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Dizem que reconhecer o problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Senão, jogamos o problema para debaixo do tapete e por lá ele fica. Escondido, mas causando estragos. Pois bem. Às vezes a gente tem boas novas, mesmo no mundo da política. E foi o que aconteceu, pelo menos para mim, nesta semana. O problema, parece, está sendo reconhecido.

Digo isso porque, na semana passada, tratei aqui de um assunto que imaginei ser impopular. Critiquei não os políticos profissionais, por nós eleitos. Mas a nós mesmos, cidadãos. O motivo era o desligamento dos radares em Curitiba e a estupidez revelada dos motoristas, que passaram a desrespeitar imediatamente a lei de trânsito. Em um só dia, foram 10 mil casos de excesso de velocidade registrados. Vidas postas em riscos 10 mil vezes num só dia. Por nós mesmos.

Comparei o mau comportamento nosso ao dos políticos. Afinal, parece óbvio que, se nos comportamos assim, vamos eleger pessoas que também pouco se lixam para a opinião pública, para a lei e para seus conterrâneos. Co­­­lo­­­camos os princípios éticos de lado em nossas vidas. Por que não iríamos descartá-los também na hora da eleição?

O que eu não imaginava é que a comparação seria bem aceita. Pensei que seria ignorado – afinal, gostamos de pensar que o problema são os outros. Nós estamos fazendo a nossa parte e esses deputados, senadores etc, pisam na bola o tempo todo. O que fizemos para merecer isso? Fica tudo mais fácil quando raciocinamos assim. Mas simplesmente não é verdade.

A lógica é bastante simples. Se eles estão se locupletando, se estão passando por cima das regras, se governam ou legislam em causa própria, na verdade, é apenas por um motivo: nós deixamos que eles façam isso. E não só pelo fato de que nós os elegemos. Embora isso também seja, no mínimo, relevante: sem nosso voto, não existiria Sarney. Não haveria Arruda. Não teríamos Maluf.

Mas é mais do que isso. Nas poucas vezes em que realmente nos indignamos, conseguimos mudar algo. Passeatas derrubaram um presidente. Nossos protestos geraram leis. Cassaram mandatos. E criaram momentos memoráveis na vida nacional. Mas quantas vezes nos indignamos?

Seriam impossíveis as bandalheiras na política se estivéssemos atentos. Se fiscalizássemos. Se lêssemos jornais para saber o que o cara que elegemos anda fazendo. Se participássemos de partidos, de associações de bairros, de qualquer coisa. Mas o fato é que estamos ocupados demais com nossas vidas. Preocupados demais com nossas contas, com nossas tarefas, com o que for, e acabamos esquecendo de cuidar do que é de todos, do que é nosso. A vida é mesmo dura. E tudo fica em segundo plano. E nos acostumamos a ver a política como uma coisa dos outros.

Dizemos que odiamos os políticos. E às vezes não há como não odiar alguns deles. Mas já se disse que somos políticos por natureza. A convivência, a vida em sociedade é que nos faz humanos. E obedecer às regras mínimas sociais é o que se exige para que tudo seja suportável. Isso significa não furar o sinal, não ignorar a velocidade máxima. E significa cuidar do que acontece na vida da cidade, do país. Elegendo gente séria e cuidando para que eles não errem demais.

Somos todos responsáveis. E fiquei feliz de receber cartas de bastante gente que concorda com isso. Gente que cansou de reclamar dos outros e viu que o problema pode estar em nós. A vida é dura. E é difícil assumir mais coisas. Mas se não cuidarmos da nossa vida em comum, se não nos acostumarmos a pensar que isso também é nossa obrigação, a tendência é que os políticos profissionais dominem sozinhos a cena. E já sabemos no que isso costuma dar: é aí que nossa vida fica realmente mais difícil.

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