Identificar e prender os autores da chacina que vitimou oito pessoas na noite de sábado, em Curitiba, é uma questão de honra para a polícia, segundo afirmou ontem o governador Roberto Requião durante a reunião semanal da comissão "mãos limpas". Ótimo. Mas cabe uma pergunta: só essa chacina é uma questão de honra? Quer dizer que desvendar os crimes e punir os autores dos 300 homicídios ocorridos na capital de janeiro a junho não são uma questão de honra para a polícia?
Mesmo sendo uma questão de honra para Requião e sua polícia resolver logo essa parada, o diligente líder do governo na Assembleia tratou de barrar ontem, pela enésima vez, um requerimento pedindo a presença do secretário da Segurança na Casa para dar explicações sobre esse episódio e sobre o estado geral da (in)segurança pública no estado. Alegou uma questiúncula regimental: um requerimento de mesmo teor não pode ser apresentado duas vezes. Como o anterior foi rejeitado em agosto passado, o de ontem nem sequer poderia ter sido apresentado pela oposição.
Isto pode significar o seguinte: o secretário Luiz Fernando Delazari não tem o que dizer. No fundo, a recusa em comparecer à Assembleia equivale a uma confissão tácita de que o governo está se sentindo derrotado pela escalada do tráfico e por todos os seus trágicos efeitos, dentre os quais, bastante emblemática, a chacina do fim de semana.
De qualquer forma, o silêncio oficial quanto ao evidente fracasso de sua política de segurança pública representa também um desrespeito à opinião pública. Em qualquer lugar civilizado do planeta, os governantes obedecem às convocações de seus parlamentos ou, melhor ainda, antecipam-se em prestar contas, principalmente quando se trata de acontecimentos que tão de perto afetam a sociedade.
Debate
Mesmo com a previsível rejeição do requerimento de convocação do secretário, o tema da segurança pública, suscitado pela chacina, dominou os debates da sessão de ontem. Mas foi do deputado Luiz Carlos Martins o discurso que mais tocou na ferida. O parlamentar, embora de oposição, não economizou num elogio ao governador: "Trata-se de um homem de atitude", disse ele. Para completar: então só falta isso, que em matéria de segurança o governador tome logo também uma atitude.



