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Células com DNA sintético: equipe de Craig Venter diz não ter "feito vida do zero". | Divulgação
Células com DNA sintético: equipe de Craig Venter diz não ter "feito vida do zero".| Foto: Divulgação

Vaticano pede uso responsável da tecnologia

Autoridades da Igreja Católica disseram ontem que a criação de uma célula sintética, anunciada na quinta-feira, pode ser um avanço positivo se usado corretamente. Bispos e cardeais advertiram os cientistas sobre a responsabilidade ética do progresso científico e disseram que a forma como a inovação vai ser aplicada no futuro é muito importante.

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Artigo: Quem dera os cientistas brincassem de Deus

Deus é Criador e, ao chamar os seres humanos ao rela­cionamento consciente, ao torná-los sua imagem e se­­melhança, partilha com os humanos o poder de criar. Por isso o ser humano se torna parceiro da criação, se torna "co-criador", mas não pode se atribuir arrogan­temente essa função, pois ela foi concedida por Deus, e não conquistada por mérito próprio.

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Um dia após o anúncio da criação de uma célula com genoma sintético, as discussões giram em torno do impacto do experimento e as questões éticas que ele levanta. Para pesquisadores da área de genética e biotecnologia, mais do que dilemas sobre a produção ou não de uma vida artificial, o feito alcançado pela equipe do Instituto J. Craig Venter acende a discussão sobre as aplicações futuras da tecnologia. É unânime o pensamento de que a descoberta é, sim, um marco para a ciência, mas que é preciso haver uma regulação e princípios éticos que norteiem o uso da técnica.

Na opinião dos especialistas, qualquer tecnologia pode ser usada tanto de forma positiva como negativa, mas essa duplicidade não deve impedir o avanço da ciência. "É algo que tem potencial para ser usado de forma errônea, em ações de bioterrorismo, por exemplo, mas nem por isso devemos abrir mão do conhecimento", defende o chefe do grupo de Bioinformática e Genômica do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo, Sandro de Souza.

Para a especialista em genética médica e professora da Pontifícia Universidade Católica de Brasília Maria Teresinha Cardoso, as dúvidas sobre as aplicações não podem barrar o avanço da ciência. "É preciso ter critérios. Concordo que tem de haver um policiamento e que toda e qualquer pesquisa deve ser feita pensando nas necessidades humanas e no benefício social que ela pode trazer", diz. "Um pesquisador nato não busca aplicações negativas para suas descobertas, ele faz seu trabalho em prol da sociedade", completa.

Obama

A preocupação com as implicações do experimento, publicado na edição da última quinta-feira na revista Science, fez com que o presidente americano Barack Obama pedisse a uma equipe especializada em biotecnologia que analisasse os efeitos positivos e negativos da descoberta. Grupos ambientalistas também se declararam preocupados com os possíveis impactos no meio ambiente. Acredita-se que a técnica possa ser usada futuramente na programação de bactérias para produção de biocombustíveis, limpeza de água contaminada, tratamentos de doenças genéticas ou produção de vacinas, mas questiona-se o risco de esses organismos com genoma sintético comportarem-se de forma inesperada.

Larga escala

Para os pesquisadores, ainda é cedo para dimensionar os reais impactos da descoberta e fazer qualquer previsão sobre o tempo que levará até que a metodologia criada pela equipe de Venter seja aplicada em larga escala. "O que eles conseguiram foi um avanço muito mais tecnológico do que conceitual. Foi um primeiro passo para uma receita capaz de criar células que ajam com uma determinada função, preservando os recursos que ela naturalmente tem, eliminando o que não interessa e potencializando o que interessa. As aplicações disso podem ser ilimitadas, mas ainda dependem de avanços em outras áreas, principalmente na biologia", afirma Souza.

O coordenador do curso de especialização em Biotec­nologia e chefe do Laboratório Genoma da Pontifícia Univer­sidade Católica do Paraná, Humberto Madeira, lembra que a equipe de Venter tem interesses econômicos na descoberta. "Ao contrário das leis brasileiras, nos Estados Unidos é permitido patentear organismos da natureza. Aí entra a discussão: será que a biologia tem dono?" questiona.

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