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Vulnerável [Do lat. vulnerabile.] Adj. – Diz-se do lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo qual alguém pode ser atacado ou ferido.

Vulnerabilidade. Qualidade ou estado de vulnerável.

É desta forma que o Aurélio, dicionário ao qual 9 entre 10 filhos apedeutas recorrem cada vez que lhes surgem dúvidas sobre o vernáculo, define aquilo a que os candidatos mais procuram nos adversários. Eles buscam encontrar na biografia, na personalidade ou na atuação do outro pontos que julgam fracos ou comprometedores, suscetíveis a ataques.

Na últimas semanas, conforme já comentamos neste espaço, Beto Richa e Osmar Dias identificaram num e noutro ligações com Jaime Lerner. Ambos passaram a considerar que este é um ponto fraco que, bem explorado, poderia causar prejuízos à candidatura adversária.

Histórias assim são parte integrante das campanhas políticas. Exatamente porque a desconstrução da imagem dos adversários costuma dar o resultado esperado por seus autores. Em 1990, por exemplo, Roberto Requião obteve sucesso ao impingir em José Richa, que com ele disputava o governo estadual nas eleições daquele ano, a fama de marajá pelo fato de receber duas ou três aposentadorias. A fama "colou" e Richa, que havia iniciado a campanha em primeiro lugar em todas as pesquisas, terminou o primeiro turno em uma distante rabeira.

Em primeiro, chegou José Carlos Martinez, filho de pioneiros colonizadores do Oeste do Paraná numa época em que a posse de terras era disputada a tiros. Pois Requião inventou "Ferreirinha" – um pseudopistoleiro que "confessou" ter ma­­tado gente por ordem da família Martinez. Embora o denunciante fosse falso e a denúncia – repetida em vídeo no horário gratuito da televisão – não fosse comprovada, o resultado foi a derrota de Martinez. Requião foi eleito folgadamente.

Collor foi outro que explorou vulnerabilidades que julgava ter encontrado em Lula, seu oponente na eleição presidencial de 1989. Entre outras leviandades de baixo nível, referiu-se a um suposto conselho de Lula para que uma mulher abortasse filho que seria seu. Collor ganhou a eleição, mas não demorou para que, na Presidência, revelasse a própria cara e fosse apeado do poder pelo povo que se viu enganado.

O que Beto e Osmar dizem um do outro

Aqui neste Paraná de 2010 não surgiram (ainda) felizmente tão graves acusações e artimanhas. Não significa, no entanto, que não procurem os dois candidatos descobrir as vulnerabilidades alheias.

Beto Richa, por exemplo, tem insistido na tese de que, se eleito, Osmar Dias abriria as portas para a atuação do MST em razão das ligações que firmou com o PT para disputar o pleito. Com isto, pretende minar a base política que sempre foi a principal sustentação a Osmar – os produtores rurais e o agronegócio.

Osmar responde com a própria história – não, ele é também agricultor e proprietário rural e sempre se manifestou contra ocupações do estilo MST. E lança mão de outro tema agropecuário para explorar uma conhecida vulnerabilidade de Beto – a inexperiência e o desconhecimento em relação aos problemas do campo. Não saberia distinguir um pé de soja de um pé de couve – defeito grave num estado, que pretende governar, ainda altamente dependente da agropecuária. Ao reconhecer a deficiência, responde que se cercará de assessores que entendem do assunto.

Enquanto ficarem nesse terreno, próximos de discussões de caráter ideológico ou técnico, ótimo. Serve, até, para enriquecer e dar a profundidade que se espera dos po­­líticos que precisam mostrar suas diferenças e, por meio delas, convencer o eleitor e se submeter à sua vontade.

Não é improvável, contudo, que a campanha descambe para outros tipos de "vulnerabilidades" que podem servir apenas para confundir os espíritos e criar resultados que, só depois da eleição, se verifica terem sido os piores. A história, como se viu, está repleta desses maus exemplos.

A verdadeira campanha vai começar dentro de 5 dias, quando candidatos e partidos tomarão conta de uma hora diária da programação das emissoras de rádio e televisão. É nesse período, que durará até as vésperas do 3 de outubro, que adversários se esmerarão na tarefa de jogar no outro defeitos reais ou inventados. É a hora que o eleitor será chamado a distinguir entre uma coisa e outra – tarefa reconhecidamente difícil, mas não impossível.

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