A secretária estadual da Fazenda, Jozélia Nogueira, é uma mulher corajosa, capaz de afirmações que Beto Richa jamais faria em público. É de Jozélia o reconhecimento, em entrevistas, de que as finanças do Paraná vão mal o que todo mundo já sabia e até o governador já reconheceu , mas ela completou com a notícia de que o estado só voltará a "respirar" em 2015.
O que Jozélia, na prática, quis dizer é que o governo, governo mesmo, aquele do prometido choque de gestão, já terminou. No ano eleitoral de 2014, o estado continuará refém das dívidas acumuladas e é impossível pensar em investimentos. No máximo, vai quitar (quem sabe até março) as dívidas atrasadas e manter em dia as contas de telefone, oficinas mecânicas e com as distribuidoras de combustíveis para as viaturas policiais... Nem mesmo a eventual liberação de todos os empréstimos pleiteados pelo governo é suficiente para melhorar o ânimo da secretária.
Para Jozélia, que assumiu a Secretaria da Fazenda em outubro passado, a culpa pela situação calamitosa que encontrou deve ser atribuída em grande parte a governos anteriores, mas o que não elimina a responsabilidade do atual pelo descontrole: "Todo mundo foi gastando e gastando", porque "pensavam: amanhã sairá o empréstimo. Não saiu", disse ela em entrevista que o jornal Folha de S.Paulo publicou ontem.
"Todo mundo"? Quem é o "todo mundo" a que Jozélia Nogueira se referiu na entrevista? Ora, só gasta dinheiro do governo quem tem caneta para tal a começar pelo governador, a quem constitucionalmente compete o poder/dever de conhecer a situação financeira, controlar e autorizar despesas. Teria a secretária incluído o governador Beto Richa no meio desse "todo mundo"?
A secretária avisou que manterá fechadas as torneiras do erário no ano que vem. Não se sabe se, antes, pediu ou dele já recebeu orientação para manter o estilo "manda-chuva" com que vem marcando sua atuação à frente da Secretaria da Fazenda. A ponto de enfrentar e desgostar quase todos os colegas de secretariado incluindo alguns de cabelos brancos e com currículo e experiência administrativa mais expressivos que os dela. O que não lhe retira méritos, como registrou ontem o líder do governo na Assembleia, deputado Admar Traiano, ao elogiá-la pela atuação mão fechada.
Se o governador que encontrou na secretária o talento e a força necessários para que o estado não passasse o vexame de não pagar o 13.º para o funcionalismo continuará a prestigiá-la em 2014 ainda é uma incógnita (o 13.º será pago amanhã). Candidato à reeleição, o ano de Beto Richa seria de prodigalidade nos gastos e de tantas inaugurações e lançamentos quanto a lei eleitoral lhe permitisse. Com Jozélia no comando é ela própria que antecipa a campanha será penosa.



