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As empresas de ônibus têm de pagar o décimo terceiro de motoristas e cobradores até a próxima sexta-feira. Como elas dizem que não têm dinheiro para isso, o risco de haver problemas (como uma greve) é grande. Do ponto de vista do cidadão, o problema está em arranjar um jeito de ir de casa para o trabalho (no mínimo). Do ponto de vista dos políticos, o que pode estar em jogo é a próxima eleição municipal.

Na semana que passou, uma das empresas que prestam serviços para a prefeitura de Curitiba já teve um indicativo de greve. A Araucária não tinha conseguido pagar a quinzena dos trabalhadores em dia e eles ameaçaram com a paralisação. A empresa correu atrás, pagou os 40% do salário e tudo continuou como antes: os passageiros não chegaram nem a saber o que se passava.

Com o décimo terceiro, a coisa é diferente. As empresas dizem que não têm caixa para mais nada. Em parte, porque a prefeitura deixou crescer uma dívida de R$ 9,6 milhões com as concessionárias. Curiosamente, é quase o mesmo valor que elas precisam desembolsar para pagar a primeira parcela do décimo terceiro salário: R$ 10 milhões. As empresas foram à Justiça para exigir o pagamento, mas na última hora a Urbs derrubou a liminar que exigia que tudo fosse posto em dia.

Trata-se de um tremendo jogo de interesses. As empresas, ao longo do ano, receberam R$ 16 milhões em pequenas parcelas para ir acumulando e pagar o décimo terceiro dos trabalhadores. Mas dizem que, com a dívida da prefeitura, não estão conseguindo fazer frente a todos os seus compromissos. A Urbs chegou a dizer que a dívida que tem com os empresários era menor do que o lucro dos patrões – o corolário era que eles deveriam abrir mão do seu, temporariamente, para pagar a folha salarial.

Por outro lado, a prefeitura é credora do governo do estado. Do total devido às empresas, R$ 7 milhões eram de subsídios atrasados devidos pelo Palácio Iguaçu. A Comec, assim como a Urbs, deve, não nega e diz que paga quando puder. Na sexta-feira, mandou R$ 1,5 milhão para a Urbs. Continua devendo R$ 5,5 milhões. Pode ser que o resto venha logo, pode ser que demore.

Todas as partes envolvidas alegam que a situação econômica do país não é lá essas coisas, e cada um empurra a responsabilidade para o próximo. Quem corre o risco de ficar realmente sem dinheiro, no entanto, são os motoristas e os cobradores. E não é difícil imaginar que, se isso ocorrer, eles vão parar o sistema. As empresas não ficariam nada incomodadas com uma greve que, ao fim e ao cabo, obrigaria a Urbs para correr e pôr as contas em dia.

Na ponta do lápis, quem tem menos a perder com tudo isso são as empresas, que têm contrato garantido para mais de década e, uma ou outra hora, vão receber. Beto Richa (PSDB) continua em aperto para pagar, mas leva a sorte de o povão não associar o ônibus em greve com o governo do estado. Mais: não há lei que o obrigue, no momento, a manter o subsídio. O prefeito Gustavo Fruet (PDT) tem menos sorte, e terá de maquinar alguma coisa para pagar tudo no curto prazo e resolver o buraco de maneira mais definitiva. Caso contrário, viverá ameaçado pela falta de grana no caixa.

Mas quem tem mais a perder mesmo é você que depende do ônibus para se locomover. Se o busão parar, é você que vai ter que se virar.

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