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Escombros já foram quase completamente retirados do local do desabamento e a vida no centro do Rio deve voltar ao normal nesta segunda-feira | Ricardo Moraes/Reuters
Escombros já foram quase completamente retirados do local do desabamento e a vida no centro do Rio deve voltar ao normal nesta segunda-feira| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Vítimas dos desabamentos

Dezessete corpos já foram encontrados entre escombros dos prédios que desabaram no Rio de Janeiro e 5 pessoas ainda permanecem desaparecidas.

Nove corpos já passaram pelo Instituto Médico Legal. Os corpos já identificados são de Alessandra Alves Lima, de 29 anos; Celso Renato Cabral Filho, de 44 anos; Nilson de Assunção Ferreira, de 50 anos; Elenice Maria Consani Quedas, catadora de papel, de aproximadamente 50 anos, Cornélio Ribeiro Lopes, de 73 anos, porteiro do prédio número 44 da Avenida Treze de Maio; e sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, de 65 anos; Flávio Porrozzi, de 23 anos.

Alguns desaparecidos são: Omar José Mussi, 48 anos; Amaro Tavares da Silva, 40 anos; Sabrina Prado, 30 anos; Ana Cristina Silveira, 50 anos; Bruno Charles, 25 anos; Daniel de Souza Jorge, 26 anos; Fábio Correia; Gustavo Cunha; Kelly Menezes; Luís Leonardo Vasconcelos, 40 anos; Moisés Morais da Silva, 43 anos; Marcelo de Lima, 48 anos; Nilson Ferreira, 50 anos; Priscila Montezano, 23 anos; Roosevelt da Silva; Flávio de Souza, 70 anos; Marlene; Franklin; e Yokania Mauro, 33 anos.

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Sobreviventes

O operário Alexandro da Silva Fonseca [foto] foi resgatado na noite de quarta-feira (25) pelos bombeiros, dentro do elevador de um dos três prédios que desabaram na Avenida 13 de Maio.

Fonseca contou que ouviu um estalo e logo depois o prédio começou a ruir. Imediatamente, correu para o elevador, a fim de se proteger.

Depois do susto do acidente, o operário disse que os parentes terão mais importância. "Via minha família apenas um dia na semana, agora ela será minha prioridade."

Fonseca vai depor nesta sexta-feira na 5ª Delegacia de Polícia, na Avenida Gomes Freire, no centro do Rio.

Tremor

Os indícios de que houve um tremor nos três edifícios que desabaram foram reforçados pelo depoimento de Marcelo Antunes Moreira, que era zelador do edifício Colombo. Ele estava no 7.o andar quando notou que havia algum problema no prédio vizinho e tentou fugir pelas escadas, mas só conseguiu chegar ao 6.o andar antes do desmoronamento.

Em meio aos escombros, consciente, mas com a maior parte do corpo imobilizado, ele notou que um bombeiro caminhava sobre as pedras. Com a mão esquerda, a única que conseguia movimentar, tocou o coturno do bombeiro para chamar sua atenção. Marcelo foi salvo, com ferimentos superficiais no rosto e nos braços. Levado ao hospital, ele recebeu alta na quinta-feira.

Sepultamentos

Nesta sexta-feira, começaram a ser enterradas as vítimas dos desabamentos. O corpo de Celso Renato Braga Cabral, de 44 anos, chefe de Recursos Humanos da empresa TO, foi sepultado às 10h30 no Cemitério do Maruí, em Niterói, na região metropolitana da capital.

Já o zelador Cornélio Ribeiro Lopes, 73, que trabalhava no edifício Liberdade, foi sepultado no Cemitério São João Baptista, em Botafogo, Zona Sul da cidade, nesta tarde. Ele iria se mudar em fevereiro para o Ceará.

Outros casos

Nos últimos anos, outros casos graves de explosões e desabamentos chamaram a atenção do país para o Rio de Janeiro:

2011 – Em outubro do ano passado, uma grande explosão no restaurante Filé Carioca, localizado no térreo do Edifício Riqueza, na Praça Tiradentes, deixou pelo menos três mortos e vários feridos. As vítimas foram arremessadas a cerca de 40 metros do local do acidente. A explosão teria sido causada por vazamento em um botijão de gás do restaurante.

2010 – Em 2010 e 2011, a cidade também foi vítima de diversas explosões em bueiros da Light, concessionária de fornecimento de energia elétrica. O caso mais grave ocorreu em junho de 2010 em Copacabana, na zona sul do Rio, quando um casal de norte-americanos ficou gravemente ferido. A mulher, de 28 anos, teve 80% do corpo queimado.

2002 – Um prédio de cinco andares desabou na esquina das ruas do Rosário e 1º de Março, no Centro do Rio de Janeiro em setembro de 2002. No local, funcionava o Hotel do Rosário e um restaurante. Duas pessoas que estavam hospedadas no hotel morreram. Autoridades disseram na época que o incidente foi provocado por uma demolição inadequada durante uma obra feita no térreo do edifício de cinco andares, onde funcionava o restaurante.

1998 – Em fevereiro, o edifício residencial Palace 2, erguido pela construtora do ex-deputado federal Sérgio Naia, desmoronou matando oito pessoas e deixando 150 famílias desabrigadas. Naia teve o mandato de deputado cassado meses depois, mas foi absolvido em processo judicial que o apontava como réu do crime de responsabilidade pelo desabamento. O ex-deputado foi condenado a pagar indenizações que variavam entre R$ 200 mil e R$ 1,5 milhão a cerca de 120 famílias, mas alegou não ter dinheiro e seus bens começaram a ser leiloados. Dez anos depois da tragédia, famílias ainda aguardavam para receber o dinheiro.

As famílias de desaparecidos no desmoronamento de três prédios no centro do Rio entram nesta segunda-feira (30) no quinto dia de vigília sem saber o que esperar da conclusão da operação de resgate. Neste domingo (29), o comandante dos bombeiros, coronel Sérgio Simões, admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de que algumas vítimas da tragédia jamais sejam encontradas.

O número oficial de mortos até a noite deste domingo era de 17 pessoas quatro delas sem identificação. Foram encontrados também, misturados ao entulho retirado do local, restos humanos. Os exames de DNA para identificação de vítimas começam nesta segunda. "Existe a possibilidade de (corpos) terem sido carbonizados. Nesse caso, não estamos mais procurando corpos, mas ossos, dentes", lamentou Simões.

Obras no interior do edifício seriam ilegais

Histórias interrompidas pela tragédia no Centro do Rio

Foto: veja imagens do trabalho dos bombeiros no local dos desabamentos

Infográfico: confira como era o Edifício Liberdade antes do desabamento

Nesta segunda-feira (30), a rotina nos arredores da Avenida Treze de Maio começa a voltar ao normal. Já entre as famílias que seguem sem notícias dos parentes, a sensação é de que o tempo parou.

Embora as autoridades descartem a possibilidade, algumas pessoas ainda parecem esperar rever os parentes com vida. A maioria não gosta de dar entrevistas. Não quer que seus parentes sejam dados como mortos, ver suas fotos nos jornais. "Não recebemos ainda qualquer informação", contou César Sabará, irmão de Eliete Machado, cujo marido, Franklin, não havia sido encontrado até o fim da tarde deste domingo. "Minha irmã fica naquela expectativa. É difícil ele ter sobrevivido, mas ela quer ver, quer enterrar".

"Toda hora que o telefone toca, a gente acha que pode ser uma boa notícia. Mas não há perspectiva", disse um primo de Priscila Montezano, de 23 anos, também desaparecida. A Defesa Civil trabalha com um número oficial de nove desaparecidos, por ser este o número de famílias reclamando parentes. Mas, como há quatro corpos sem identificação, os bombeiros procuram por mais cinco corpos.

Os quatro corpos sem identificação permanecem no IML, além de seis fragmentos localizados nos escombros que foram levados para o depósito de Duque de Caxias. O secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, que mantém equipes na Câmara e no IML, informou que o acompanhamento deverá ser feito em casa. "Imagino que ficar na Câmara não será mais necessário, mas estamos à disposição. É muito sofrimento, são nove famílias e quatro corpos. A Polícia Civil vai agilizar os exames de DNA."

A intenção dos parentes era ficar o mais perto possível dos prédios, não só para ter notícias, mas também por uma questão emocional, como se o afastamento físico da Cinelândia fosse sinônimo de desistência.

Indenização

As famílias que perderam parentes no desabamento dos três prédios no centro do Rio poderão receber, cada uma, cerca de R$ 200 mil de indenização por danos morais, segundo cálculo do procurador-geral da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ), Ronaldo Cramer. Ações desse tipo levam em média cinco anos para serem concluídas, afirmou o advogado.

Se forem confirmadas 22 mortes, seriam cerca de R$ 4,4 milhões, sem contar ressarcimentos por danos materiais, que acontecem no caso de a vítima ser a responsável pelo sustento da família. Para chegar ao valor da indenização individual, Cramer baseou-se em processos semelhantes de danos morais que já tiveram decisão final da Justiça.

Para darem início às ações, no entanto, os parentes precisam que a polícia aponte um ou mais responsáveis pela tragédia, de quem serão cobradas as indenizações. "Se não se sabe qual é a causa, não se sabe quem é o responsável. As famílias têm que entrar com a ação apontando quem são os réus", diz Cramer.

Câmeras

A Prefeitura instalou câmeras de segurança no depósito da Comlurb na Rodovia Washington Luís, em Caxias, para onde foram levados os entulhos dos três prédios e onde os bombeiros ainda procuram por corpos de vítimas. As câmeras monitoram os trabalhos para evitar desvio de bens. Nos primeiros dias, houve denúncias de que parte do material estaria sendo recolhido irregularmente.

No sábado (28), Simões também lamentou as denúncias de desvio de bens sob os escombros. Ele, porém, não confirmou o roubo dos pertences.

Mesmo assim, quatro funcionários da concessionária Porto Novo que aparecem em fotos publicadas pelo jornal "Folha de S. Paulo" revirando os entulhos dos prédios que desabaram no Centro serão demitidos. O anúncio foi feito após uma reunião na tarde de sábado entre o prefeito Eduardo Paes, a delegada geral da Polícia Civil, Marta Rocha, Sérgio Simões, e diversos secretários municipais. Foi informado também que a segurança na área onde os entulhos estão sendo levados, na Zona Portuária, será reforçada, e que a Polícia Civil vai investigar as denúncias.

Cerca de 95% do entulho já foi retirado do local do acidente, de acordo com estimativas de Simões.

A área dos desabamentos amanheceu no domingo cercada por tapumes colocados pela prefeitura para isolar a região. Quase não há mais escombros no local, e a expectativa é que a rotina comece a voltar ao normal a partir das 6h de segunda-feira, quando a Avenida Almirante Barroso será totalmente liberada ao tráfego de veículos.

A Avenida Treze de Maio também será liberada aos pedestres, e a Rua Senador Dantas voltará à mão de origem, do Passeio à Avenida Chile. Segundo o Centro de Operações, permanecem interditados pela Defesa Civil o prédio de número 6 da Avenida Almirante Barroso e o anexo do Theatro Municipal.

Os desabamentos ocorreram na quarta (25), por volta das 20h30, e atingiram três prédios antigos da região central do Rio. Um grupo de 80 homens do Corpo de Bombeiros, com o apoio da Polícia Militar e da Defesa Civil, trabalharam na área. Vários bombeiros têm experiência em situações de risco e chegaram a ajudar durante os resgates no Haiti, quando houve o terremoto de 12 de janeiro de 2010.

Após os desabamentos, um vazio se abriu no centro da cidade. No local agora só há escombros e poeira. O governador do estado, Sergio Cabral, decretou luto de três dias em homenagem à memória das vítimas da tragédia.

Feridos

Dos seis feridos, apenas Cristiane do Carmo, de 28 anos, continua internada. Ela chegou a ser operada no Hospital Souza Aguiar e foi transferida para a Casa de Portugal, no Rio Comprido. Ela passa bem, mas está em observação já que sofreu politraumatismo e uma severa laceração no couro cabeludo. Outras quatro pessoas foram hospitalizadas no Souza Aguiar, entre elas, Marcelo Antonio Moreira, zelador de um dos prédios, e Francisco Rodrigo da Costa, operário que trabalhava dentro de outro prédio que caiu e foi resgatado no elevador. O Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, atendeu durante a noite de quarta-feira uma paciente de 48 anos, que chegou por conta própria contando que caiu após os desabamentos. Ela apresentava escoriações superficiais e também recebeu alta.

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Obras no interior do edifício seriam ilegais

No Edifício Liberdade, no número 44 da Avenida Treze de Maio, que foi o primeiro a ruir, estavam sendo realizadas duas reformas de grande porte no terceiro e no nono andares, mas nenhuma delas tinha registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ). A última obra de que se tem notícia por ali é de 2008.

"São obras irregulares, com certeza", disse o presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea, o engenheiro Luiz Antonio Cosenza. "Já entramos em contato com a empresa para que informe quem eram os engenheiros responsáveis e que obras eram essas."

Os dois andares em questão eram ocupados pela empresa TO Tecnologia Organizacional. Sem o conhecimento de órgãos técnicos, a empresa só poderia fazer discretas intervenções. Não é o que estaria acontecendo. Há relatos de que quase todas as paredes de um dos andares haviam sido retiradas, o que pode ter sido crucial para o abalo estrutural.

Porém, o advogado da TO, Jorge Willians Soares, garante que os serviços executados se limitavam à troca de carpetes antigos e à pintura de paredes. Ele prometeu entregar documentos comprovando sua versão na 5ª DP (Gomes Freire), onde já foi aberto um inquérito. O delegado Alcides Alves de Moura já ouviu o depoimento de seis pessoas, entre testemunhas e donos de imóveis no Edifício Liberdade.

O operário Alexandro da Silva Fonseca, de 31 anos, que sobreviveu ao desmoronamento, confirmou, nesta sexta-feira (27), que foram retiradas paredes de alvenaria no 9º andar do prédio. Ele afirmou, no entanto, que a obra não alterou a estrutura do prédio (vigas, lajes e pilares). Fonseca não soube dizer se havia um engenheiro responsável pela reforma, no prédio de 20 andares.

"Acho que a obra não provocou o desmoronamento do prédio, porque nós não mexemos em nenhuma contenção [estrutura]", ressaltou. O operário afirmou que a reforma que ocorre há duas semanas e meia serviu apenas para remover algumas paredes com a finalidade de trocar dois banheiros de lugar.

Os trabalhos de investigação sobre o desabamento dos prédios terão o acompanhamento de quatro arquitetos do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ). Eles vão atuar conjuntamente com as equipes da prefeitura e demais órgãos envolvidos na perícia sobre as causas do acidente.

Theatro Municipal

A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar os danos ao Theatro Municipal depois do desabamento dos prédios. Ontem, quatro peritos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e dois agentes da PF fizeram uma vistoria no local. Os danos foram considerados superficiais: algumas janelas parcialmente ficaram quebradas, pequenos pedaços de reboco caíram e foram detectados problemas no maquinário do palco, por causa da poeira. Os responsáveis pelo desabamento podem ser indiciados por crime contra o patrimônio da União.

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Histórias interrompidas pela tragédia no Centro do Rio

"Mamãe, cadê você, mamãe?", perguntava na quinta-feira no Facebook a pequena Catharina, filha da auxiliar financeira Kelly Meneses. Por volta das 3h também de quinta-feira, o professor de biologia Flávio Porrozzi teria atendido uma ligação da namorada no celular e dito "Oi, meu amor". A ligação caiu e ele não atendeu mais.

O advogado Franklin Machado falava com a mulher, por telefone, quando a conversa foi subitamente interrompida. Desde então, parentes não têm mais notícias dele. Conheça as histórias de uma tragédia que deixa muito mais do que escombros.

Prejuízos

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) vai suspender os prazos processuais das causas dos advogados que trabalhavam e mantinham escritórios nos três prédios que desabaram. Grande parte das mais de 60 salas funcionava como escritório de advocacia.

Em nota, o TJRJ explica que quer evitar mais prejuízos aos profissionais da área, além da perda de documentos e outros pertences. A medida também vale para os advogados que comprovarem que têm escritórios nas áreas interditadas próximas ao local do desastre. Nesse caso, a suspensão de prazos vale apenas para o período em que a interdição continuar, o que, segundo o TJRJ, não pode durar mais do que 30 dias.

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