Sempre há correlação estreita entre greves e política, especialmente quando atingem setores de direto interesse público. Não por outra razão é que os motoristas de ônibus de Curitiba, em dois dias de total paralisação, conseguiram menos do que queriam, mas certamente bem mais do que os patrões se dispunham a dar-lhes.
O prolongamento indefinido do caos seria fatal para as pretensões político-eleitorais do prefeito Luciano Ducci e do seu principal avalista, o governador Beto Richa. O problema é que o reajuste aos trabalhadores impõe proporcional aumento das passagem algo que também pode ser eleitoralmente fatídico. Daí a ideia de tirar do cofre estadual R$ 60 milhões para subsidiar o ônibus dos curitibanos.
A greve dos motoristas serviu de alerta para os efeitos ainda mais graves que teria uma de policiais. Richa também observou o que aconteceu na Bahia e no Ceará e calculou o custo político que terá de pagar caso as corporações daqui também cruzem os braços. Por isso, assumiu pessoalmente as negociações e pôs na mesa suas propostas. A Civil não gostou e já decretou greve, válida a partir deste domingo de carnaval; antes da Quarta-Feira de Cinzas conheceremos seus efeitos. Igualmente insatisfeitos, os PMs podem seguir o mesmo caminho. Seria o caos.
Diante disso, a pergunta que se faz é: já que o estado pode subsidiar o transporte dos curitibanos, não teria caixa para dar aumento melhor aos policiais? Assim como a greve do transporte acabou em dois dias, a dos policiais não poderia ser evitada? É uma questão política.
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Richa afirmou que seria irresponsável se concedesse o aumento nos índices pretendidos pelos policiais. Teria sido irresponsáveis, então, o ex-governador Orlando Pessuti e os deputados que, no ano passado, aprovaram o novo sistema de remuneração que hoje o governo diz ser irrealizável?
A coluna endereçou esta pergunta a Pessuti e dele recebeu a seguinte resposta: "Estávamos no fim do nosso governo quando a Assembleia passou a debater a Emenda 29. Nós poderíamos brecar a tramitação ou vetar a emenda. Mas decidimos fazer diferente: perguntamos ao Osmar e ao Beto [então candidatos a governador] o que queriam que eu fizesse. E ambos, talvez com receio de perder votos, foram favoráveis à aprovação e orientaram suas bancadas. Acho que agora ninguém pode reclamar".



