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Tão logo se configurou a vitória de Dilma Rousseff, ontem à noite, o governador eleito Beto Richa convocou entrevista coletiva para transmitir os parabéns à nova presidente e para informar que, ao contrário do que se poderia imaginar, não fará oposição. "O lugar adequado para se fazer oposição é o Congresso Nacional", explicou depressa.

Ainda que com diferença brutal quanto aos índices que vinham sendo estimados pelos institutos, a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra, ontem, apenas confirmou o que todas as pesquisas apontavam. Portanto, não houve surpresa no quesito eleição presidencial. Surpresa, isto sim, foi a confirmação de que, contados os votos do segundo turno, as oposições conquistaram metade dos estados – dentre os quais três dos mais importantes: São Paulo, Minas Gerais e Paraná, já definidos no primeiro turno.

Nota-se, pois, que apesar da avalanche do prestígio lulista que colocou Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, manteve o PT no poder e fez folgada maioria no Congresso, as oposições não estão mortas no país. Ainda demonstraram fôlego, organização e união para comandar cerca de 75% do PIB nacional.

Mas a pergunta é: esses governadores são de fato de oposição? E a resposta já se sabe: nem Beto Richa nem seus colegas que batalharam por José Serra estão dispostos a comandar qualquer trincheira de resistência.

Já houve período na história política do país em que os governadores detinham mais importante papel e influência. Minas Gerais e São Paulo, por exemplo, na Velha República, comandavam o processo – faziam e desfaziam presidentes, revezavam-se no comando da "república do café com leite".

Sucedeu-se a ela, já na década de 60, a "república dos governadores", que, para o bem ou para o mal, delineava os rumos políticos e administrativos em âmbito nacional e rivalizava em poder e influência com o presidente instituído.

Foi essa "república", por exemplo, que construiu as bases do golpe de 64. Os governadores de Minas (Magalhães Pinto), São Paulo (Adhemar de Barros) e Guanabara (Carlos Lacerda), contando com a ajuda periférica de colegas de outros estados (dentre os quais o do Paraná, com Ney Braga), é que criaram o clima que levou à deposição de João Goulart e à instauração do regime dos generais-presidentes que governou o país pelos 21 anos seguintes.

Dependência dos favores de Brasília dita comportamento dos governadores.

Feita essa remissão histórica, poderia agora ocorrer a alguém que os governadores "do contra" teriam força e disposição para o enfrentamento com Dilma Rousseff? A exacerbação dos espíritos durante a campanha, com trocas virulentas de acusações entre as duas forças que disputaram o pleito de 2010, poderia levar à noção de que, sim, esmagada no nível parlamentar, a oposição se faria pela via dos governadores.

Mas pode-se esperar de Geraldo Alkmin em São Paulo; Antonio Anastasia em Minas Gerais; e Beto Richa no Paraná – todos tucanos "jovens", bem votados em seus estados e precursores da renovação dos quadros do partido – que venham a encarnar a oposição?

A história não se repetirá nem como farsa. Primeiro, porque desde o regime militar e desde a promulgação da Constituição de 88 o poder está extremamente concentrado na União; os estados se tornaram dependentes das benesses de Brasília e, portanto, os governadores foram reduzidos à condição de pedintes.

Segundo, porque os governadores de oposição eleitos neste 2010 não fizeram bancadas numerosas que lhes sejam fiéis. Tanto que, apesar de contar com a outra metade de governadores, a presidente Dilma Rousseff vai começar seu governo com o apoio de nada menos três quintos do Congresso – 383 dos 509 deputados federais e 54 dos 81 senadores! Um quadro bem mais favorável até do que aquele que predominou nos oito anos do popularíssimo governo Lula.

O governador eleito do Paraná, Beto Richa, embora não seja porta-voz dos colegas, certamente externou a posição unânime deles, ontem à noite, ao se pronunciar sobre a vitória de Dilma Rousseff. Disse ele que não fará oposição à presidente eleita; que buscará manter boas relações com o poder central; e que precisa do governo federal para governar do Paraná.

Com os governadores tucanos eleitos por São Paulo, Minas, Goiás, Pará, Alagoas, Roraima, Tocantins – além de outros eleitos pelo DEM, um dos partidos-parceiros do PSDB – com certeza partilham da mesma opinião de Richa.

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