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| Foto: Isaac Amorim/MJSP

A já conhecida guerra entre peemedebistas do Paraná foi parar em Brasília e tem dois personagens principais: o senador Roberto Requião e o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (deputado federal licenciado). No centro da troca de farpas e acusações está a batata quente que a indicação de Daniel Gonçalves Filho para a superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Paraná se transformou desde a deflagração da Operação Carne Fraca, na última sexta-feira (17).

Indicado para o cargo pela bancada de parlamentares paranaenses, o fiscal foi preso durante a operação da Polícia Federal e é apontado pelos investigadores como líder do esquema fraudulento envolvendo frigoríficos e fiscais agropecuários no Paraná. Daniel ficou como representante do ministério no Paraná entre julho de 2007 e fevereiro de 2014, e também entre setembro de 2015 a abril de 2016. Agora, pós-Carne Fraca, peemedebistas se esquivam sobre o “apadrinhamento” ao nome.

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Principal envolvido no episódio, já que apareceu nas investigações conversando com Daniel sobre a situação de um frigorífico, Serraglio nega que seja o “padrinho político” do suposto chefe do esquema de propina. Na versão de Serraglio, o nome de Daniel foi apresentado para a bancada, em 2007, pelo então deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR). Micheletto morreu em 2012, em um acidente de carro.

Naquele momento, toda a bancada teria endossado o nome de Daniel, efetivamente nomeado para a cadeira máxima do Mapa no Paraná por outro paranaense, Reinhold Stephanes (na época no PMDB, hoje no PSD), que era o ministro da pasta. A partir daí, relata Serraglio, Daniel passou a ser o contato da bancada dentro do Mapa, o que não significa, reforça ele, que os parlamentares tenham tido participação no suposto esquema de propina.

Kátia Abreu e Requião afirmam que houve pressão de deputados

A polêmica entre Requião e Serraglio, contudo, tem mais ligação com o segundo período de Daniel à frente da superintendência do Mapa no Paraná, entre os anos de 2015 e 2016. A ministra da pasta no primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff era a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que, na terça-feira (21), falou publicamente sobre a nomeação e a exoneração de Daniel, em função da Operação Carne Fraca.

Kátia Abreu narra que, primeiro, como de praxe entre os parlamentares, pediu naquele ano uma indicação de um nome para a superintendência do Paraná ao único representante do PMDB do estado no Senado, Roberto Requião. O parlamentar teria empurrado a questão para a Casa vizinha, para os deputados federais do PMDB do Paraná.

“O senador Requião abriu mão de indicar quem a sua bancada queria indicar. E eu disse ao senador Requião: se vossa excelência não avalizar, eu não vou nomear. E ele, pressionado e já com o pote cheio de pressão, pediu que os deputados fizessem o que quisessem”, disse Kátia Abreu, em discurso na tribuna do Senado. Durante reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, também na terça-feira, Requião endossou a versão da colega.

Fiscal presa na Carne Fraca cita Serraglio como “velhinho que está conosco

Ainda no discurso no Plenário do Senado, a ex-ministra afirmou que dois parlamentares encabeçaram “uma pressão nunca vista” para manter Daniel no posto, a despeito do processo disciplinar que corria contra ele. Katia Abreu se refere a Osmar Serraglio e também ao deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR), ambos com forte atuação na área do agronegócio.

“Eu tenho que ser sincera, porque são dois deputados do meu partido, mas [eles] insistiram para que a lei não fosse cumprida ao ponto de eu ter que ligar para a presidente Dilma e lhe dizer a minha decisão de demitir e que com as consequências políticas eu ia arcar. Ela imediatamente disse: “Demita já. Faça o que tem que ser feito”. Mas foram dias de pressão”, disse Kátia Abreu.

Na versão dos dois parlamentares, contudo, tal “pressão” não ocorreu. Serraglio e Sérgio Souza teriam ido ao gabinete da então ministra porque Daniel havia reclamado de uma espécie de “perseguição” ao seu nome. Serraglio também alega que, quando descobriram a existência do processo, os parlamentares teriam “tirado o pé”.

Serraglio afirma que Requião endossou nomeação de fiscal suspeito

Além disso, na avaliação de Osmar Serraglio, a fala de Kátia Abreu comprovaria que o senador Requião também endossou, em 2015, o nome de Daniel. “E cabe lembrar que sempre que um assunto envolvendo Daniel Gonçalves Filho precisou ser tratado no governo federal, [isso] foi feito em nome da bancada, nunca de forma individualizada”, escreveu o atual ministro da Justiça e da Segurança Pública, em nota distribuída à imprensa.

Também em nota, Sérgio Souza escreveu que “quem conhece a ministra sabe que ela não é de aceitar e muito menos ceder às pressões”. “Aliás, é necessário esclarecer que a então ministra Kátia Abreu foi quem pressionou para votar contra o impeachment da ex-presidente Dilma”, atacou.

Deputado citado na Carne Fraca é eleito presidente da Comissão de Agricultura da Câmarao

Em nota encaminha nesta quarta-feira (23) à Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da senadora do Tocantins reforçou que “a pedido de Serraglio, uma cópia física do volumoso processo foi enviada ao seu gabinete na Câmara dos Deputados e, em seguida, Serraglio e Souza argumentaram com a ministra que Daniel era um ótimo superintendente e que as acusações contra ele eram, na realidade, revanche ou retaliação por parte de alguns servidores que resistiam à sua ativa e eficiente forma de trabalhar”.

Requião e Gleisi querem levar Serraglio para dar explicações no Senado

Ao menos Serraglio deve ser obrigado a dar novas explicações sobre o assunto na próxima semana. Opositores no Senado, especialmente Roberto Requião e Gleisi Hoffmann (PT-PR), articulam uma convocação ao ministro da Justiça e da Segurança Pública. “Ele tem que explicar por que insistiu em manter o esquema de corrupção na fiscalização”, provocou Requião.

Na manhã desta quarta-feira (23), a reportagem deixou recado no escritório de Curitiba Sánchez Rios Advocacia Criminal, responsável pela defesa de Daniel, mas ainda não houve retorno. Daniel está preso preventivamente desde sexta-feira (17). A PF informou que o fiscal está na Casa de Custódia de Piraquara, município da região metropolitana de Curitiba.

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