
Ponta Grossa - Aos 6 anos de idade, Letícia Boaron, de Ponta Grossa, brinca com faixas e coroas conquistadas em 11 concursos de beleza da mesma forma com que se diverte com suas bonecas. Pouco antes da conquista do título de Mini Miss Brasil 2008, no dia 20 de julho, em Santa Catarina, ela brincava com os modelos mirins nos bastidores. Assim como Letícia, milhares de crianças entram precocemente no mercado da moda e beleza. Psicólogos alertam que os pais devem ter cuidado para que a conquista de títulos não vire uma obsessão.
Letícia participou do primeiro concurso de beleza quando tinha um ano e quatro meses. Desde então, foi chamada para fazer campanhas publicitárias e desfiles infantis. "Minhas amigas não acreditavam em mim quando eu dizia que era modelo. Elas me perguntavam quando eu iria aparecer na televisão", diz.
Aluna da 1ª série, Letícia divide o tempo da escola com as brincadeiras com a irmã Gabriele, de 2 anos, que já começa a seguir seus passos. O pai, Laertes Boaron, conta que nunca impôs à filha a carreira de modelo mirim. "Sempre a deixamos livre para dizer se quer ou não participar de algum desfile ou concurso", conta. Letícia diz que gosta de ser modelo, mas que no futuro pensa em ser professora de Português.
No mesmo concurso em que Letícia foi a primeira colocada, a modelo mirim Amanda Caroline Bolzani, 10 anos, de Ponta Grossa, conquistou o prêmio de melhor traje típico. A avó, Leni Jansen, lembra em detalhes os 26 títulos conquistados pela neta em seis anos de carreira. Além de estudar e ser modelo, a garota também cumpre uma vasta agenda, que inclui aulas de balé, informática e teclado. Mas, segundo a avó, a menina gosta da rotina e quer mais. "Ela sonha em fazer uma viagem internacional como modelo", diz.
Kauane Pyl, com 11 anos, mora em São José dos Pinhais e já tem títulos internacionais em seu currículo. Até o final desse ano, ela voltará à República Dominicana para passar a faixa de Mini Âmbar World título conquistado ano passado. Nesse ano, ela já esteve na cidade de Sunny Beach, na Bulgária, onde foi a terceira colocada no concurso Little Miss Planet. Em entrevista à Gazeta do Povo, em dezembro do ano passado, ela contou que gosta do sucesso como modelo, mas que pretende seguir carreira na Medicina para cuidar de crianças.
Expectativa
Segundo a psicóloga Yara Aparecida Martini Klippel, os pais dos modelos mirins devem ser orientados a não cobrar resultados dos filhos, principalmente em concursos de beleza. "A criança não pode pensar que sempre vai ter de ganhar, porque isso gera uma expectativa nela e na família, podendo até entrar em depressão infantil se não vencer", aponta. Yara lembra que os pais também precisam ficar atentos ao comportamento do filho. Devem verificar se ele não está obcecado com a aparência, não está deixando de se alimentar para emagrecer e também não está se tornando um narcisista, afastando os colegas do seu círculo de amizades.
A empresária Daniele DÁvila, da agência que promove concursos infantis de beleza, afirma que muitas crianças acabam deixando a carreira quando crescem, mas que a quantidade de interessados ainda é muito grande. A agência, localizada em Curitiba, tem 2 mil crianças cadastradas. "Elas começam a partir dos 3 anos", conta.
A diretora de uma agência de modelos em Ponta Grossa, Silmara Leria, lembra que não falta mercado. "Temos 150 crianças agenciadas, e pelo menos 50 que realizam trabalhos com maior freqüência".



