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Eleições

Alianças difíceis de explicar

Para a disputa pela prefeitura da capital, estão unidos partidos de ideologias diversas e antigos adversários

Imagem do abraço entre Lula, Haddad e Maluf chocou mais que a aliança do PT com o PP | Adriana Spaca/ Brazil Photo Press/ Folhapress
Imagem do abraço entre Lula, Haddad e Maluf chocou mais que a aliança do PT com o PP (Foto: Adriana Spaca/ Brazil Photo Press/ Folhapress)

A esperança dos tucanos nativos de manter a prefeitura de Curitiba sob a influên­­cia deles está nas mãos de um filiado a uma das legendas mais fiéis ao governo federal. Já os petistas apostam suas fichas em um ex-tucano, que ganhou destaque como um dos mais ferrenhos opositores ao governo Lula. Aliados, PSC e PCdoB vão para as eleições em uma dobradinha comunista-cristã. Também na disputa, um pupilo do ex-governador Jaime Lerner que ganhou a convenção do PMDB com o apoio decisivo de Roberto Requião. O quadro é confuso, mas é esse o cenário eleitoral de Curitiba em 2012.

Não se trata de algo específico da cidade. Alianças contraditórias se reproduzem por todo o país, começando pelo emblemático acerto de contas entre o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP).

O sistema político brasileiro favorece essas alianças, de acordo com o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira. Com um número alto de partidos com representatividade no Congresso, governantes necessariamente têm de fazer coalizões para conseguir governabilidade – o que ocorreu, por exemplo, na composição da base de apoio ao governo Lula.

Com eleições cada vez mais acirradas e dependentes do horário eleitoral da televisão, essas alianças ideologicamente inconsistentes passaram a ser feitas no processo eleitoral para que as candidaturas tivessem mais tempo no horário eleitoral gratuito, entre outros benefícios. Para Pereira, esse cenário força os políticos a cometer incoerências ao longo de sua trajetória para sobreviver no cenário político. "Muitos critérios que norteavam uma aliança perderam importância", afirma.

Já para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a aliança de antigos adversários para enfrentar um terceiro é algo comum nas principais democracias ocidentais. Entretanto, o caso brasileiro é peculiar já que, frequentemente, os adversários são ideologicamente mais próximos que os aliados. Fleischer avalia que a ideologia conta menos no Brasil do que em outros países – mesmo que ela já não seja um fator tão determinante no exterior também. Além disso, o fato de o quadro partidário brasileiro ser mais recente favorece esse tipo de incoerência.

Discurso

Apesar de a inconsistência ideológica atingir, em um grau ou outro, a maioria dos políticos do país, o atual prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), já deu sinais de que esse será um dos focos de sua campanha. No encontro que anunciou sua aliança com o PPS, Ducci posou diante de um cartaz dizendo "coerência", e criticou, ainda que de forma velada, a saída de Gustavo Fruet (PDT) do PSDB e sua aliança com o governo federal.

Para o professor de Ciên­­cia Política da UFPR Emerson Cervi, essa estratégia é arriscada. Primeiro porque a federalização da discussão pode não ser de interesse do eleitor, que tende a preferir debates mais locais. Segundo porque a própria candidatura de Ducci também tem suas incoerências, como, por exemplo, o fato de ele pertencer a um partido da base de apoio do governo federal e ter como vice uma das principais lideranças da oposição à mesma.

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