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Até parece uma competição de nado sincronizado: a Operação Lava Jato prendeu ontem em São Paulo o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, acusado de transferir (para esconder) 20 milhões de euros obtidos de propinas da Suíça para o Principado de Mônaco. Aqui na paróquia, o Gaeco, braço policial do Ministério Público Estadual, prendeu o sr. Luiz Abi, primo do governador Beto Richa, frequentador assíduo de antessalas do Palácio Iguaçu, acusado de envolvimento em suposta fraude em licitações do estado.

“Que país é este?” perguntou Duque, perplexo, ao seu advogado ao ser comunicado em novembro, quando foi preso pela primeira vez. Certamente não repetiu, ontem, a mesma pergunta, pois teve tempo de ver, no domingo, a multidão que foi às ruas para protestar contra a corrupção. Ficou sabendo, então, que país é este.

Desconhecem-se as palavras que Luiz Abi teria dito quando lhe foi apresentado o mandado de prisão, ontem, num hotel de Curitiba. Não deve ter perguntado “que estado é esse” antes de ser levado a Londrina, cidade do seu domicílio e origem das investigações do Gaeco que o envolveram.

Até o fechamento desta coluna, sabia-se pouco das acusações contra o “brimo”, como Luiz Abi era chamado. Extraoficialmente, seu envolvimento seria num processo de licitação de oficinas mecânicas encarregadas de manutenção de viaturas da frota oficial, promovida recentemente pelo governo estadual após meses de discussão no âmbito judicial.

Há especulações mais graves, não confirmadas – e, por isso, dê-se o benefício da dúvida – de que a prisão guardaria relação com a recente descoberta, também pelo Gaeco, de um esquema de propinagem na delegacia da Receita Estadual em Londrina. Empresários que queriam se ver livres do pagamento de impostos recorriam ao chefe da Delegacia e a auditores fiscais e lhes pagavam valores de tabela para ter seus nomes retirados da lista de inadimplentes e/ou sonegadores. A operação teria surrupiado R$ 500 milhões dos cofres públicos.

A ponta dessa meada começou a ser puxada quando da prisão de um fotógrafo (até então contratado pelo Palácio Iguaçu) por exploração de prostituição de menores. Os servidores da Receita, também presos, foram acusados de fazer parte das mesmas orgias.

A “bola” já vinha sendo cantada há dias por fontes da coluna. Na edição do último dia 8, uma nota informava sobre a possibilidade bastante próxima de ocorrerem “tremores nos alicerces do Palácio Iguaçu” por conta do aprofundamento das investigações do Gaeco e da sua possível interligação com a Operação Bemol, da Polícia Federal, que desvendou operações de lavagem em vários estados e em algumas cidades do Paraná, como Londrina (outra vez) e Foz do Iguaçu.

Dizia-se, em contraposição ao slogan de campanha e do pós-campanha, que “o pior está por vir”.

Esconde-esconde

A bruxa está solta. Ela resolveu assombrar no mesmo dia dois palácios – o do Planalto, temeroso do que a Operação Lava Jato vai levantar com a prisão de Duque, dono da mais rentável diretoria da Petrobras que abastecia os cofres de campanha do PT, e o do Iguaçu.

Luiz Abi, ao contrário de Duque, não é diretor de nada e nem tem cargo algum no governo, mas já faz tempo que causa embaraços para o governo. Tanto que, quando fotografado no gabinete do governador em 2013, a Secretaria de Comunicação teve de recorrer apressadamente ao Photo-shop para apagar o registro de sua presença – mesmo método a que, num tempo em que o Photoshop não existia, Lênin e Stalin recorriam para fazer “desaparecer” desafetos dos registros fotográficos dos primórdios da União Soviética.

O nado sincronizado entre as administrações da presidente Dilma Rousseff e do governador Beto Richa não se circunscreve nestas duas prisões. Ambos estão sofrendo de um mal que eles mesmos criaram – o de esconder maliciosamente da população a desastrosa situação financeira, respectivamente, federal e estadual, para não perderem as eleições de 2014. E ambos, tão logo reeleitos, deixaram cair a máscara ao se verem obrigados a baixar indigestos pacotaços tributários e a cortar direitos de trabalhadores.

Beto se viu na contingência de recuar um bom trecho de suas propostas depois que o professorado, em greve por 29 dias, acampou no Centro Cívico e depois da vergonha de fazer seus deputados usarem um camburão policial para poderem entrar na Assembleia.

A presidente, por sua vez, neste domingo, ficou assustada (mas respeitou) quando viu multidões (contadas em milhões ou milhares de pessoas, de acordo com o sectarismo de cada um) tomaram as ruas aos gritos de “fora Dilma”.

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