Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
dENÚNCIA

Auditoria aponta superfaturamento em obra de gestão tucana em Minas

Órgão do governador petista Fernando Pimentel aponta problemas em aditivo de contrato feito em 2013, que prevê repasses a empresa contratada para construir e administrar presídios em MG

Antonio Anastasia , quando era governador de Minas Gerais, teria aprovado um aditivo irregular a contrato. | Moreira Mariz/Agência Senado
Antonio Anastasia , quando era governador de Minas Gerais, teria aprovado um aditivo irregular a contrato. (Foto: Moreira Mariz/Agência Senado)

Auditoria feita pela Controladoria-Geral (CGE) de Minas Gerais, órgão do governo Fernando Pimentel (PT), apontou um superfaturamento de R$ 42,5 milhões em contrato da gestão do tucano Antonio Anastasia (2011-2014) com empresas que constroem e administram penitenciárias em Ribeirão das Neves, na Grande Belo Horizonte.

O complexo tem cinco prisões. A parceria é uma das vitrines das administrações do PSDB no estado e foi assinada em 2009, no governo Aécio Neves (PSDB), ao custo de cerca de R$ 2 bilhões.

Um dos signatários do contrato inicial é Telmo Giolito Porto, da empresa Tejofran, réu no processo do cartel de trens de São Paulo. À época, ele era diretor-presidente da GPA, consórcio de cinco empresas que venceu a concorrência pública.

O contrato investigado é um aditivo de 2013 que prevê repasse de mais R$ 123 milhões à GPA. Nele, o governo concorda em pagar parcelas mensais de R$ 1,9 milhão, corrigidas pela inflação, até 2018. Em janeiro, o valor era de R$ 2,1 milhões. A Folha teve acesso ao relatório da auditoria da CGE, que aponta sobrepreço, inclusão indevida de itens, custos duplicados e outras irregularidades no contrato.

Segundo o parecer, o aditivo inclui repasse de dinheiro público para obrigações que a empresa deveria cumprir com recursos próprios. Exemplo: o contrato inicial previa que a GPA recebesse R$ 7 milhões do governo para fornecer água potável aos detentos. No aditivo, o governo ficou responsável por custear essa obrigação, com a construção de um reservatório de água potável, por mais R$ 3 milhões.

No total, R$ 42,5 milhões estariam superfaturados. Nos R$ 80,5 milhões restantes também foram encontrados problemas, mas a auditoria não foi conclusiva até agora.

Aprovação

O aditivo foi aprovado pelo conselho gestor da parceria público-privada, que incluía o então governador Anastasia, dois secretários e o advogado do estado. Após o aval positivo, o contrato foi assinado por representantes da GPA e os secretários Rômulo Ferraz (Defesa Social) e Dorothea Werneck (Desenvolvimento Econômico). Atualmente, Ferraz é subsecretário de Relações Institucionais de Pimentel.

Todos eles negam ter cometido qualquer irregularidade. O PSDB afirma que não houve sobrepreço ou duplicidade, mas um aditivo natural em qualquer contrato.

A parceria da GPA com o governo de Minas é de 27 anos e termina em 2036, mas pode ser prorrogada até 2044. A auditoria não chegou a investigar o contrato inicial, de R$ 2 bilhões. Ao fim da apuração, o governo deve enviar o resultado ao Ministério Público e tomar providências internas.

Suspensão

O primeiro ofício que apontou a possibilidade de algum problema no contrato entre o governo e a GPA veio ainda na gestão passada, em outubro de 2014. A CGE enviou uma nota técnica ao próprio governo contestando itens do contrato. No entanto, nenhuma providência foi tomada.

O novo controlador-geral, Mário Vinícius Spinelli, reabriu o caso. Responsável por desmantelar a máfia dos fiscais na Prefeitura de São Paulo, ele foi chamado pelo governo de Minas para investigar possíveis fraudes de gestões anteriores.

A auditoria foi instalada em fevereiro deste ano, quando a Secretaria de Defesa Social do Estado suspendeu os pagamentos mensais à GPA. A concessionária judicializou a questão e conseguiu que os repasses voltassem a ser feitos. A Advocacia-Geral do Estado recorre da decisão.

Outro lado

Todos os envolvidos no aditivo do contrato entre o governo de Minas Gerais para a concessão de presídios negam irregularidades. O consórcio GPA, responsável por construir e administrar as unidades penais, nega com veemência qualquer tipo de superfaturamento no contrato e diz que ainda vai apresentar suas explicações à CGE.

O termo aditivo mencionado pela Controladoria foi analisado e aprovado integralmente pelas áreas técnicas e pela Advocacia-Geral do Estado, informou, em nota. Segundo a empresa, as melhorias nos projetos e nos materiais utilizados agregaram ganhos na estrutura de segurança das unidades prisionais do complexo.

Respondendo pelas gestões tucanas, pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e pelo Departamento de Obras Públicas (Deop), o PSDB afirmou que não houve qualquer sobrepreço ou duplicidade de custos como aponta o parecer da CGE. O que houve com o aditivo, natural em todo contrato, foi adição de outros serviços baseado em novas demandas que o estado achou necessário constar na PPP, disse a legenda, em nota.

O ex-secretário de Defesa Social Rômulo Ferraz afirma que formalmente não havia questionamentos contrários à assinatura do contrato e que os erros poderiam estar, caso confirmados, em nota técnica do Deop. Ele defendeu a apuração e a punição de possíveis responsáveis e disse que, como o contrato é longo, o valor poderia ser compensado nos próximos anos.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.