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Crise

Câmara tem 72 h para se manifestar sobre proposta que tira poder do STF

Pedidos de liminar para suspensão da PEC que submete decisões do Supremo ao Congresso serão julgados pelo plenário da Corte

Ministro Dias Toffoli determinou que a Advocacia-Geral da União também será notificada | Nélson Jr./STF
Ministro Dias Toffoli determinou que a Advocacia-Geral da União também será notificada (Foto: Nélson Jr./STF)

A Mesa da Câmara dos Deputados e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, Décio Lima (PT-SC), terão um prazo de 72 horas para se manifestarem sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) que permite ao Congresso derrubar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao analisar pedido para que seja suspensa a tramitação da proposta, o ministro do STF José Antonio Dias Toffoli fixou esse prazo diante da "natureza excepcional" do processo. A Advocacia-Geral da União (AGU) também deverá ser notificada para, se desejar, se manifestar sobre o episódio.

A proposta é motivo de atrito entre o STF e o Congresso. O presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, disse que, se a PEC for aprovada, a democracia será fragilizada. O ministro Gilmar Mendes afirmou que é melhor fechar a Corte.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, a PEC é uma retaliação. Ele observou que dois deputados condenados por envolvimento no mensalão, os petistas João Paulo Cunha e José Genoino, integram a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que foi responsável pela aprovação da proposta.

Após receber a manifestação da Câmara, Toffoli deverá analisar os pedidos de liminar para suspensão da PEC feitos pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Roberto Freire (PPS-SP). Posteriormente, o plenário da Corte deverá julgar o mérito do caso.

Nesta semana, ao analisar um pedido semelhante, o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar congelando a tramitação do projeto que inibe a criação de partidos políticos. Esse fato alimentou os atritos entre Judiciário e Legislativo.

Cláusulas pétreas

Na primeira das ações contra a PEC que permite ao Congresso derrubar decisões do STF, Carlos Sampaio sustenta que a proposta viola cláusulas pétreas da Constituição porque tende a alterar o equilíbrio e a harmonia entre os Poderes. Roberto Freire afirma que a matéria não deveria sequer ter sido analisada pela CCJ por ser flagrantemente inconstitucional.

Freire argumenta que a novidade tem a tendência de abolir a separação dos Poderes, transformando o Legislativo em instância revisora do Judiciário. "Entendemos que a autoridade responsável pela lesão ao direito foi o presidente da CCJ porque ele colocou a matéria em pauta", afirmou o congressista.

Para Gilmar Mendes, Supremo não invade o Poder Legislativo

Folhapress

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, respondeu ontem às acusações da cúpula do Congresso de que a Corte está invadindo competências alheias. Ele negou a existência de crise entre Legislativo e Judiciário e disse que é o Executivo o responsável por uma "eventual usurpação" das atribuições do Congresso.

"Não é o tribunal quem está usurpando competências. Se há de fato déficit na atuação do Congresso, isso deve-se ao próprio e à eventual usurpação que é cometida pelo Executivo. Esse debate está com o foco errado", disse.

Para Mendes, é o "abuso de medidas provisórias" e a "falta de iniciativa autônoma" que ameaçam o Congresso.

No dia anterior, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), haviam acusado o STF de "intromissão" na pauta legislativa, após Mendes suspender a tramitação de um projeto de lei que inibe a criação de partidos.

A matéria, que já foi aprovada pela Câmara, está na pauta do Senado e prejudica potenciais adversários da presidente Dilma Rousseff na campanha pela reeleição.

Embates

A decisão de Mendes de suspender a tramitação da proposta no Senado é mais um capítulo dos desentendimentos recentes entre o Supremo e o Congresso. Pouco antes dessa medida, uma proposta que reduz os poderes da corte foi aceita por uma comissão da Câmara.

Mendes negou que sua decisão seja uma resposta à comissão. "São coisas diferentes, embora haja coincidência de datas", afirmou.

Apesar de ter negado uma crise, Mendes reconheceu que há um "desconforto institucional inevitável".

Novos partidos

Não é uma questão de governo contra oposição", diz líder

Líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) nega que o projeto de lei que inibe a criação de novos partidos políticos tenha sido patrocinado pelo Planalto para favorecer a presidente Dilma Rousseff em 2014.

A proposta, no entanto, já foi defendida por um dos principais ministros de Dilma, o petista Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

"Não é questão de governo ou de oposição. São os partidos brigando por fundo partidário e tempo de rádio e televisão. É um jogo de cúpulas focado na eleição. Não consigo extrapolar a questão para além dos limites partidários", afirmou Chinaglia.

Prejudicados pela medida, aliados de Marina Silva acusam o governo de sufocar a oposição.

"É o projeto com pegada autoritária mais evidente", afirma o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), que integra a Executiva provisória da Rede, partido que Marina tenta criar.

Feldman chegou a chamar a emenda que reduz ainda mais o tempo de televisão de partidos sem bancada de condenação da Rede à pena de morte.

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