Esta greve dos professores do Paraná já passou dos limites: mais de um milhão de alunos sem aulas, sérios problemas no cotidiano das famílias, vestibulares suspensos nas universidades. Na prática, o ano letivo nem começou. Já se perderam quase três meses de aula, o período das férias regulamentares de julho já está comprometido, assim como as do final deste e do início do ano que vem. Prejuízos incalculáveis, presentes e futuros.
Diante dessa situação de caos, é mais urgente encontrar soluções do que caçar culpados. Não leva a nada um lado apenas se ocupar em culpar o outro, um por não cumprir a lei da reposição inflacionária na data-base (8,17% em 1.º de maio), outro pela intransigência em manter fechadas as salas de aula. São coisas sabidas e repetidas à exaustão.
No meio dessa pendenga toda existe uma coisa chamada “interesse público”, valor muito maior do que todo o resto. Admitamos que, de fato, o governo não tenha caixa para liquidar a fatura de 8,17% senão pagando-a em suaves prestações; e admitamos também, com todas as letras, que o porcentual requerido pelos grevistas é absolutamente justo e legítimo, principalmente se pago à vista.
Entretanto, mais justo e legítimo é que se garanta o direito da maioria, isto é, dos estudantes de voltar às aulas; das famílias de recompor a normalidade da vida doméstica; de se saber em que datas serão os vestibulares; e dos inscritos no Enem de se prepararem minimamente para enfrentar o exame. O mais importante de tudo é evitar o agravamento do já irrecuperável prejuízo social causado.
Reconheça-se que, à exceção do radicalismo de alguns (geralmente embalados por motivos político-partidários), muitos setores da situação e da oposição estão conscientes de que, sem acordo, não se chegará a lugar algum. Foi nessa linha que se sucederam os discursos ouvidos ontem na Assembleia – tanto o do líder do governo, deputado Luiz Claudio Romanelli, quanto os dos opositores mais ligados à causa do professorado, como os petistas Tadeu Veneri e Professor Lemos.
Até o próprio presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano, se redimiu parcialmente das desastradas declarações da semana passada quando procurou difundir versões que comprometeriam as relações pacíficas vigentes entre os principais condutores das negociações. Ontem, ele disse o que todos queriam ouvir: a Assembleia não votará nenhum projeto de reajuste salarial (incluindo o de outros poderes) que não tenha sido fruto de acordo – posição bem diferente daquela de 29 de abril quando, desprezando o horror das bombas que explodiam do lado de fora, conduziu autoritariamente a votação do projeto de confisco da previdência.
Até o fechamento da coluna, ontem à noite, governo e deputados da base aliada estudavam uma nova proposta: reajuste de 8,7% em duas parcelas – 3,45% agora e outros 4,56% em dezembro. Quem sabe seja a luz no fim do túnel.



