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A vereadora Julieta Reis, sem querer, mexeu em um tremendo vespeiro – e se deu mal. Sua proposta para regular a posse de bichos de estimação em condomínios de Curitiba descontentou uma das comunidades mais organizadas da cidade: a dos defensores dos animais. Quem conhece um ativista dos direitos dos bichos sabe que se trata de pessoal altamente mobilizado. Apaixonados, não deixam nada que possa ir contra suas convicções passar debaixo do radar.

A fúria desse povo derrubou o projeto da vereadora. Em tese, Julieta Reis, do Democratas, queria apenas discutir os limites para a posse de animais em casas e apartamentos. Os cachorreiros, no entanto, viram nas declarações da vereadora, e nas entrelinhas da proposta, uma ameaça a seus interesses. Se anteciparam à discussão sobre a parte mais polêmica, que poderia limitar o número de animais por pessoa. E, unidos, forçaram a vereadora a engavetar sua proposta.

Julieta Reis recuou. Disse que foi mal interpretada, mas que, a pedido de ONGs que ela mesma considera sérias, retirou seu projeto de pauta. Para muita gente, foi tarde demais. Em fóruns de discussão e blogs a vereadora foi chamada de tudo: palavras que nem poderiam entrar nesse espaço foram usadas para descrever o projeto e sua autora.

Apesar dos exageros (não acho que seja necessário xingar para discutir), admiro imensamente a mobilização de que esse pessoal é capaz. Você pode até não concordar com os ideais deles, mas é impossível deixar de perceber o quanto eles são uma bela exceção à regra da apatia e da falta de interesse. Precisávamos de gente assim em todas as áreas.

Fico pensando: se um grupo de pessoas foi capaz de, com a força de sua mobilização, mudar o rumo da legislação da cidade para proteger seus animais, não seria possível fazer o mesmo em outros setores? Se tivéssemos gente tão mobilizada assim na área da ética na política, por exemplo, o que teria acontecido com o deputado Jocelito Canto, que afirmou a existência ampla, geral e irrestrita de caixas 2 nas campanhas de todos os seus pares?

Se houvesse gente mobilizada interessada em proteger o dinheiro público, para dar outro exemplo, o que estaria ouvindo o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Nelson Justus, pego como comandante de uma Casa em que – tudo indica – os mais antigos e perigosos vícios da política dominavam o uso de um orçamento milionário?

Mas as protetoras e os protetores dos animais são uma exceção. Jocelito falou o absurdo do ano e continua lá, candidatíssimo à reeleição. Justus também permanece em seu posto e pouco é incomodado pelos cidadãos. Depois das denúncias de corrupção, apenas uma vez os manifestantes foram ao Legislativo em grande número. E assim as coisas vão andando, lentamente, dependendo apenas da boa vontade das autoridades.

Fica a lição. Quando o povo se mobiliza, consegue conquistar o que quer. É o único caminho para termos uma democracia melhor. Tivemos um belo exemplo. Lutamos pelo nosso direito de proteger nossos cães. E vencemos. Isso é ótimo. Mas quanto tempo vamos demorar para perceber que precisamos lutar pelos nossos outros interesses?

P.S.: Esta coluna sai do ar por três semanas devido às férias do titular. Volta em maio, pronta para a cobertura das eleições. Boa sorte para todos nós.

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