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Como diria Júlio Cesar, o grande imperador romano em 41 a.C., ao lançar suas legiões à travessia do Rubicão: “Alea jacta est” – frase que pode ser traduzida para o português, a última flor do Lácio, como “a sorte está lançada”. Têm o mesmo sentido as sessões da Comissão Especial do Impeachment que se iniciam hoje no Senado para, dentro de 10 dias úteis, decidir a sorte de Dilma Rousseff.

Adeus a Alex 1

Passou com pálidos registros a morte do engenheiro Alex Beltrão, no último dia 4, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, onde residia há anos. Com a discrição que lhe era peculiar, Alex foi um dos pioneiros do sistema de planejamento do estado já no primeiro governo Ney Braga, no início dos anos 1960. Posteriormente, a partir de 1966, ocupou por 26 anos a presidência da Organização Mundial do Café (OMC), com sede em Londres.

Adeus a Alex 2

Voltou a participar da administração do Paraná no governo Jaime Lerner, nos anos 90. Foi um dos que conceberam o Anel de Integração, que Beltrão pensava não apenas como uma malha de rodovias estratégicas, mas como uma rede de infraestrutura mais complexa (incluindo redes digitais) capaz de levar desenvolvimento a todas as regiões do estado.

Adeus a Alex 3

Foi também secretário de Ciência e Tecnologia e um dos incentivadores da criação e construção do Museu Oscar Niemeyer – o Museu do Olho, no Centro Cívico.

Basta a maioria simples dos 21 membros da Comissão para selar o destino da presidente. Mesmo que seu afastamento, pela legislação, seja provisório e no máximo por seis meses até o julgamento final, tudo indica que não haverá volta possível. O país, então, provavelmente já a partir do dia 10 de maio, estará condenado a ser presidido pelo vice Michel Temer até 2018, tendo como novo virtual vice o lamentável deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

Melhor seria se os brasileiros fossem chamados para uma nova eleição geral em outubro; que pudessem, eles próprios, diretamente, escolher o novo presidente, novos deputados e senadores – hipótese em que Temer ocuparia o poder apenas pelo tempo necessário para dar posse ao substituto indicado pelas urnas.

Duro, no entanto, é pensar que uma nova eleição seria realizada sob a mesma legislação atualmente vigente, principal responsável pelo baixíssimo grau de representatividade dos nossos parlamentos e, por consequência, também dos eleitos em votações majoritárias, todos mentores de um sistema imoral de coalizões. Permissivas ao extremo, as leis atuais favorecem a eleição de personagens que não necessariamente espelham a sociedade brasileira.

A fragilidade das barreiras à criação de partidos de aluguel e as coligações oportunistas que vicejam em todos os pleitos dão margem a que gente inexpressiva, sem voto, sem experiência e historicamente manchada por atos de corrupção cheguem ao Congresso – como alguns, para citar um só exemplo, que só estão lá porque foram “puxados” pelo milhão de votos que Tiririca ganhou dos paulistas descrentes com a política.

Esta distorção deve explicar muito do espetáculo circense que os deputados federais protagonizaram no domingo, dia 17, quando votaram a admissibilidade do impeachment invocando Deus e a família, elogiando torturadores e trocando cusparadas.

Certamente o triste espetáculo não será repetido no Senado. Experientes na política, alguns já estão lá há vários mandatos, já exerceram postos mais elevados, mas em sua maioria não são vestais nem juízes impolutos. Há entre eles, incluindo o presidente da Casa, senador Renan Calheiros, um sem-número de enrolados na Lava Jato e em outros processos. Além disso, serão contidos pela presença, na condução dos trabalhos, do presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski.

Conhecendo o sistema e toda esta turma, Dilma não poderá reclamar de traições nem, como Júlio Cesar no instante da facada pelas costas, lamentar: “Até tu, Brutus?”

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