Segundo a Física, vácuo é “a ausência de matéria em uma certa região do espaço”. A ciência também ensina que não há vácuo que subsista por muito tempo: havendo chance, ele será sempre preenchido. É bem possível que o Paraná esteja vivendo esta situação. Como repentinamente se produziu um vácuo político e administrativo no poder central, já se nota que alguns que gravitavam em torno dele tratam de ocupar espaços que liturgicamente não deveriam.
É o caso, por exemplo, da vice-governadora Cida Borgheti. Como dizia aquele famoso bordão do humorista Jô Soares, “vice não fala”. Cida, porém, passou não só a falar como também a agir. Ou seja, ela está naturalmente ocupando o vácuo.
A vacuidade não é coisa nova. Um parente próximo do governador (cunhado é parente?) até já postou nas redes sociais que o verdadeiro governador do Paraná nunca foi Beto Richa, mas o primo distante Luiz Abi Antoun. Era ele, Abi, que mandava e desmandava no governo, afirmou publicamente o irmão da primeira-dama dias antes de Abi ser preso e afastado das rodas palacianas.
O vácuo de poder, no entanto, se acentuou após as grandes manifestações de fevereiro, quando professores e outras categorias do funcionalismo ocuparam o Centro Cívico. O governador deixou de comparecer ao Palácio e se enfurnou no Chapéu Pensador – um “gabinete” eventual montado em meio à mata num terreno da Copel no Bigorrilho.
Neste período, Richa evitava a imprensa, não comparecia a atos públicos, não viajava. Preferia assistir pela televisão espetáculos tão patéticos quanto o de ver deputados aliados embarcados num camburão ofertado pelo secretário da Segurança para serem levados à Assembleia. Os projetos que Beto queria ver aprovados não puderam nem sequer ser votados: os deputados não se encorajaram a enfrentar a turba que invadiu a Casa e que ameaçava até a incolumidade física das excelências.
O jeito era recuar. Em vez de tratoraço, optou-se pela negociação democrática dos polêmicos projetos que seriam postos goela abaixo. Encolhido, porém, o governador delegou o poder de negociar questões fundamentais do estado a secretários e deputados. Ele próprio teve pouca ou nenhuma participação.
O encolhimento se agravou com a descoberta de que o primo distante, o companheiro de corridas automobilísticas e vários funcionários graduados da Receita Estadual estavam todos metidos (e alguns presos) em lucrativas atividades privadas em detrimento das públicas. Vez por outra Beto é abordado pela imprensa – com cada vez menor poder de convencimento. Enquanto isso, secretários pedem demissão, deputados proclamam independência, a agenda se esvazia.
São sintomas claros do tamanho do vácuo, mas ao mesmo tempo gradativamente preenchido por pessoas que, por tradição e dever de ofício, nunca foram além de papéis protocolares.
É o caso da vice Cida Borgheti. É ao gabinete dela, situado na ala esquerda do Palácio Iguaçu, que agora acorrem os que precisam tratar de assuntos importantes para o estado. Ainda nesta semana, ela recebeu para despacho vários secretários – dentre eles o próprio irmão do governador, o secretário de Infraestrutura Pepe Richa, e o chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra. Agenda sempre cheia. Cida também viaja a Brasília para negociar projetos e recursos federais; preside reuniões com bancos internacionais; atende prefeitos e deputados; diretores de estatais; toma decisões.
Tudo porque, na amplidão da ala direita do Palácio, fez-se o vácuo. Incrivelmente, o governador encolheu.



