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teorias políticas

A voz das ruas conquista direitos

Teoria política mostra a importância de os cidadãos se manifestarem e exercerem pressão para que suas necessidades e desejos sejam atendidos

As jornadas de junho tiveram poucos resultados, mas teóricos da política dizem que na democracia é preciso ter persistência diante das frustrações. No longo prazo, os resultados aparecem | Brunno Covello / Gazeta do Povo
As jornadas de junho tiveram poucos resultados, mas teóricos da política dizem que na democracia é preciso ter persistência diante das frustrações. No longo prazo, os resultados aparecem (Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo)

As manifestações de junho passado levaram multidões às ruas. Quase um ano depois, é difícil ver mudanças claras e importantes na política brasileira. A população continua dando mostras de que não acredita nos políticos e poucas das bandeiras erguidas pelos manifestantes tiveram respostas das autoridades. Se nem o protesto adiantou, será que há motivo para desistir de propor melhoras para o país?

Para estudiosos da política, mesmo que não tragam resultados imediatos, protestos e manifestações são sinais importantes de que a população está interessada em aprofundar a democracia e de que percebeu que as mudanças muitas vezes só ocorrem quando há pressão social. Isso passa pela compreensão de que a política tem sempre algum grau de tensão, de conflito, e que os cidadãos precisam se esforçar para que seus interesses sejam atendidos.

Esse é um dos temas, por exemplo, abordados pelo filósofo francês Claude Lefort (1924-2010). Para ele, a democracia tem lógica oposta à do totalitarismo. Num regime totalitário, não há espaço para que se pense diferente daquilo que ordena o governante. Na democracia, os cidadãos não precisam pensar como lhe ordenam. Pelo contrário: devem expor seus pontos de vista e usar o espaço existente para exigir melhorias. A democracia é conflito de ideias, e quem quer conseguir conquistas precisa participar.

"A ênfase aqui está no conflito, na divergência, na luta para impor pautas e para garantir que direitos sejam institucionalizados", afirma a professora de filosofia política Maria Isabel Limongi, da UFPR. Lefort não acredita que a democracia chega à perfeição, e acha que a cada momento é preciso lutar para melhorá-la.

Contrapoder

Interessado nas redes sociais e no papel que elas desempenharam em protestos recentes, o sociólogo espanhol Manuel Castells defende ideia parecida ao dizer que o Estado representa o poder e que a população, ao fazer pressão sobre ele, exerce uma espécie de contrapoder. Em seu livro mais recente, Redes de Indignação e Esperança, Castells afirma que os movimentos sociais sempre exerceram esse papel ao fazer política sem se deixar dominar pelo poder estatal. E a internet, ao permitir que os cidadãos se exprimam e se encontrem, sem depender dos meios de comunicação convencionais, potencializaram esse poder de reação. "É por isso que os governos têm medo da internet", diz Castells no livro.

Nem sempre as manifestações populares se refletem imediatamente na estrutura da democracia. Mas a teoria e a história mostram que, no longo prazo, a luta por direitos costuma dar resultados. "A política", dizia o sociólogo Max Weber um século atrás, "é como a lenta perfuração de tábuas duras. Exige tanto paixão como perspectiva". Para ele, a história confirma que "o homem não teria alcançado o possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível". Mas para conseguir o impossível, alertava Weber, é preciso se preparar para decepções por longo tempo, para "enfrentar até mesmo o desmoronar de todas as esperanças, ou os homens não poderão alcançar nem mesmo aquilo que é possível hoje".

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