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Calouros e veteranos que participaram da festa no câmpus Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na sexta-feira disseram que bebidas de alto teor alcoólico circulavam livremente durante a comemoração dos aprovados no vestibular. No entanto, eles não viram qualquer cena de coação para ingestão de bebida alcoólica. Em entrevista coletiva, o reitor em exercício da universidade, Rogério Mulinari, disse que o caso envolvendo o estudante de 17 anos que passou dois dias internado após desmaiar quando participava do trote segue sob investigação. As versões apresentadas pela instituição, pelos pais do calouro e por outros participantes da festa são divergentes.

A reportagem conversou com alunos e calouros que estiveram no evento. A aprovada em Direito Júlia Cruz, 17 anos, contou que veteranos ofereciam vodca e pinga aos presentes. As garrafas passavam de mão em mão e as pessoas bebiam no gargalo. Eles chegavam a espirrar bebida em cima dos alunos. "Era tudo na brincadeira, não vi ninguém ser obrigado a tomar, ou humilhado pelos veteranos", relatou.

A comercialização, mas não o consumo, de substâncias com mais de 13 graus de teor alcoólico em instituições de ensino é proibida pela Lei Federal 9.294, de 1996. A UFPR informou que controla o uso desses produtos e que recolheu garrafas em posse de alunos durante o trote. "Mas não fazemos revista dos alunos ou busca e apreensão em seus materiais", ressalvou o vice-reitor.

Uma estudante do 2.º ano de Medicina confirmou que muitos veteranos levaram vodca e pinga à barraca do curso e ofereceram aos aprovados. De acordo com os pais do adolescente internado, que passou em Geografia, alunos que estavam na barraca de Medicina te­­riam forçado o calouro a tomar uma substância de cor vermelha; depois disso, ele vomitou e desmaiou.

Divergências

De acordo com o pai do garoto, Francisco Medeiros, ele desmaiou no interior do câmpus, entre a guarita da entrada e o prédio principal. O vídeo da câmera de vigilância da entrada do câmpus apontaria que o atendimento foi feito na calçada externa, mas, segundo Mulinari, nada disso aparece no filme. As imagens não foram divulgadas pela instituição.

Testemunhas que viram o momento do desmaio disseram que João Francisco estava do lado de fora do câmpus. Ele teria andado sem ajuda, apesar de parecer desnorteado e caído próximo à guarita. "Ele estava meio tonto e falando embolado logo antes de cair", lembrou a caloura de psicologia Izabele Rizental, 18 anos. O aprovado em Nutrição Felipe Wicher, 19 anos, teve a mesma impressão. "Estava com o rosto vermelho e os olhos baixos", descreveu.

Mulinari disse que a instituição ainda precisa de mais informações para saber se é necessário instaurar uma investigação oficial. Por isso, a universidade re­­quereu à família o prontuário de atendimento do garoto e o resultado do exame toxicológico, que deve sair nos próximos dias. A instituição também pediu para que o calouro seja ouvido assim que estiver em condições.

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