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O principal impasse do governo de Dilma Rousseff, passado o furacão que derrubou o ministro Antonio Palocci, passa a ser a falta de alguém capaz de fazer a articulação política com o Congresso Nacional. O trabalho de Luiz Sérgio, ministro das Relações Institucionais, desagrada à maioria dos congressistas. A nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, já deixou claro que esse não será seu papel. E a presidente Dilma não parece ter disposição para negociar pessoalmente com os deputados e senadores. Até aqui, Palocci vinha sendo o único intermediário possível com o Parlamento.
A aposta mais frequente em Brasília é de que, nas próximas semanas, Luiz Sérgio dará o lugar a outro ministro, para que a pasta de Relações Institucionais possa fazer uma dobradinha com Gleisi. Ninguém sabe ainda quem será o substituto, mas imagina-se quais serão suas principais características: terá de ter jogo de cintura; conseguir a confiança dos parlamentares; e ter poder para conseguir o que os aliados de Dilma pedirem.
No Congresso, a impressão que Luiz Sérgio passa é sempre a mesma. "Uma ótima pessoa. Mas não consegue resolver nada", afirma o deputado Dilceu Sperafico (PP-PR). "Ele é uma pessoa belíssima. Mas lhe faltam a força, o carisma e o poder de articulação política", resume o deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR).
A reclamação dos deputados é de que os pedidos não são atendidos. Sperafico afirma, por exemplo, que os parlamentares vêm cobrando a liberação de dinheiro de emendas para municípios e não vêm conseguindo uma resposta. "Na época do Lula, às vezes o relacionamento também emperrava. Mas aí o próprio presidente pegava o telefone e resolvia. Com a Dilma, isso não acontece", diz Stephanes. Lula, aliás, teria sido chamado para conversar com deputados aliados para acalmar os ânimos em relação à articulação política.
De acordo com o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), a insatisfação dos parlamentares se deve em grande medida à demora do governo em preencher cargos de terceiro, quarto e quinto escalões. "Essas nomeações passam pela Casa Civil. O governo tem 25 mil cargos à disposição, e o não preenchimento desagrada aos aliados", disse.
Dentro do próprio governo, há sinais de que a situação atual não pode permanecer por muito tempo. "Neste momento, o que vai acontecer é que ele [Luiz Sérgio] tem que assumir mais tarefas", afirmava ontem um ministro muito próximo à presidente. "Alguma coisa tem que mudar. O sistema, do jeito que está, não dá", completou outro ministro.
Temer
Na avaliação do cientista político Rubens Figueiredo, da USP, em nome da governabilidade, a presidente terá de se render ao PMDB e às habilidades políticas de seu vice, Michel Temer. Figueiredo vê dificuldades do governo em equilibrar administração e política. "O Temer seria o melhor nome, ele tem mais vocação para isso", ponderou.
Depender de Temer, no entanto, talvez seja dar mais poder ao PMDB do que Dilma pretenda. E pode desagradar aos petistas. De qualquer jeito, os peemedebistas, que se reuniram na terça-feira para discutir o tema, já afirmaram que não pretendem ser surpreendidos, numa eventual troca de Luiz Sérgio, como foram na escolha de Gleisi.



