Assim não entra

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A história do trabalhador rural de Cascavel Joanir Pereira, que foi proibido de participar de uma audiência judicial na 3.ª Vara do Trabalho por estar usando sandálias de dedo, chamou a atenção da mídia nacional. Mas o caso do cascavelense está longe de ser uma exceção no poder público paranaense. Se Joanir tivesse compromissos nos principais órgãos públicos de Curitiba, correria grande risco de novamente ser barrado na entrada.

Com exceção da prefeitura de Curitiba, onde só não se permite a entrada de pessoas sem camisas, o acesso aos prédios-sede do governo do estado, da Assembléia Legislativa, da Câmara Municipal, do Tribunal de Justiça (TJ) e do Ministério Público (MP) tem uma série de restrições aos trajes. Em todos eles, não se permite, por exemplo, a entrada de cidadãos com bermudas ou chinelos. Cidadãos humildes como Joanir, portanto, têm de se preocupar quando quiserem se dirigir a esses locais atrás de alguma prestação de serviço público.

O Tribunal de Justiça é o órgão mais rígido quanto aos trajes exigidos. Segundo funcionários do TJ, nem de camiseta se pode entrar. Perante os juízes e desembargadores, durante os julgamentos na sala de sessões, o homem é obrigado, inclusive, a usar terno e gravata.

Na Câmara de Curitiba, o presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), baixou uma portaria pedindo que os funcionários, estagiários ou visitantes usem, de preferência, calça. Bermuda, chinelo e camisetas curtas para mulheres estão proibidos.

Também há algumas restrições no Palácio das Araucárias, o antigo prédio inacabado do Fórum, no Centro Cívico, que hoje é a sede do Executivo estadual, enquanto o Palácio Iguaçu está em obras. "Não sendo de bermuda e chinelo, pode entrar. Pode vir simples", disse um dos responsáveis pela portaria. O tênis, por exemplo, é permitido. As determinações no Palácio das Araucárias partiram da segurança do local, feita por militares.

Na sede do Ministério Público Estadual, também no Centro Cívico, não existem regras formais, mas a bermuda não é aceita no lugar, segundo uma recepcionista que atendeu à ligação da reportagem.

A Assembléia também resolveu endurecer as regras para os freqüentadores do Legislativo. Até o início do ano, qualquer cidadão podia entrar na Assembléia vestido com o que quissesse. Mas, desde março, ninguém mais está autorizado a entrar de bermudas e chinelos. Tudo pelo moralismo, assegura o vice-presidente da Assembléia, deputado Antônio Anibelli (PMDB). "A Mesa Executiva resolveu por bem (fixar) as regras. Para estar na Assembléia Legislativa, tem de estar vestido com dignidade. O local não é um circo nem uma praia."

De acordo com o peemedebista, as normas não valem só para os visitantes, mas também para os parlamentares. "No plenário, por exemplo, tem de estar de terno e gravata e chapéu nem pensar. O que ocorreu em Brasília não acontece aqui no Paraná (recentemente um deputado federal foi proibido de usar chapéu no plenário da Câmara e a história ganhou manchetes da imprensa nacional). Para tudo, tem de haver respeito", diz Anibelli, contando que no Legislativo estadual também foi proibida a venda de salgadinhos e doces nos corredores. "Está sendo organizado um local para isso."