
Seis meses após se unirem em uma aliança inesperada que modificou o panorama das eleições de 2014, Eduardo Campos e Marina Silva formalizaram ontem a chapa do PSB, com ele como candidato a presidente e ela, a vice. A dupla apresentou uma "carta de princípios", com oito pontos que vão servir de base para a campanha. No documento e nos discursos, falaram em um debate limpo, mas não pouparam críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff e à polarização entre PT e PSDB.
"Mais do que um gerente, o Brasil quer uma liderança", disse o ex-governador de Pernambuco. Eleita em 2010 com a referência de gestora do governo Lula, a presidente Dilma e seu perfil "técnico" foram alvo de várias investidas de Campos. O socialista mencionou que tem "gente que acha que sabe de tudo" e "gente que faz política jogando problemas para debaixo do tapete".
Foco da operação Lava Jato, da Polícia Federal, a Petrobras também entrou na mira. "Não vamos permitir que a Petrobras vire um caso de polícia." Ao traçar linhas de diferenciação, Campos adiantou como deve travar o embate político com petistas e tucanos. "Vamos colocar o patrimonialismo e o fisiologismo na oposição", declarou.
Em linhas gerais, o ex-governador prometeu romper com o atual modelo de presidencialismo de coalizão, de troca de apoio parlamentar por cargos no governo. Se depender apenas do tamanho da coligação que conseguiu montar até agora, ele deverá ter dificuldades de negociação com o Congresso Nacional.
Por enquanto, apenas PPS e o recém-criado PPL garantiram que vão se coligar com o PSB. Juntas, as três legendas têm apenas 30 (5%) das 594 cadeiras do Congresso Nacional. Sobre o modelo de negociação política, Campos falou em atuar com "tranquilidade firme".
Início
O evento realizado em Brasília reuniu cerca de 700 pessoas em um hotel e serviu como marco para o início da pré-campanha da dupla. Em paralelo, Dilma foi a Pernambuco no mesmo dia para entregar obras. Terceiro presidenciável, Aécio Neves (PSDB-MG) participou de eventos políticos com aliados no Rio de Janeiro e na Bahia (leia mais nesta página).
Campos e Marina permaneceram lado a lado e mantiveram a afirmação de que o peso da chapa será compartilhado. "Somos o casamento da tapioca com o açaí", disse ela, comparando ambos com alimentos da região que representam ele é nordestino, ela é ex-senadora pelo Acre. Ela enfatizou em vários momentos que não sente incômodo com o papel de vice.
"Quem passou por essa experiência de vida que eu tive jamais trocaria o futuro dos brasileiros por vaidade, por veleidade política. Não se colocaria à frente, porque aprendeu que numa mata virgem com animais ferozes é preciso ir sempre ao lado de um bom mateiro. Também não se colocará atrás, se colocará ao lado. E eu estou aqui para me colocar ao lado de você", disse Marina.
Aliança regional - Coordenador garante que PSB apoiará a reeleição de Richa
Líder do PSB na Câmara dos Deputados e coordenador da pré-campanha da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, o gaúcho Beto Albuquerque disse que o partido está fechado com o PSDB do governador Beto Richa no Paraná. "Vamos apoiar a reeleição do governador. É uma decisão consolidada, não vai mudar", declarou.
Albuquerque negou que exista incômodo com o fato de que Richa vai apoiar preferencialmente o senador Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial. "O Beto foi muito leal ao PSB e nós temos como costume honrar acordos", disse ele, referindo-se à parceria do tucano com o ex-prefeito Luciano Ducci. Principal nome do PSB no estado, Ducci será candidato a deputado federal.
O líder do partido disse, contudo, não ver problemas em uma possível candidatura ao Palácio Iguaçu do deputado federal Rubens Bueno (PPS). Se conseguir se viabilizar, Bueno pretende realizar uma "dobradinha" com Campos. "Ele pode inclusive receber apoio da Rede [partido de Marina Silva, que não foi registrado oficialmente]."
Albuquerque confirmou que Campos e Marina vão se dividir em eventos de campanha pelo Brasil e que a tendência é que a ex-senadora tenha mais compromissos no Sul. Segundo ele, o plano é que pelo menos um deles visite cada uma das 150 maiores cidades do Brasil. "Esse é um trunfo que nenhuma outra chapa tem, ter dois candidatos com capacidade de mobilizar o eleitorado", avaliou.





