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Celso Nascimento

O novo governo e a síndrome de Benjamin Button

O governador Beto Richa dá posse ao irmão, Pepe, em cerimônia no Palácio Iguaçu | Hugo Harada/Gazeta do Povo
O governador Beto Richa dá posse ao irmão, Pepe, em cerimônia no Palácio Iguaçu (Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

"Uma bengala, pai. Eu quero uma bengala!". A frase é do personagem que dá nome ao filme O curioso caso de Benjamin Button, produção de 2008 estrelada por Brad Pitt que conta a história de um homem que nasceu já mais com mais de 70 anos e viveu a vida ao contrário – isto é, foi ficando mais jovem à medida que os anos passavam até se tornar um bebê. À saída da maternidade, Button pede ao estupefato pai que, além das roupas de adulto, trouxesse-lhe também a bengala.Pois ontem deu-se a luz no Paraná a um governo que nasceu quase tão velho quanto Benjamin. Há, contudo, ao inverso do que ocorreu com o inacreditável personagem na história original de Scott Fitzgerald, poucas esperanças de que, nos anos que o recém-nascido tem pela frente, venhamos a assistir ao seu rejuvenescimento – embora os três milhões de paranaenses que o elegeram o tenham feito convencidos de que estavam votando no "novo".

O 3 de outubro passado era a oportunidade que a maioria esperava para sepultar o que o governo anterior representava de arcaico, ultrapassado, velho, retrógrado. Com a eleição de Beto Richa, pensava-se, novos tempos se abririam para a modernidade. O retrato oficial do secretariado empossado ontem contraria a expectativa.

Por exemplo: a foto reproduz a marca registrada do governo Requião com seus inúmeros nepotes. Lá estão a mulher, Fernanda Richa, e o irmão, Pepe Richa, feitos secretários – assim como apareceram na fotografia de 2003 os secretários Maristela Requião, Eduardo Requião e Maurício Requião.

As nomeações são legais? São. Esta é uma discussão que foi superada desde que a

Súmula 13 do STF disse não configurarem nepotismo os casos de parentes nomeados para postos ditos políticos, como o são as secretarias de estado. Mas que nomear parentes, ainda que com o amparo da lei, continua sendo uma prática embolorada que já não cabe nas administrações públicas que se querem modernas, disto não há também dúvida.

Não é moderno, igualmente, compor equipe de auxiliares seguindo os carcomidos métodos da mera conveniência política, da simples acomodação de aliados, da troca de favores ou da barganha para conquistar simpatias ou cumplicidade. Mas de que outro modo se explica, por exemplo, a presença do deputado Luiz Cláudio Romanelli – durante oito anos di­­­li­­­gente arauto do governo Requião na Assembleia – no secretariado de Beto Richa, nomeado titular do Trabalho? Ou de Cassio Tanighuchi (no Planejamento), com quem Beto rompeu quando o denunciou ao Tribunal de Contas, em 2005, por irregularidades orçamentárias na prefeitura de Curitiba?

Não se explica tais indicações sob o manto do tal "choque de gestão" ou da coerência política – duas das qualidades prometidas na campanha que configurariam, de fato, a inauguração de um tempo novo, bem diferente desse antiquado fisiologismo que faz parte da "cultura" da nossa política e da administração pública.

Apesar disso tudo, a população paranaense, conforme pesquisa encomendada por este jornal, deposita enorme confiança na administração que se inicia – razão suficiente para torcer para que a semelhança com Benjamin Button se restrinja apenas ao campo da ficção literária e hollywoodiana.

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