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escândalo na Petrobras

Audiência da Lava Jato é marcada por tensão entre advogado e juiz

O defensor do lobista Fernando Soares, Nélio Machado, reclamou ‘tratamento desigual’ dado pelo juiz federal Sérgio Moro às defesas dos réus nos processos

Nélio Machado (à esquerda) reclamou que não tem acesso à  vídeos e áudios dos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Nélio Machado (à esquerda) reclamou que não tem acesso à vídeos e áudios dos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

A audiência desta segunda-feira (2) na Justiça Federal de Curitiba para oitiva do delegado da Polícia Federal Márcio Anselmo no processo contra o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o lobista Fernando Soares foi marcada pela tensão entre o juiz federal Sérgio Moro e o advogado de Soares, Nélio Machado. Anselmo foi arrolado pela defesa do lobista para esclarecer fatos relacionados à contratação de navios sonda da Samsung pela Diretoria Internacional da Petrobras.

No início da audiência o juiz federal concedeu cinco minutos para a defesa de Soares fazer suas considerações sobre o processo. O advogado reclamou que não tem acesso aos vídeos e áudios dos depoimentos prestados em regime de delação premiada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. De acordo com Moro, a questão já foi apreciada e indeferida.

“Já superados os cinco minutos da defesa que foi dado”, disse Moro para tentar iniciar a oitiva do delegado. “Na última vez a defesa ficou falando por vinte minutos, muito acima de tempo até de alegações finais em processo judicial. Então não vamos voltar a questões que já foram debatidas e vencidas no processo”, disse o juiz.

Contrariado, Machado reclamou. “Eu gostaria de fazer um protesto em relação ao tratamento desigual, mais uma vez, de Vossa Excelência no que diz respeito à amplitude dos direitos da defesa”, disse o advogado. “Não há prazo para a defesa se manifestar. Vossa excelência criou uma legislação própria. Vossa excelência fixa aleatoriamente cinco minutos”, completou.

Impaciente, Moro respondeu: “Doutor, nem no Supremo Tribunal Federal existe tempo ilimitado. A única pessoa que tinha tempo ilimitado para falar seria o Rui Barbosa e não é o caso aqui. Então vamos seguir a audiência”. Antes que o delegado da PF começasse a ser ouvido, Machado ainda “repudiou” a “ironia” de Moro.

Defesa satisfeita

Apesar da tensão, a defesa de Soares saiu da audiência satisfeita com o depoimento desta segunda-feira (2). “Só foi ouvido o delegado Márcio Anselmo que pelo visto nada investigou. Ele não sabe absolutamente nada sobre coisa nenhuma do que foi perguntado”, disse Nélio Machado. “Perguntei sobre a questão das sondas, como foi o processo de aquisição, se o valor era de mercado. Ele não se recordava sequer do nome das empresas”. Segundo Machado, a audiência foi “excepcional” para a defesa do lobista Fernando Soares.

Machado aproveitou para criticar a prática das delações premiadas para produção de provas. “Eu também não vejo racionalidade nem razoabilidade nesse tipo de apuração em processo criminal. Isso não compatibiliza com o Estado Democrático de Direito e é uma das nossas muitas lutas em prol da preservação do devido processo legal”, disse Machado.

Segundo o advogado, é apenas uma “questão de tempo e paciência” para que seu cliente, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, ser liberado.

Entenda o caso

A audiência dessa segunda-feira (2) diz respeito à ação penal que acusa de irregularidades na aquisição de navios sonda o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o lobista Fernando Soares, o doleiro Alberto Youssef e o executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal. Cerveró é acusado de receber US$ 40 milhões em propina por facilitar, a pedido de Soares, a contratação da empresa coreana Samsung para a prestação do serviço.

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