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Morre o vice de Lula

Brasil se despede de Alencar

Depois de lutar por mais de 13 anos contra câncer na região abdominal, o ex-vice-presidente da República faleceu ontem em São Paulo, aos 79 anos

"Tenho consciência de que só sou vice-presidente graças a Lula. As pessoas não votam no vice, votam no candidato a presidente. Procurei não atrapalhar nas duas campanhas e acho que não atrapalhei." 09/11/2009 | Ricardo Stuckert/Presidência
"Tenho consciência de que só sou vice-presidente graças a Lula. As pessoas não votam no vice, votam no candidato a presidente. Procurei não atrapalhar nas duas campanhas e acho que não atrapalhei." 09/11/2009 (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência)

O ex-vice-presidente da República José Alencar morreu ontem aos 79 anos no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, de falência múltipla dos órgãos. A morte, registrada às 14h41, foi decorrência de um câncer no abdome contra o qual Alencar lutava desde 1997. Ele foi internado na última segunda-feira com quadro de suboclusão intestinal. Nestes últimos 14 anos, Alencar foi internado diversas vezes e passou por 17 cirurgias. Sua longa batalha contra a doença tornou o vice-presidente um símbolo de resistência e de bravura.

Confira a cobertura completa sobre a morte de José Alencar

Confira a trajetória de José Alencar

Veja o slideshow com a trajetória de José Alencar

A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajavam juntos a Portugal, anteciparam a volta ao Brasil para acompanhar o velório, que terá início às 10h30 de hoje no Palácio do Planalto. Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e tinha três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.

Biografia

Sua biografia mostra que, desde cedo, o mineiro mostrava indícios da força de vontade e da liderança que o levariam ao Planalto e ao sucesso como empresário. Nascido em 1931, na localidade de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, Alencar se fez por conta própria. Foi o décimo primeiro dos 15 filhos de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Aos 7, já trabalhava na loja do pai. Aos 14 anos deixou a casa da família para trabalhar de balconista numa loja de armarinhos em Muriaé.

Aos 18 anos, iniciou seu próprio negócio, com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe emprestou 15 mil cruzeiros. Na loja "A Queimadeira" vendia tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas e produtos de armarinho. Em 1967, fundou a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas).

Hoje, a empresa é um dos maiores grupos industriais têxteis do país, tem mais de 16 mil funcionários e fábricas em seis estados e uma na Argentina. Entre 1989 e 1995, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e também vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O empresário de sucesso ingressou na carreira política em 1994. Antes disso, porém, havia apoiado abertamente o golpe de Estado que iniciou a ditadura militar de 1964. Mais tarde, apoiaria com igual entusiasmo o movimento Diretas Já.

Foi candidato ao governo de Minas Gerais pelo PMDB, mas não chegou ao segundo turno. Em 1998, foi eleito senador. Começou a se aproximar de Lula em 2001, durante um jantar que ofereceu para comemorar seus 50 anos de atividade empresarial. Lula costurava a aliança para o lançamento de sua quarta candidatura à Presidência e percebeu na figura do mineiro conciliador uma chance de se aproximar do grande empresariado nacional, hostil ao PT nas três eleições que perdera anteriormente.

Lula formalizou o convite em março de 2002. Era preciso, po­­rém, que Alencar saísse do PMDB, pois o partido lançaria a candidatura própria de Anthony Garotinho. Já no PL, foi eleito vice-presidente da República. No começo, Alencar gerou desconforto no governo, tendo sido uma voz discordante dentro do governo contra a política econômica e principalmente contra a elevada taxa de juros defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Em 2004, passou a acumular a Vice-Presidência com o cargo de ministro da Defesa. Por diversas oportunidades, demonstrou-se reticente quanto à sua permanência em um cargo tão importante do ponto de vista estratégico e tão estranho à sua formação empresarial.

A pedido do presidente Lula, porém, exerceu a função até março de 2006, quando renunciou para poder disputar as eleições. Mudou novamente de legenda, desta vez para o PRB, e foi reeleito vice-presidente para o mandato 2007-2010. Durante os dois mandatos, Alencar ocupou interinamente a Presidência por 398 dias - um recorde entre os vice-presidentes do país.

Saúde

O estado de saúde do vice-presidente era motivo de preocupação desde o fim dos anos 90. Em 1997, durante um check-up, Alencar descobriu tumores malignos, um no rim direito e outro no estômago. Desde então, se submeteu a várias cirurgias e dolorosos processos de terapia e recuperação.

Três anos depois, Alencar descobriu um novo câncer, desta vez na próstata. Foi operado e o órgão, removido. Em 2004, um cálculo obstruiu a vesícula do vice-presidente, o que resultou na remoção do órgão. Em 2005, Alencar passou por uma angioplastia para desobstruir as coronárias.

Em 2006, o político foi internado duas vezes, para a retirada de um tumor maligno e de um nódulo no abdome. Um novo tumor na mesma região foi descoberto em 2007. José Alencar teve de ser operado outra vez. No segundo semestre de 2008, passou por nova intervenção para retirar tumores malignos do abdome.

Em janeiro de 2009, o político passou por uma operação de mais de 17 horas de duração. Um tumor principal e outros oito menores foram retirados. Partes dos intestinos delgado e grosso, além de dois terços do ureter, canal responsável pelo transporte da urina entre o rim e a bexiga, precisaram ser removidas.

Em maio do mesmo ano, foram descobertos 18 novos tumores malignos no abdome. O vice-presidente decidiu viajar para os EUApara um tratamento experimental. Em julho de 2009, Alencar sofreu mais duas intervenções.

Alencar voltou ao hospital com quadro infeccioso em setembro do ano passado. No mesmo mês, foi internado mais uma vez, agora para tratar um edema no pulmão. Em outubro, outro internamento para tratar uma obstrução intestinal. Em novembro sofreu um infarto e foi operado para desobstruir o intestino. De dezembro até os primeiros meses de 2011, o ex-vice voltou a ser internado diversas vezes, sempre em situação muito grave. Cirurgias foram descartadas nas últimas internações devido ao estado delicado de sua saúde. Ontem, no início da tarde, Alencar finalmente não resistiu. A família estava a seu lado no quarto no momento em que ele morreu.

Confira a trajetória de José Alencar

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