Quando ministro da Agricultura no governo Lula, o deputado Reinhold Stephanes provocou anos atrás ataques de erisipela entre políticos e líderes rurais brasileiros ao declarar que a Rússia tinha razão em embargar as carnes que importava do Brasil na época. Os russos alegavam as más condições sanitárias da nossa produção, que punham em risco a saúde dos seus consumidores.
Em meio à revolta tupiniquim, no entanto, desenvolviam-se negociações amistosas entre o Ministério da Agricultura e as autoridades russas para liberar o comércio da carne. Medidas sanitárias exigidas pelo importador foram adotadas e, em seguida, quase 300 fazendas de produção de suínos, bovinos e frangos, além de quase uma centena de frigoríficos, conseguiram a certificação necessária para reiniciar as exportações.
De lá para cá, porém, as condições voltaram a piorar resultado da decadência dos serviços de fiscalização veterinária no Brasil. Por isso, anteontem, a Rússia confirmou a decisão de não mais comprar carnes produzidas no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso, por tempo indefinido. O Paraná é o estado mais prejudicado, tanto em número de estabelecimentos colocados sob suspeição quanto em valor das exportações nada menos de 100 milhões de dólares por ano de prejuízo.
A reação brasileira, desta feita, ao contrário do que fez o então ministro Stephanes, foi a de declarar guerra aos russos, acusando-os de realizar manobras burocráticas visando a deprimir os preços. Os tiros foram respondidos imediatamente com uma saraivada: em nota oficial, o governo russo disse sentir uma "grande lástima" pelo fato de o governo brasileiro ter "desencadeado na imprensa" uma "ampla campanha informativa, acusando a Rússia de protecionismo e falta de objetividade".
As negociações estão emperradas, apesar das afirmações brasileiras de que já teria posto em prática as recomendações do maior e mais tradicional importador das carnes brasileiras. Tudo porque faltou "manha" diplomática na condução das negociações.
Enquanto isso, na Secretaria da Agricultura...
Enquanto isso, prossegue a guerra intestina que travam os funcionários da Secretaria da Agricultura encarregados da fiscalização sanitária contra o projeto do governo do estado que pretende transformar o setor numa nova autarquia. Agrônomos e veterinários do Departamento de Fiscalização da Seab acusam o projeto de criar muitos cargos e de não garantir maior eficiência aos serviços de fiscalização exatamente estes que os russos dizem ser precários e causadores do embargo que impuseram às carnes produzidas no Paraná.
O governador Beto Richa já está ciente das críticas ao projeto de criação da nova autarquia a Adapar, Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Paraná. Um manifesto assinado pela Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa) chegou às suas mãos na semana passada. O documento aponta os defeitos da proposta e pede mudanças antes de ser enviada à Assembleia Legislativa para aprovação.



