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Trinta anos atrás, quando o Brasil se preparava para sair da ditadura, uma nova geração de políticos surgia no Paraná. José Richa era uma novidade vinda do Rio de Janeiro. Alvaro Dias, outro forasteiro, esse paulista, era o deputado federal mais votado do estado. Jaime Lerner, descendente de imigrantes, chegava à prefeitura de Curitiba exclusivamente pelos seus méritos técnicos de arquiteto e urbanista. Requião, o único desses com família importante na política local, ainda não tinha entrado em cena.

Em 1982, quando Richa se elegeu para o governo, foi uma grande mudança. Desbancou o grupo fortíssimo de Ney Braga, graças à força do movimento pela redemocratização. Passou o poder para Alvaro. E parecia que novos ventos tomavam a política local. O que não podia se imaginar então era que esse novo grupo se perpetuaria no poder do estado, formando uma espécie de nova oligarquia local.

Três anos atrás, quando Requião conseguiu seu terceiro mandato no Palácio Iguaçu, o Paraná se tornou o único estado do país a ter os mesmos dois governantes durante um período de 20 anos. O próprio Requião e Lerner se alternam no Palácio Iguaçu desde 1990. Em termos de concentração de poder, ultrapassamos até o Sergipe, que tinha dois governadores em 16 anos de poder.

Agora, em 2010, exatamente quando se completam as duas décadas da dupla, haverá novas eleições. E o revezamento de uns poucos políticos no poder acabará, certo?

Ao que tudo indica, não será bem assim. Até agora, temos quatro candidatos mais sérios para a disputa do governo do estado no ano que vem. Alvaro, dentre esses, é o único que já foi governador. Se ele for o eleito, chegaremos a 28 anos (1987-2014) com apenas três governadores. Mas e se ganharem os outros?

Bem, um dos outros candidatos é Osmar Dias. Irmão do ex-governador e que entrou na política pelas mãos de Alvaro. Se ganhar, representará apenas uma pequena mudança na conta. Serão 28 anos com três famílias no poder. E se o vencedor for Beto Richa? Nesse caso, a conta precisa voltar um pouco mais. Serão apenas quatro famílias no poder desde 1983. Ou seja: 32 anos com quatro famílias no governo.

O único dos quatro candidatos que não tem laços familiares com os grupos que vêm se revezando no comando do estado é Orlando Pes­­­suti, do PMDB. A explicação aqui é simples. Como Requião está no governo, está impedido legalmente de colocar um de seus irmãos na disputa de 2010. Caso contrário, alguém duvida que ele poderia emplacar Maurício Requião como o candidato do partido?

Pode parecer mera curiosidade numérica. Mas não é. O fato a que estamos assistindo é a consolidação de uma oligarquia no estado. O governo de poucos. E não é um fenômeno que se restrinja ao governo. O Paraná é o único estado com dois irmãos ocupando duas das três das vagas no Senado. Tem um governador que colocou seus três irmãos em cargos públicos e a mulher para cuidar do Museu Oscar Niemeyer. O prefeito de Curitiba, filho de ex-governador, também pôs a mulher e o irmão na administração pública.

É, literalmente, um governo de poucos. De famílias que chegaram ao poder no início da redemocratização brasileira e que, de uma maneira ou de outra,conseguiram exclusividade sobre o poder local. Até onde isso vai? Não se sabe. Mas o certo é que oligarquias nunca fizeram bem a ninguém. A não ser, é claro, para quem faz parte do grupo dominante.

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