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Há na política paranaense algumas figuras referenciais – pessoas que passaram por cargos públicos importantes, deixaram suas marcas em obras ou em atitudes, mantêm ainda seguidores e, a seu tempo, mereceram a simpatia popular e ganharam eleições. Hoje, estes personagens dizem-se afastados da política, negam-se a participar de campanhas ou sequer a apoiar publicamente qualquer dos candidatos que concorrem à prefeitura de Curitiba este ano.

Um desses personagens é o ex-ministro Euclides Scalco, um dos pais fundadores do PSDB. Foi deputado Constituinte, chefe da Casa Civil no governo José Richa (1983-86), ministro-chefe da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso e diretor-geral da Itaipu Binacional (1995 a 2002). Coordenou campanhas políticas memoráveis, como as duas de FHC à Presidência, de Osmar Dias ao governo estadual em 2006 e também as duas de Beto Richa como candidato a prefeito (2004 e 2008). Ao longo de mais de meio século de militância política, Scalco firmou-se como excepcional exemplo de político sério e ético.

Outro é Jaime Lerner, que se viu incomodado ao se revelar, anteontem, que jantara com o candidato Gustavo Fruet (PDT) e logo se apressou em dizer que o encontro não representava adesão ao pedetista. Ex-prefeito de Curitiba (por três vezes) e governador do Paraná em dois mandatos, arquiteto e urbanista, Lerner foi autor do grande processo de transformação que colocou Curitiba como modelo mundial em soluções urbanísticas, especialmente na área do transporte coletivo. Como governador, apesar das muitas controvérsias que cercaram seus oito anos de mandato, é inegável que se deve a ele o ingresso definitivo do Paraná na era industrial. Atraiu as grandes montadoras, que hoje respondem por um terço da receita estadual. Sem elas, o Paraná não seria o que é hoje – o 5.º maior PIB do país.

As razões de cada um

Tanto Scalco quanto Lerner têm razões enormes para manterem-se longe da disputa. Scalco, por exemplo, em fevereiro de 2009 (isto é, apenas dois meses após o início do segundo mandato de Beto Richa como prefeito) rompeu publicamente com ele, conforme atesta carta de sua autoria publicada, à época, por esta coluna. Dizia-se insatisfeito, sobretudo, com o comportamento suspeito de pessoas às quais Beto dava guarida em sua equipe.

Já Lerner sofreu de outro tipo de mal: terminou seu segundo mandato, em 2001, com o conceito em baixa em razão, principalmente, de polêmicas decisões que tomou em seu governo, dentre as quais a implantação do pedágio, a venda do Banestado e a tentati­­­va de privatização da Copel. Escândalos envolvendo membros de sua equipe também contribuíram para alimentar os índices de rejeição de que passou a sofrer.

Essa rejeição ficou tão carimbada que mesmo aqueles que cresceram à sua sombra ou que, direta ou indiretamente, descendem do lernismo, passaram a se distanciar dele como antigamente se fazia com os doentes de lepra. A tal ponto os candidatos às eleições que se seguiram faziam questão de negar a origem lernista, que, criativamente, Lerner decidiu instituir um "atestado anti-lernista" para conferi-lo aos interessados.

Por exclusão

Muito bem: por tudo isso, é mais do que compreensível que Scalco e Lerner não queiram participar nem expor suas posições favoráveis ou desfavoráveis a uns e outros que disputam a eleição deste ano. Preferem o silêncio e o segredo. Mas, como cidadãos conscientes de seus deveres cívicos, homens com posições pessoais e políticas definidas, certamente não vão anular seus votos. O leitor concorda? Concordando-se com esta premissa, é lícito, então, tentar adivinhar o nome do candidato que guardam em seus corações. Não é tarefa fácil, porém. Mais fácil é conjecturar em quem eles não votarão.

Imaginemos que os dois sejam abordados por um hipotético entrevistador do Ibope e que este lhes apresente aquele cartão circular com os nomes de todos os candidatos e lhes fizesse a tradicional pergunta: "Em qual desses candidatos o senhor não votaria de jeito nenhum?". É bem provável que Lerner e Scalco sentissem a tentação de colocar o dedo não em apenas um, mas em seis dos sete nomes da lista para, num processo natural de exclusão dos "mais piores", implicitamente se descobrisse qual deles seria o "mais aceitável".

É fácil, por exemplo, imaginar que, pelo critério pessoal, Lerner já de imediato apontasse como não merecedores de seu voto os que renegam o passado lernista ou que tenham abandonado o berço que ele ajudou a embalar. Por critérios técnicos, Jaime rejeitaria também os candidatos nos quais não perceba capacidade ou vontade de manter o modelo urbano que consagrou Curitiba. O que inclui aqueles que defendem sem maiores críticas a construção do metrô, sistema contra o qual Lerner bate firme.

E Euclides Scalco, em quem não votaria de jeito nenhum? Rigoroso principalmente em relação aos aspectos éticos que abordou em sua carta de 2009 dirigida ao então prefeito Beto Richa, é provável que ele aplique os mesmos critérios a (quase) todos os demais candidatos. A grande indagação fica por conta do "quase" para desvendar o segredo que ele guarda sobre seu voto.

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