
Uma área de 140 mil metros quadrados no centro de Irati, cidade com 59,3 mil habitantes na região Centro-Sul do Paraná, está no meio de uma queda de braço entre voluntários do grupo Preserva Irati e a proprietária, que pretende construir um loteamento residencial no terreno. O projeto do empreendimento começou em 2010, mas parou neste ano por causa de manifestações do grupo, que pretende manter o lugar preservado.
Conhecida como Mata dos Gomes ou Mata do Arroio dos Pereiras, a área é circundada por residências, tem trilhas abertas pela própria população, um campinho de futebol e uma queda dágua do arroio. Segundo um dos integrantes do movimento, Leandro Ditzel, há cerca de 40 pés de araucárias no terreno, um remanescente de Mata Atlântica.
O executivo da empresa Aurora Centennial S/A, Carlos Branco, cercou a área com arame farpado para protegê-la, pois neste ano houve um princípio de incêndio, registrado em boletim de ocorrência.
A área verde é usada há mais de 70 anos pelos iratienses. "Aqui era o terreiro da minha casa. Pegava pinhão do chão e sapecava. Tinha uma biquinha que eu e os meus amigos usávamos para tomar banho naquela água gelada", recorda-se um dos integrantes do movimento, Jurandir Fernando Kaminski, 74 anos.
Parque público
No temporal de junho, o arroio encheu e derrubou o muro de uma casa vizinha. Segundo alguns moradores, há pessoas que jogam lixo doméstico no local. A placa indicando a propriedade particular está pichada. Mesmo com o cercado, há moradores que usam a antiga trilha do terreno para ir do bairro Gomes ao Jardim Califórnia. A travessia nem sempre é segura porque há riscos de assaltos na mata fechada.
Conforme Ditzel, o movimento defende a compra do terreno pela prefeitura e a transformação do local num parque público. Segundo Kaminski, os próprios voluntários do movimento se dispõem a cuidar do novo espaço. A prefeitura informou não ter dinheiro para comprar o terreno, avaliado em cerca de R$ 10 milhões.
O movimento conta com um abaixo-assinado com cerca de duas mil assinaturas e espera a posição do Ministério Público e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), já que as licenças para construção do empreendimento foram emitidas pela prefeitura desde 2010. O IAP emitiu as licenças prévia e de instalação porque o projeto está regular, segundo sua assessoria de imprensa. Como o movimento e o Conselho Municipal de Meio Ambiente se mobilizaram em junho, inclusive com uma audiência pública, o MP determinou a suspensão temporária da licença de instalação.



