Dois bicudos não se beijam, diz o velho ditado popular. E nem cabem num mesmo partido dizem os que vêm acompanhando a guerra aberta entre o governador Orlando Pessuti e o senador eleito Roberto Requião. Por trás dessa briga, permeada de acusações graves, esconde-se a motivação principal, qual seja o comando do PMDB, colchão partidário sobre o qual repousa grande parte do futuro político de muita gente.
Os primeiros sintomas da pendenga entre os dois velhos companheiros começaram muito antes da transmissão do governo de Requião para Pessuti, que ocorreu em abril. Já estava claro ou implícito o projeto do vice de concorrer à reeleição. Requião não concordava com este projeto e sempre que pôde atuava no sentido de solapar os movimentos de Pessuti.
Sentado à cadeira de governador, Pessuti começou a agir segundo seus planos. Para viabilizar sua candidatura, exonerou dos cargos mais importantes do governo os mais notórios requianistas que os ocupavam. Trouxe gente sua para substituí-los, preferencialmente desconhecidos políticos do interior. Foi a "operação jeca", como ficou conhecida. Ao mesmo tempo, promoveu uma dança interna no PMDB até conseguir a maioria dos convencionais.
Não fosse o cenário novo que Lula ajudou a construir no Paraná, colocando num mesmo balaio o PDT de Osmar Dias, o PMDB e o PT, Pessuti teria garantido folgadamente sua consagração como candidato a governador pelo PMDB. Mas ainda hoje, apesar da alteração no projeto inicial, Pessuti ainda é o "dono" do partido no Paraná, tirando de Requião a hegemonia que este conservou durante os últimos 20 anos.
Não só tirou o ex-companheiro do comando partidário, como quase lhe tira também a eleição para o Senado. Procurou nunca cabalar votos para Requião e, pessoalmente, torcia para que Gustavo Fruet fosse o eleito. Não fosse 1% a mais de eleitores que preferiram Requião, Pessuti teria realizado seu sonho.
Agora, à beira de sair do governo e dentro de três meses sem mandato, Pessuti teria virado alvo fácil de Requião, que quer retomar dele o comando pleno do partido, em regime de terra arrasada. Para tanto, faz uso das armas que melhor sabe manejar: as da desmoralização do adversário. Tem se dedicado com afinco a esta tarefa, utilizando-se dos meios que tem agora ao seu alcance o Twitter e as articulações de bastidores.
É só o começo
Até agora só se viu o começo. Deve vir coisa pior. Passadas a eleição do 2.º turno para a Presidência, o senador eleito disporá de um quadro mais claro sobre como dar os passos seguintes. Mas uma situação é previsível: se Pessuti não tomar providências preventivas e reativas, arrisca-se a não só perder o mando do PMDB como, provavelmente, terá de procurar uma outra legenda. O mesmo vale para Requião caso não consiga seu intento.
O fato é que os dois juntos já não cabem dentro do PMDB. A diferença que os separa, no entanto, é que, apesar do mandato de oito anos como senador que tem pela frente, Requião já deixou de representar uma expectativa de poder, o que não se dá com Pessuti, um dos últimos moicanos de que o partido dispõe hoje no estado com perspectiva de retomar o Palácio Iguaçu, em 2014.



