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A crise que atazana a vida do prefeito Beto Richa, desde que foram reveladas as imagens de distribuição de dinheiro num comitê de apoio à sua campanha de reeleição, tomou ontem outros rumos políticos. Se levados a ferro e fogo, esse novos rumos têm até algum potencial para desequilibrar a correlação de forças entre situação e oposição na Assembleia.

Pois não é que esta crise chegou ao ponto agora de obrigar os deputados do PSDB a, afinal, aderirem à oposição ao governo do estado? Foi a decisão que tomaram ontem pela manhã, reunidos com o presidente estadual do partido, deputado Valdir Rossoni.

O estopim dessa decisão foi a larga exploração que a Televisão Educativa passou a fazer do episódio que envolve Beto Richa, o candidato em que o PSDB depositava todas as suas esperanças para conquistar o governo do estado em 2010. Rossoni e o líder da bancada tucana, deputado Ademar Traiano, chamaram às falas os demais cinco parlamentares da sigla com assento na Assembleia – os chamados "tucanos de bico vermelho", fiéis ao governo – e lhes expuseram a situação: os ataques ao prefeito passaram a ser orquestrados pelo governo do PMDB por meio da televisão pública comandada por Requião. Logo, deveriam deixar de ser leais a Requião e aderir à oposição.

Os do "bico vermelho" concordaram – decisão que alcançou também o deputado Nelson Garcia, que por orientação do partido teria de deixar a Secretaria Estadual do Trabalho e voltar à sua cadeira na Assembleia. Com isso, desaloja o suplente Miltinho Puppio.

O comunicado oficial da decisão do PSDB foi feito da tribuna por Ademar Traiano e Valdir Rossoni. Ao ouvi-los, o líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli, lamentou que a radicalização dos acontecimentos "por conta de um programa da Televisão Educativa". Mas deu um aviso: os tucanos que antes apoiavam o governo poderão sofrer as consequências – os municípios que representam correm o risco de não receber o mesmo bom tratamento que o governo lhes dispensava.

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Correlação de forças pode mudar na Assembleia

Nas votações importantes na Casa, raramente a oposição conseguia reunir mais do que 13 ou 14 votos. Ficam para história alguns pouquíssimos casos em que a majoritária bancada alinhada com o governo foi derrotada por ocasionais circunstâncias – como ocorreu, por exemplo, em 2007, quando o governador não conseguiu aprovar um tarifaço.

E agora? Vai ficar mais fácil para a "nova" oposição somar forças e tornar mais difícil a vida do governo? É o que se vai ver quando outros projetos polêmicos ou mesmo incômodos requerimentos de informações forem submetidos ao plenário. Teoricamente, com a volta dos cinco tucanos de bico vermelho ao ninho, os oposicionistas passam supostamente a contar com 26 parlamentares.

Os dos PSDB são agora sete: Valdir Rossoni, Ademar Traiano, Luiz Nishimori, Chico Buhrer, Luiz Accorsi, Luiz Fernandes Litro e Miltinho Puppio (ou Nelson Garcia). A eles se somam quatro democratas: Elio Rusch, Durval Amaral, Plauto Miró e Osmar Bertoldi. Há mais os quatro do PDT: Augustinho Zuchi, Luiz Carlos Martins, Fernando Scanavaca e Neivo Beraldin. Integram também a oposição mais firme dois deputados do PPS Douglas Fabrício e Marcelo Rangel. Reni Pereira, do PSB, também é do time, assim como Ney Leprevost e Antonio Belinati, ambos do PP.

Bancada crescente

Até aqui, já seriam 20 os oposicionistas de carteirinha – se assim já puderem ser classificados os neo-tucanos de bico amarelo. Mas há outros seis, de outros partidos, que às vezes de comportam como se integrassem a oposição: Rosane Ferreira (PV), Tadeu Veneri (PT), Pastor Edson (PRB), Felipe Lucas (PPS), Mauro Moraes e Stephanes Júnior (ambos do PMDB).

Com isso, chegaria a 26 o número de parlamentares da bancada de oposição. Portanto, perigosamente ameaçadora para o governo que, numa Assembleia de 53 votantes (o presidente, 54º nome, não vota), passaria a contar seguramente com outros 27, um a menos para compor quórum majoritário (50% mais um).

Que não se leve, porém, a ferro e fogo esse quadro. A tibieza fisiológica de alguns, o interesse imediato e paroquial de outros, o olho na reeleição – são fatores que conspiram contra a segurança da teórica oposição nas votações futuras.

De qualquer modo, não se pode desconhecer que a crise Beto Richa, incendiada pela participação da Televisão Educativa, mexeu com os brios tucanos – que também prometem ações na Justiça contra diretores e um apresentador da emissora. Agora é esperar para ver no que tudo isso vai dar.

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