É difícil quatro ou cinco moradores próximos desfrutarem de uma convivência totalmente harmoniosa e sem problemas. Agora, imagine ter cerca de 2,5 mil vizinhos, distribuídos em cerca de 600 famílias. Missão impossível? Nem tanto. É assim que vivem 1.795 famílias nos três conjuntos residenciais mais populosos de Curitiba: Parque Residencial Fazendinha (o maior), Conjunto Residencial Parque VerdeCIC (segundo) e Condomínio Centro Habitacional Novo Mundo (terceiro).
São aproximadamente 8 mil representantes da classe média que moram nesses conjuntos de prédios. Com tanta gente, tanto apartamento, tanta garagem, tanto aparelho de som ligado, tanto horário cruzado no dia-a-dia de cada um, deve imperar o caos e a discórdia. Errado de novo. Está certo que nem tudo é calmaria, mas duas palavras levadas ao pé da letra resolvem um punhado de diferenças: tolerância e respeito. São o segredo do bem-conviver. "Tem de saber respeitar o próximo e saber que o seu direito termina quando começa o do outro", resume a universitária Ivana Mendes de Moraes, moradora do Fazendinha.
Esse princípio garante reuniões de condomínio para lá de civilizadas, normalmente sem brigas ou grandes discussões. É verdade que nem todos os moradores comparecem os faltosos são representados por líderes dos blocos , o que ajuda a diminuir os debates. No Parque Fazendinha, por exemplo, são 32 sub-síndicos que encaminham as reivindicações de 640 famílias. Eles são responsáveis por diluir boa parte dos problemas. "Dessa forma, os pedidos já chegam ao síndico meio amaciados", diz Dirceu Jarenko, diretor do Secovi-PR (sindicato de imobiliárias e construtoras).
A maioria das reclamações que chegam à administração do Parque Verde está relacionada a pequenos desentendimentos entre vizinhos, geralmente relacionados com som alto e barulho de salto alto. "Acorda o pessoal de baixo e aí tem bronca", diz a secretária do condomínio Maria Aparecida Moreira. "Tudo acaba resolvido na conversa. Temos de ter um jogo de cintura para contornar as situações."
Outro problema, comum a muitas vizinhanças, são as fofocas. "Digo que esses papos que correm por aqui fazem parte do folclore do Novo Mundo. Já me demitiram umas 500 vezes", diverte-se a síndica Anita Gugelmin.
Mas nem tudo é problema nos condomínios gigantes. Saber que o vizinho pode prestar qualquer socorro, de acordo com a presidente do conselho de moradores do Fazendinha Ezilda Sartori Marsolo, é um alento e tranqüiliza muitos moradores.
Além disso, as histórias de vida de muitos condôminos acabam se tornando exemplos de amor, determinação, união e cidadania. São casos como o da dona de casa Paula Cristina Vacilotto Rolim, que depois de o marido perder o emprego passou a sustentar a família trabalhando como manicure. Com uma vantagem: nem precisa sair do Condomínio Novo Mundo para dar expediente, toda sua clientela é formada pela vizinhança. "Meu marido já conseguiu emprego e eu não consigo ficar sem trabalhar. A gente se afeiçoa às pessoas", conta.
No mesmo conjunto, um grupo de 20 aposentados forma o conhecido "Clube da Bocha". Eles se reúnem todas as tardes para jogar baralho e bocha. "A intenção é manter todos ocupados, senão as mulheres brigam em casa", comenta o presidente Murilo Gomez. "Aqui não se joga a dinheiro e é proibido bebida", alerta.
Já a vida da jovem Ivana Mendes de Moraes mudou depois que Fábio Vieira do Nascimento se mudou para o Parque Fazendinha com a família. Quando se conheceram, ela tinha 12 anos e ele estava com 15. Começaram a namorar e se casaram. Hoje, dez anos depois, moram no mesmo condomínio agora é a vez da pequena Ana Luísa, filha de 9 anos do casal, correr e brincar pelas ruas do conjunto. "Alugamos um apartamento aqui por questão de segurança e para ficarmos perto da família", diz Ivana.
Famílias "adotadas" também são motivo para manter os laços com os conjuntos. Mesmo depois de se mudar do Parque Verde, onde morou por 20 anos, o técnico de segurança Antônio Honório da Silva volta semanalmente ao condomínio para dar continuidade a um projeto voluntário que já dura seis anos. Ele aproveita uma quadra de futebol do conjunto para treinar 45 crianças e adolescentes. "Todos querem ser jogadores e a gente aproveita para fazer alertas sobre o consumo de drogas e bebidas", diz ele. "Me mudei, mas não podia abandonar esses filhos."
Vida em condomínio tem mesmo muita afeição. "A gente já viu bebês nascendo e pessoas morrendo. Isso aqui é uma família", conclui a dona de casa Márcia Batista dos Santos, moradora do Parque Verde.



