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Olho Vivo

O futuro de Gustavo

Os resultados para o Senado foram outra surpresa. Não exatamente em relação a Gleisi Hoffmann, cujo primeiro lugar já era antevisto. Já se previa o segundo para Requião – mas não sob a ameaça emocionante de amargar o terceiro, derrotado por pouco mais de 1 ponto porcentual pelo tucano Gustavo Fruet.

Fruet fez bonito. Dado como um distante concorrente, suplantou os adversários em Curitiba por larga margem: fez 35%, contra 22% de Gleisi e 16% de Requião – que também perdeu na capital para Ricardo Barros, 22%.

A expressiva votação faz dele forte candidato a prefeito em 2012 – mas provavelmente terá de sair do PSDB, partido que, pela vontade do governador eleito, certamente será levado a apoiar a reeleição de seu aliado, o atual prefeito Luciano Ducci.

Terminada a eleição no Paraná com a vitória de Beto Richa sobre Osmar Dias, e de Gleisi Hof­­fmann e Roberto Requião para o Senado, a hora é de fazer um retrospecto dos erros e acertos de cada um que levaram ao resultado. Comecemos pelos erros de Osmar Dias – sobre os quais nem é preciso relembrar pequenos episódios de campanha, mas conceitos e posições políticas que marcaram a origem de sua candidatura.

Para facilitar a "relembrança", basta recorrer aos arquivos desta coluna que, em 29 de agosto, sob o título "O recado das pesquisas para o candidato que perdeu o eixo", antecipava em quatro parágrafos as razões pelas quais Osmar poderia ser derrotado:

- "Já se viu que amarrar sua [de Osmar] candidatura aos 'êxitos' do governo Requião, prometendo continuá-los, não dá certo. Também não está sendo tão eficaz quanto pensava o apoio de Lula e de Dilma. O apoio da estrutura do PMDB, de seus inúmeros prefeitos e da sua majoritária bancada de deputados também está sendo insuficiente. Os tempos iguais da propaganda em rádio e televisão, idem.

- "Apesar de tal aparato, nesse momento Osmar está menor do que aquele que emergiu das urnas de 2006. Em 2006, ele representava 50% dos paranaenses; agora, representa um terço [as pesquisas lhe davam na ocasião 34%]. Diminuiu por quê? Diminuiu porque não é em 2010 o mesmo Osmar de 2006.

- "Há quatro anos, era, por exemplo, a antítese de Requião. Hoje, se apresenta como sua interface, ora como continuador de programas assistencialistas do ex-governador, ora como silente e acrítico espectador de todos os erros e vergonhas que marcaram o governo passado. Em suma, o candidato perdeu sua identidade.

- "Deixou de ser identificado também entre os que o viram crescer entre campos de soja içando as bandeiras do agronegócio – com tudo o que isto possa significar, incluindo a defesa da propriedade rural contra invasões. Grande parte dessa gente – isto é, os que votaram em Osmar em 2006 porque não queriam mais Requião e porque viam nele um anteparo contra o assanhamento da militância sem-terra – ficou órfã do seu defensor."

Deu no que deu.

As "sortes" de Richa

Por outro lado, o que beneficiou o vitorioso Beto Richa? Em primeiro lugar, sem dúvida, as apontadas incongruências políticas do adversário, que soube explorar ao longo da campanha. Em segundo, sua pregação de que representava o "novo" – muito embora, contraditoriamente, seu discurso, suas propostas, seguissem sempre o cansativo diapasão do déjà vu – a começar pela repetição das promessas, quase tão insistente quanto as de Osmar, de que continuaria e até ampliaria os programas (incluindo os assistencialistas) de Requião e Lula.

Além disso, contou a seu favor a tendência tradicionalmente mais conservadora do eleitorado paranaense. A mesma onda que colocou o presidenciável José Serra em primeiro lugar no Paraná, com 44% dos votos, sobrepujando os 39% dados a Dilma Roussef, também serviu para consagrar Beto Richa.

A tais fatores somaram-se outros para favorecer a estrela do governador eleito. Quando todas as evidências demonstravam um declínio em sua campanha e correspondente avanço do adversário, eis que surge o escândalo Erenice Guerra para estancar a sangria. Ninguém pôde medir a extensão do declínio, porque, a partir de então, veio a esperteza de barrar todas as pesquisas eleitorais que seriam realizadas. Alcançou o efeito pretendido: jogou um balde de água fria na campanha de Osmar Dias, no momento em que ela pretendia mostrar força, e evitou a evasão de adeptos da sua.

A sorte – ou competência – de Beto Richa em sua briga contra as pesquisas ficou patente no dia da eleição: as únicas sondagens que escaparam da degola – as do Ibope da véspera e a da boca de urna – erraram muito além da margem admitida. Foi à Jus­­tiça sob a alegação de que os institutos cometiam erros de metodologia, foi acusado de censor pela imprensa nacional – mas acabou salvo pelo gongo final das urnas, que desmentiram as pesquisas.

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