
Em um dos momentos mais tensos das oito primeiras sessões do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, disse ontem que o ex-presidente Lula "ordenou" a realização do suposto esquema. Nas palavras do advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que defende Jefferson, Lula "não só sabia como desencadeou tudo" e não está entre os réus devido à "omissão" do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Veja como foram os bastidores do julgamento
"Aqueles ministros [José Dirceu, Luiz Gushiken e Anderson Adauto, também réus] eram apenas executivos dele [Lula]", disse Barbosa. Ele também usou como argumento a fama de político inteligente de Lula. "O presidente não é só safo [esperto]. Ele é doutor honoris causa em universidades internacionais. Mas é um pateta? Tudo isso aconteceu sobre suas barbas e nada."
Barbosa disse que, durante o segundo mandato do presidente, chegou a encaminhar à Casa Civil (na época comandada pela atual presidente Dilma Rousseff) um pedido de informações para saber quais foram as medidas tomadas por Lula sobre o mensalão. "Na prática, não havia sido feito nada."
A tese de que o ex-presidente sabia de tudo contradiz declarações anteriores do próprio Jefferson. Quando o escândalo estourou, em 2005, o ex-deputado disse que havia alertado pessoalmente o ex-presidente sobre o mensalão, mas que Lula era inocente. Para Barbosa, contudo, não há contradição. "Ele [Jefferson] tem de falar aquilo que viu, enquanto eu tenho de iluminar ao caso." A "iluminação" do advogado, no entanto, teve o mesmo foco da maioria dos demais advogados de defesa: Gurgel.
"Se esse julgamento quer a prova, digam ao povo que a culpa é do procurador-geral da República, que não cumpriu o seu trabalho." Barbosa acusou Gurgel de "sentar na denúncia" contra Lula e de ter sido "omisso" o que vai levar a um "festival de absolvições".
Ao falar sobre a suposta participação de Jefferson no mensalão, Barbosa afirmou que os recursos que chegaram ao ex-deputado pelo "valerioduto" faziam parte de uma negociação legal feita entre as direções nacionais de PT e PTB para saldar dívidas da campanha municipal de 2004. "Não era possível vincular-se o que aconteceu um ano antes, na eleição, com votação do projeto que trata da Previdência."
A reforma da Previdência citada pelo advogado seria, segundo a denúncia, uma das propostas cujo apoio parlamentar teria sido pago pelo mensalão. O advogado expôs que não faria sentido que o partido recebesse propina pelo apoio porque é "historicamente" ligado à causa. O ex-deputado é acusado no processo de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Ao todo, ele teria negociado o repasse de pelo menos R$ 4 milhões do PT para o PTB.
Lula não quis comentar a acusação da defesa Jefferson.
Outros deputados
A defesa do ex-deputado Bispo Rodrigues confirmou ontem que seu cliente recebeu R$ 150 mil do valerioduto, mas negou que era pagamento da compra de votos. Seu advogado, Bruno Braga, argumentou que a verba teria sido usada para pagar as despesas eleitorais do antigo PL, hoje PR. A defesa do ex-deputado federal Romeu Queiroz afirmou que a quantia de R$ 120 mil recebido pelo parlamentar do mensalão "tinha aparência de origem sadia".
O procurador e Jô Soares
Fotos: Felipe Sampaio/STF e Paulo Cardeal/TV Globo
O advogado Itapuã Prestes Messias, que defende o ex-primeiro-secretário do PTB Emerson Palmieri, provocou ontem um dos momentos mais constrangedoras do julgamento do mensalão até agora. Ao final da defesa oral de Palmieri, Messias citou a semelhança física entre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel (esq.), e o apresentador de televisão Jô Soares (dir.). Apesar da semelhança, Gurgel não gosta da comparação.
O jornalista e colunista André Gonçalves, do blog Conexão Brasília e correspondente da Gazeta do Povo, acompanhou diretamente de Brasília os bastidores da sessão, em uma cobertura com análise exclusiva. Veja como foi.





