
O deputado licenciado André Vargas (PT-PR) renunciou ontem à vice-presidência da Câmara dos Deputados. Em uma carta lida na noite de ontem pelo líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), o paranaense anunciou que abre mão do cargo para se dedicar a sua defesa no processo instaurado ontem pelo Conselho de Ética contra ele. O colegiado investigará as denúncias do envolvimento do petista com o doleiro preso Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
"Tomo essa decisão para que eu possa me concentrar em minha defesa perante o conselho e para não prejudicar o andamento dos trabalhos da Mesa Diretora, e também preservar a imagem da Câmara, do meu partido e de meus colegas deputados", diz o petista no documento.
O conselho terá a partir de agora 90 dias úteis para concluir a investigação e apresentar um parecer que pode prever diversas punições, sendo a mais grave o pedido de cassação do mandato.
A decisão final ficará a cargo do plenário da Casa, em votação aberta. Para haver a perda do mandato, é preciso o voto de pelo menos 257 dos 513 deputados. Vargas ficará inelegível até o início de 2023 caso perca o mandato.
Renúncia
Ao ler a carta, Vicentinho disse que o partido apoia sua decisão e que, a partir de agora, a legenda passará a discutir nomes para substituir Vargas na vice-presidência. Vicentinho hesitou em falar sobre uma possível renúncia de Vargas ao mandato parlamentar e limitou-se a dizer que a questão é "de foro íntimo". "Ele agora quer ter o direito defesa e de ser ouvido", disse.
O deputado estadual Ênio Verri, presidente do PT do Paraná, disse que esteve reunido com Vargas durante a tarde de ontem em Brasília e que o parlamentar teria informado que não pretende renunciar ao mandato. Verri ainda desconhecia a decisão de Vargas de deixar a vice-presidência da Câmara, mas disse que a decisão deve ter sido tomada "para fortalecer sua defesa na comissão de ética da casa".
Processo
Durante a sessão de instalação do processo contra Vargas, integrantes do PT tentaram uma manobra para adiar o início das investigações no Conselho. Escalado para apresentar uma questão de ordem, o deputado Zé Geraldo (PT-PA) defendeu que o processo fosse inicialmente discutido na Corregedoria da Câmara, como propuseram integrantes do PSol.
A iniciativa, no entanto, foi rejeitada pelo presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP), que na sequência, após sorteio, nomeou o deputado Julio Delgado (PSB-MG) como relator do processo.
Colaboraram Katna Baran e Euclides Lucas Garcia
Força-tarefa terá três procuradores que investigaram caso Banestado
Guilherme Voitch
A força-tarefa criada pela Procuradoria-Geral da República para atuar exclusivamente no inquérito da Operação Lava Jato terá três procuradores que já atuaram juntos em outra investigação nacional de um esquema de corrupção. Carlos Fernando dos Santos Lima, Orlando Martello Junior e Deltan Dallagnol participaram da força-tarefa do Banestado, que, em 2002, investigou remessas ilegais de dinheiro para fora do país por meio das contas CC-5.
A força-tarefa do Banestado denunciou mais de 600 pessoas, das quais 97 foram condenadas. Entra elas está justamente o doleiro Alberto Youssef, pivô do inquérito da Operação Lava Jato. Durante a investigação das CC-5, Youssef admitiu ter movimentado US$ 5 bilhões ilegalmente. O doleiro pagou uma multa de R$ 1 milhão e fez um acordo de delação premiada com a Justiça, comprometendo-se a não atuar mais no mercado do dólar o que, conforme o que foi revelado até agora pela Polícia Federal (PF), não ocorreu.
Na prática, a Procuradoria-Geral aposta em profissionais com expertise para ir além do que já foi descoberto pela PF. Assim como ocorreu com a CC-5, na Lava Jato existem indícios de que os operadores lavaram dinheiro de políticos e de servidores públicos que recebiam propina. Também há semelhanças no modelo de envio ilegal de dinheiro, com doleiros atuando de forma conjunta por meio de várias contas.
Integrantes
Santos Lima e Martello Junior são procuradores regionais da 3.ª Região. Dallagnol é procurador da República no Paraná. Além deles, integram a força-tarefa o procurador regional da 4.ª Região Januário Paludo e os procuradores Andrey Borges de Mendonça e Diogo Castor de Matos, respectivamente das Procuradorias de São Paulo e do Paraná.



