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A pesquisa CNT/Sensus que será divulgada nesta terça-feira em Brasília mostra Lula vencendo novamente seus adversários nos dois turnos, abrindo uma diferença de 10 pontos no segundo turno sobre o prefeito de São Paulo, José Serra, que continua sendo o adversário mais próximo dele. Ela deve facilitar a escolha do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidato do PSDB para enfrentar Lula, pois dificilmente Serra encontrará ânimo, ou justificativas, para disputar a indicação e deixar a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato.

Na verdade, disputar novamente agora a Presidência não estava nos planos de Serra, que se viu pressionado — e mesmo pessoalmente tentado — diante da queda de Lula e sua ascensão nas pesquisas de opinião. Somente sendo o único candidato tucano a derrotar Lula ele poderia justificar a saída, depois de ter assinado um documento se comprometendo a não fazê-lo, e de dar declarações públicas de que não o faria, como a entrevista que circula na internet, em que garante ao âncora Boris Casoy que não fará da prefeitura um trampolim para a Presidência.

Se essa já era uma questão difícil quando Serra aparecia como favorito nas pesquisas, agora com a mudança dos ventos, mesmo que possa ser momentânea, não há mais razão para Serra se angustiar com o assunto. Com a vantagem para ele de que nunca disse que realmente disputaria a Presidência este ano.

A tendência de melhora de Lula já havia sido detectada em uma pesquisa interna da Ipsos-Opinion a que os políticos tiveram acesso. Assim como mostrará a pesquisa de hoje do CNT/Sensus, todas as avaliações do governo Lula melhoraram na opinião dos eleitores. De dezembro para janeiro, na simulação do primeiro turno, o presidente Lula subiu de 31% das preferências para 35%, enquanto Serra caiu nada menos que sete pontos percentuais, indo de 38% para 31%. Num hipotético segundo turno, Lula também passa Serra, subindo de 37% para 46% dos votos, enquanto Serra caiu os mesmos nove pontos percentuais, indo de 51% para 42%.

A margem favorável ao presidente era pequena, de quatro pontos percentuais nos dois casos, e se ampliou agora na pesquisa CNT/Sensus. É conseqüência direta de Lula estar em campanha permanente sem opositor, além de ter usado a televisão no mês passado em duas ocasiões fortes: o pronunciamento por meio de uma cadeia nacional de rádio e televisão, a pretexto de anunciar o pagamento antecipado da dívida com o FMI, e a entrevista que deu ao "Fantástico" no início do novo ano.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, andava mostrando a pesquisa do Ipsos-Opinion em todas as reuniões políticas, satisfeito com sua atuação: permanece se mantendo na faixa dos 18% — em dezembro tinha 19% —, que considera ótima para o atual momento de superexposição de Lula. O fato é que a avaliação de Lula e a do governo melhorou pelo segundo mês consecutivo. Voltaram a subir na avaliação popular as frases "entende os problemas dos pobres" e "é gente como a gente".

Pontos fortesNa análise dos pontos fortes do governo, o apoio às populações mais pobres, que sumira em outubro, voltou a aparecer agora em janeiro. Todas essas mudanças têm uma razão de ser: melhorou a avaliação da área social do governo. Até mesmo a percepção de uma melhora na gestão do governo aumentou, embora o índice ainda seja apenas medíocre: 50% dos consultados concordaram com essas três afirmações: "tem pulso forte"; "tem experiência administrativa" e "tem preparo para assumir o cargo".

Além da exposição pública, há uma outra explicação para a melhoria da avaliação de Lula: aumentaram o consumo e a confiança do consumidor, há uma percepção de maior poder de compra. Mas o presidente continua a enfrentar problemas sérios de rejeição, apesar de ter melhorado também nesse quesito. Hoje são 53% os que consideram que ele não merece uma segunda chance, enquanto 45% apóiam a reeleição. Mas esse número já foi pior: em dezembro do ano passado, a reeleição de Lula chegou a ter a rejeição de 61% do eleitorado. Atualmente, o índice dos que não votariam nele de maneira alguma está em 31%, enquanto os que já decidiram votar é de 34%.

O PSDB tem estudos que mostram que a melhoria da avaliação do governo Lula não significa que a disputa pela Presidência esteja perdida, embora venha a ser muito mais difícil derrotar Lula do que chegou a parecer há alguns meses. A situação de hoje parece estar longe da época em que Lula era um candidato imbatível, mas está mais favorável à reeleição do que já esteve. A corrupção, uma marca que não desaparece nas críticas ao governo e que tem tudo para renascer na campanha eleitoral, se junta à má avaliação do governo como um todo para aumentar a rejeição a Lula e seu governo.

A análise dos especialistas mostra que hoje Lula teria muito mais dificuldade para conseguir o apoio dos eleitores dos demais candidatos. Há um consenso sobre a motivação do voto em uma eleição de dois turnos. No primeiro, vota-se a favor de um candidato, e no segundo vota-se contra. Lula é de longe o candidato mais conhecido do eleitorado, mais conhecido até mesmo que Serra, e está sozinho na raia neste momento. O governador Geraldo Alckmin é o menos conhecido de todos, sendo que uma parte da população diz que nunca ouviu falar dele.

Sua insistência em manter a candidatura, mesmo que a tendência da cúpula partidária aparentemente fosse por Serra, facilitará a definição sem que sua candidatura pareça uma escolha pelo candidato para perder. A cúpula tucana, que se preocupava em encontrar uma saída honrosa para Alckmin que não dividisse o partido, agora deve se preparar para não parecer que Serra desistiu com medo de perder.

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