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Caro governador,

O senhor tem dito sempre que o diálogo é a marca forte de seu governo. Crendo nisso, uso esse espaço justamente para que o diálogo aconteça. Ao contrário do senhor, não tenho mandato concedido por ninguém. Mas creio que falo em nome de muitos quando digo que a ação da Polícia Militar no Largo da Ordem, neste domingo, foi terrível. Muitos, como eu, devem ter ficado chocados, amedrontados e entristecidos com a ação da polícia.

Desde já deixo claro que minha intenção não é, nem de longe, atribuir ao senhor a culpa pelo ocorrido. Primeiro porque não há modo de o governador, por mais bem- intencionado que seja, estar a par de toda atividade da polícia. E em segundo lugar porque o senhor está no cargo há somente um ano – e a truculência da polícia é um problema muito mais antigo, herdado de seus antecessores.

O senhor é jovem, mas há de se lembrar de fatos de mandatos passados. No governo de seu correligionário Alvaro Dias, a tropa usou cavalos e bombas para debelar uma manifestação pacífica de professores. No primeiro mandato de Roberto Requião, o sem-terra Teixeirinha foi brutalmente assassinado pela PM. No governo Lerner, a PM também matou, como o senhor sabe, o sem-terra Antônio Tavares.

Na segunda passagem de Requião pelo governo, um episódio terrível: descobriu-se que a polícia assassinou a sangue frio cinco homens que haviam sido presos com vida. É de se elogiar, neste caso, o fato de que pelo menos a investigação funcionou e apontou tanto o crime quanto os culpados.

Agora, no seu mandato, a PM atacou de novo. Transformou o centro histórico de Curitiba em praça de guerra. Como disse, não creio que o senhor tenha culpa. Mas isso não quer dizer que o senhor não deva tomar atitudes fortes para que os fatos não voltem a se repetir.

Antes de mais nada, foi absolutamente equivocada a postura de alguns de seus comandados. O líder na Assembleia, Ademar Traiano, tentou justificar o injustificável. Pior ainda fez o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, que classificou a ação da PM como "muito positiva" e afirmou que houve "uso progressivo da força".

Se o uso da força foi progressivo, não sei dizer, mas certamente foi desproporcional. Não é uso proporcional da força, por exemplo, atacar a tiros de borracha uma multidão que corria apavorada da PM. Muito menos é uso proporcional de força descer o cassetete em um homem caído, imobilizado e indefeso.

Caberia ao senhor mostrar que a ação não foi correta. Que os seus subordinados erraram. Ter pulso firme para investigar e punir os responsáveis. Gente truculenta não merece estar na PM. A polícia serve para proteger, como o senhor certamente compreende. Não para atacar os cidadãos desnecessariamente.

Não se deixe enrolar, governador, com a conversa de que sempre foi assim e de que sempre será. Pu­­­na, dê o exemplo. E depois passe à fase, mais difícil, que é a de melhorar a polícia. Os PMs têm razão ao reclamar do soldo – e a população não pode depender de soldados que viram a noite em segundo emprego, sem dormir direito, sem dinheiro para o que precisam.

O senhor está há apenas um ano no cargo. Ainda há tempo. Não deixe para depois. Enfrente esse problema e o estado inteiro saberá dar o valor correto ao seu trabalho. Mas, se nada for feito, o problema só tende a crescer.

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