O procurador-geral do estado, Sérgio Botto de Lacerda, admitiu ontem que seu pedido de demissão pode ser revogado. "Depende de uma série de fatores. Vamos deixar isso transcorrer de uma maneira normal", disse. No domingo, ele enviou uma carta ao governador Roberto Requião (PMDB) para informar que estava deixando o cargo.
A decisão deixou clara a existência de um racha na administração estadual. Botto de Lacerda denunciou em sua carta a existência no governo de "maus companheiros pertencentes a um grupo que só pensa em si mesmo e em nome de sentimentos espúrios". Os problemas estariam principalmente na gestão da Sanepar.
O mote da discórdia seriam as obras de saneamento no litoral feitas pela empresa Pavibrás. O trabalho foi orçado em R$ 69 milhões, mas o total pago até o momento foi de R$ 130 milhões. O serviço, no entanto, não foi concluído e a Pavibrás ainda estaria solicitando perto de R$ 40 milhões a mais na Justiça.
O procurador-geral confirmou que conversou com Requião sobre o pedido de demissão. Após passar a segunda-feira sem dar declarações à imprensa, preferiu não comentar sua atitude antes de Requião anunciar se aceita ou não o pedido. Também não deixou claro quais seriam suas exigências para permanecer no cargo.
Ontem pela manhã, após a reunião da Escola de Governo, o governador ignorou as perguntas sobre o tema. A assessoria do Palácio Iguaçu também não formulou qualquer resposta oficial. Durante a segunda-feira, deputados governistas chegaram a negar a existência de uma carta de demissão.
"Cá entre nós, é claro que ela existe", disse ontem o chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro. Apesar da declaração, ele negou que o documento tenha passado por suas mãos procedimento necessário para oficializar a exoneração de Botto de Lacerda.
Iatauro admitiu que Requião está avaliando tudo que foi exposto pelo procurador-geral para tomar uma decisão. Também disse que a postura do colega demonstra que a intenção de sair do governo é para valer. "Ele não esteve na Escola de Governo (ontem), nem da reunião do Mãos Limpas (segunda-feira). Isso mostra que ele não deseja mais participar até que a questão seja resolvida."
Embora não tenha sido consultado por Requião sobre a situação, o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) disse que a permanência ou saída de Botto de Lacerda deve ser definida até o fim da semana. Ele não enxerga na situação uma crise com gravidade. "Desconheço as razões da demissão, até porque não li a carta. É algo que está nas mãos do governador e que acredito poder ser contornável."
Caso o procurador-geral saia mesmo do cargo, um dos nomes mais cotados para substituí-lo é o atual diretor de Acompanhamento e Recuperação de Crédito do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Carlos Frederico Marés. Para o seu lugar, poderia ser designado o atual presidente da Sanepar, Stênio Jacob.



