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Quem já passou dos 50 anos ou conhece bem a história das boas administrações municipais que Curitiba teve até passado recente deve se lembrar com saudades do tempo em que a cidade foi governada por homens da estatura política e técnica de Ney Braga, Ivo Arzua, Omar Sabbag, Jaime Lerner, Maurício Fruet...

Quem conhece a obra de construção urbana que, como prefeitos e cada um a seu tempo e circunstâncias, eles implementaram em Curitiba com certeza deve ter sido tomado de uma profunda nostalgia ao compará-los com a fila de candidatos presentes ao primeiro debate realizado na noite da última quinta-feira, pela TV Bandeirantes.

O que se viu no debate foi, de modo geral, uma ladainha de obviedades, quase trivialidades, que nem de longe respondem aos gigantescos desafios que Curitiba apresenta – uma metrópole cujo crescimento nem tem sido acompanhado pelas administrações mais recentes e, muito menos, vem sendo preparada convenientemente para o futuro.

Quem acompanhou o debate com olhos e ouvidos interessados em conhecer propostas inovadoras e capazes de definir um norte preciso para a cidade se ressentiu com a ausência daquilo que se define como "visão estratégica". As intervenções dos postulantes – aliás, pobres no vocabulário e ricas em erros de português – de modo geral não passaram de ideias simplistas, beirando a ingenuidade ou a pura demagogia caça-votos.

Os candidatos principais, com exceção, talvez, de Gustavo Fruet (PDT) – mas usando linguagem um tanto hermética para ser entendida pela média dos eleitores – não ultrapassaram a linha divisória que os faria diferenciar-se uns dos outros quanto à qualidade, relevância e originalidade de suas propostas.

É verdade que o formato engessado do debate não permitiu um confronto real de ideias entre os participantes – mas nem mesmo os momentos em que isto foi possível foram aproveitados. Um exemplo foi o relativo à construção do metrô – uma linha de 14 quilômetros unindo o Pinheirinho ao centro –, apresentado pelo prefeito Luciano Ducci (PSB) como a grande obra que marcará sua administração e transformará para melhor a vida do povo.

Sabe-se que não há unanimidade nem quanto à necessidade de construí-lo e muito menos quanto ao projeto de engenharia com que foi concebido pela prefeitura. Rafael Greca, por exemplo, não o quer subterrâneo, como está previsto, mas aéreo e circular à cidade. Com os mesmos R$ 2 bilhões estimados como custo do projeto atual, diz ele ser possível construir 75 quilômetros de monotrilhos suspensos.

Ratinho Jr. (PSC) apresentou-se como "pai" do metrô por ter aprovado uma emenda ao orçamento da União garantindo recursos federais para a obra. Ducci tratou logo de desmenti-lo: sua emenda nada teve a ver com os recursos que, de outra fonte, foram prometidos pela presidente Dilma.

Fruet foi quem chegou mais perto da questão de fundo ao responsabilizar as últimas administrações pela decadência do sistema de ônibus expressos. A queda de qualidade, disse ele, foi responsável pelo fato de 14 milhões de passageiros terem deixado de usar ônibus nos últimos anos e tornassem caótico o trânsito de automóveis. Se aproveitadas as potencialidades do atual sistema de transporte coletivo – implantado há quase 40 anos –, argumenta Fruet, com apenas R$ 300 milhões seria possível dar eficiência e funcionalidade maiores do que as prometidas pelo metrô. Faltou debate com a sociedade para referendar a adoção do metrô, reforçou.

Os problemas da saúde e da segurança – as duas maiores preocupações do eleitorado apontadas pelas pesquisas – foram discutidos superficialmente. A discussão desses temas importantes chamou menos a atenção dos telespectadores do que duas propostas do candidato Bruno Meirinho (PSol), que, dizendo-se inspirado pela "Marcha das vadias", incluiu a liberação do aborto entre suas ideias. Dispõe-se também, caso seja eleito prefeito, a desapropriar os imóveis desocupados no centro da cidade para neles alojar a população de sem-teto (citou como exemplo o velho edifício do hotel Eduardo VII, na Praça Tiradentes, vazio há anos).

Já o candidato do PRTB, o radialista Carlos Morais, disse ter encontrado a solução para resolver o problema das drogas e da criminalidade: reza, muita reza. Segundo ele, é a oração o meio capaz de recuperar viciados e criminosos que pagam pena nas penitenciárias.

O conselho de Moraes não deve ser desperdiçado: quem sabe com muita reza o debate possa inspirar os eleitores a identificar, dentre os seis que dele participaram, o único que de fato apresenta melhor qualidade e competência para devolver a Curitiba a perspectiva de dias melhores. Dias melhores que aqueles antigos prefeitos citados no início permitiram a Curitiba viver.

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