputar onda."
Mas nem todos os veranistas que chegam antes do sol à praia têm facilidade para madrugar. O comerciante Marcimiliano Gatto, de Matelândia, no Oeste do Paraná, explica que é preciso ter força de vontade. Ele pedala na orla das 6 às 7 horas. "Tem de se manter a disciplina, senão acaba levantando mais tarde." Na última quarta-feira, por exemplo, ele acabou se atrasando um pouco.
A estudante Lorena de Alencar, 18 anos, de Rolândia, no Norte do Paraná, confessa que não gosta de acordar cedo, mas acha que na praia o esforço vale a pena. Ela chega às 6h30 para fotografar o nascer do sol. Vai e volta da praia várias vezes ao dia, até encerrá-lo às 22h30, com caminhada no calçadão da orla.




