Houve um dia em que Curitiba e Região Metropolitana pensaram em construir uma grande usina de industrialização do lixo, a que se deu o nome de Sipar. Em 2007, chegaram a abrir uma licitação internacional. A briga pelo contrato era travada entre “cachorros grandes” do setor, empenhados em explorar o serviço por 25 anos e com a expectativa de faturar bilhões. Tudo foi parar na Justiça. Recursos pra lá e pra cá durante sete anos acabaram por sepultar a licitação.
A ideia até que parecia boa: o Sipar se responsabilizaria pela coleta e destinação de 2.500 toneladas diárias de lixo de 18 municípios. Seria o fim dos atrasados aterros sanitários – do tipo, por exemplo, do polêmico lixão do Caximba – e sua substituição por processos de reciclagem e queima de resíduos, com um resultado suplementar importante: o lixo se transformaria em energia.
Na campanha de 2012, o então candidato Gustavo Fruet manifestava-se a favor de um outro jeito de fazer a mesma coisa, mais barato e menos agressivo ao meio ambiente. Segundo ele, em vez de coletar todo o lixo e transportá-lo a distâncias até superiores a 50 quilômetros, propunha implantar quatro ou cinco unidades geograficamente localizadas no entorno de Curitiba, de modo a evitar o que chamava de “passeio do lixo”.
A gestão de Fruet está quase no fim. Falta apenas um ano para acabar – mas as coisas demoram a acontecer. Salvo pela implantação das “estações de sustentabilidade” (já são 11 os contêineres espalhados pelos bairros para recolhimento de recicláveis), pouca coisa mudou.
O que de mais concreto existe é a evolução de um estudo que está sendo feito pelo Banco Mundial e que, segundo se prevê, apresentará os primeiros resultados concretos só lá por 2017. Seriam as primeiras estações de tratamento, nas quais se produziria gás e adubos orgânicos. A incineração é uma alternativa que se quer evitar, por ser poluidora.
Outra novidade que surgiu no período – isto é, desde que o Caximba foi fechado em 2011 – foi o credenciamento da empresa Estre Ambiental para que ela depositasse todo o lixo num aterro sanitário em área de sua propriedade no município de Fazenda Rio Grande. A outra novidade é que a Estre comprou a Cavo, companhia que há muitos anos faz a coleta e o transporte do lixo.
Com isto, a Estre assumiu o monopólio do lixo de Curitiba e de algumas cidades da região metropolitana – um negócio que rende milhões anualmente para o BTG – banco controlador da Estre/Cavo, de propriedade do banqueiro André Esteves, aquele que, junto com o senador Delcídio do Amaral, foi preso por tentar de atrapalhar investigações da Lava Jato.
Vai ficar mexendo com lixo enquanto não saírem do papel as primeiras novas estações de tratamento.



