Diógenes, filósofo grego que ficou conhecido como “o cínico”, tinha lá suas esquisitices: primeiro, conforme conta a lenda, morava dentro de um barril; segundo, porque perambulava pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa em pleno dia e sob o brilho intenso do sol mediterrâneo. Perguntado sobre isso, deu a resposta que ficou na história: “Estou à procura de um homem honesto!”
Hoje seriam necessários poderosos holofotes para que algum fosse encontrado – mas o velho Diógenes certamente teria identificado sob a timidez e a discreção de Jaime Sunyé Neto o homem que procurava. Bastava-lhe iluminar o catatau de papéis que instruem a sindicância que apurou corrupção em obras de R$ 30 milhões do programa de construção e reformas de escolas do Paraná para verificar que, em vez de ser considerado “envolvido”, foi Sunyé quem tomou a iniciativa de denunciar a maracutaia.
Suas desconfianças começaram a aparecer no fim do ano passado, quando notou que, embora algumas obras nem tivessem saído do chão, a construtora já havia recebido milhões como se já quase tivesse terminado o serviço.
A “arte” consistia em atestar medições exageradas para justificar a liberação de recursos por parte da Diretoria de Engenharia da Sude (Superintendência de Desenvolvimento Educacional), à época ocupada por Maurício Jandoi Fanini Antonio, amigo e companheiro de jogos de tênis do governador Beto Richa.
As desconfianças de Sunyé – superintendente da Sude e superior hierárquico de Fanini – foram logo comunicadas ao ex-secretário Fernando Xavier, que mandou aprofundar investigações e coletar provas. Em 5 de maio, Sunyé deu por cumprida a ordem e oficiou o secretário: “detectamos diversos indícios de irregularidades nas medições” e, por isso, “sugerimos que seja determinada a abertura de sindicância para apurar os fatos e responsabilidades”.
No mesmo 5 de maio, o secretário da Educação abriu a sindicância. Poucas horas depois, coincidência ou não, Richa exonerou Xavier. No dia 10 foi a vez de Jayme Sunyé Neto ser exonerado da Sude. A essa altura, no entanto, o “amigo” Jandoi Fanini já estava abrigado num cargo em comissão no gabinete do governador, do qual só saiu no início deste mês de junho quando surgiram as primeiras notícias do escândalo.
Pelo menos quatro órgãos prosseguem as investigações: a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), o Ministério Público (Gaeco), o Tribunal de Contas e a Polícia Civil. Como parte dos recursos provém do governo federal, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal já se preparam. Por enquanto, os trabalhos se concentram em sete obras tocadas por uma só empreiteira (a Valor), mas o interesse das autoridades é saber se nas outras cem que compõem o mesmo programa (com empreiteiras diferentes) também não há irregularidades semelhantes.
Chamem o Diógenes!
Férias
O signatário desta coluna entra em férias. Volta na edição de 1.º de agosto.



