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celso nascimento

Greca põe no lixo projeto que previa modernização

A prefeitura de Curitiba quer manter o mesmo modelo de coleta de lixo vigente na cidade há pelo menos três décadas. Os caminhões continuarão percorrendo as ruas com pobres lixeiros correndo atrás para jogar sacos e outros dejetos nas carrocerias. O que vai mudar é a taxa de coleta, que passará a ser cobrada de todos os moradores, incluindo daquelas mais pobres que estavam isentos do pagamento.

Fora isso, não se prevê a modernização do sistema: as mais de 2 mil toneladas de lixo recolhidas por dia em Curitiba continuarão percorrendo 40 quilômetros para ser despejadas num aterro no município de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana.

Tudo isso porque a secretaria municipal do Meio Ambiente considerou incompetentes os técnicos da International Finance Corporation (IFC), órgão do Banco Mundial, que durante mais de dois anos elaboraram projeto de modernização do sistema – que evitaria maiores gastos com transporte de resíduos a grandes distâncias, daria maior aproveitamento aos recicláveis e criaria programas de valorização dos catadores –, além de ampliar o número de estações sustentabilidade, um pioneirismo de Curitiba já copiado por Buenos Aires e algumas cidades brasileiras.

Atualmente, os serviços de coleta e de aterro sanitário são prestados pelo grupo Cavo/Estre, com contrato que se encerra neste mês de maio. Por isso, a prefeitura deve lançar nos próximos dias um novo edital de concorrência que, basicamente, mantém o mesmo envelhecido modelo. É possível que muitas empresas se habilitem à licitação, mas especialistas do setor acreditam que o mesmo grupo seja o vencedor, dadas as condições estruturais que elas já oferecem (frota de caminhões, aterro já licenciado etc.), condições que concorrentes novos em princípio não teriam. Seja como for, quem ganhar a licitação garantirá um faturamento de cerca de R$ 260 milhões ao ano pago pelos cofres municipais.

Ou seja, cumpre-se uma máxima lampeduziana: “algo deve mudar para que tudo continue como está”. Nenhuma cidade civilizada do mundo segue o mesmo modelo curitibano de coleta e destinação dos resíduos sólidos. Mas a opção da Secretaria Municipal do Meio Ambiente é o de mantê-lo indefinidamente – segundo anunciaram o secretário Sérgio Tocchio e a superintendente Marilza Dias em audiência realizada nesta terça-feira (2) na Câmara Municipal.

O que de fato deve mudar é o sistema de cobrança da taxa de coleta. Atualmente, ela vem embutida no carnê do IPTU. Contudo, como milhares de moradores pobres estão isentos deste tributo, eles também não pagam pela coleta. A ideia é atrelar a taxa à conta de luz ou à fatura da água, de tal modo que ninguém – mesmo a população mais pobre da periferia – poderá se livrar do pagamento. A receita vai aumentar, mas o serviço continuará praticamente o mesmo. Neste caso, Curitiba nem vai voltar – vai continuar onde já estava.

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